8 - Morte

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Eu não sentia mais nada, era como se meu corpo estivesse desligado por completo. Meus olhos, por mais que abertos, não conseguiam visualizar o mundo ao meu redor e meus ouvidos apenas escutavam o silêncio da escuridão. Minha mente estava se adorcemendo e o único sentimento que eu sentia era a paz, que se alastrava pelo meu corpo de forma lenta, imutável. Esse não era o meu plano, eu não pretendia que meus últimos dias fossem assim, mas o amor, mais uma vez, me decepcionou. Minhas opções eram limitadas e deixar que Morgana tomasse posse de mim era o único jeito para que eu pudesse ter a felicidade que tanto procurei.

Tudo ao meu redor desapareceu e eu não tinha mais controle sobre a minha matéria, tudo em mim estava se desligando a cada segundo que se passava. Eu não sentia dor, não sentia angústia, tampouco tristeza. Era como um paraíso, sem mágoas e sem ninguém.

Primeiro, meus sentidos desapareceriam, depois meu corpo se fundiria com Morgana, tornando-se um só, mas minha alma seria redirecionada para algum lugar calmo, onde houvesse apenas eu e o silêncio, e, por fim, minha mente seria destruída e despedaçada em pequenas partículas de memórias que seriam guardadas em algum lugar que eu preferia não saber onde. Eu já estava no último estágio, eu já estava pronta para deixar o mundo físico e apenas existir em algum lugar no qual nunca me encontrariam, mas eu ouvi uma voz, aquela voz.

"Kalista, Kalista, Kalista..."

Eu nem me sentia viva naquele momento, tudo em mim estava prester a ramificar, mas eu consegui ouvi-lo e reconhecer sua voz no minuto em que a ouvi.

Eu abri meus olhos com as últimas forças que ainda me restavam e pude vê-lo em minha frente, mas éramos só nós dois ali. Apenas eu e ele, num espaço frio e vazio, tão solitário quanto nossos corações, mas havia brilho em seus olhos, uma pequena e profunda luz de esperança que iluminava o escuro e que me fez sentir naquele momento uma eterna sensação de êxtase. Ele estava ali perante meus olhos, olhando não só a minha face, mas tudo por traz dela, mas só pude ter certeza quando senti sua mão tocar meu rosto de forma lenta e calma, procurando a única parte de mim que ainda queria ficar naquela realidade tão trágica.

"Eu preciso que você fique..."

Seus olhos não transmitiam nenhuma emoção, seus sentimentos ainda estavam retidos em algum lugar em seu corpo, implorando para serem libertos. Somos tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo, mas nos conhecemos tão bem. As mentiras que contamos apenas ocultava a verdade que estava sempre perante nossos olhos e agora eu podia finalmente ver.

- Você está realmente aqui? - Admiro os detalhes de rosto, os pequenos e deleites detalhes que me fizeram acreditar que ainda havia uma esperança, prezando por cada segundo que o sentia comigo.

- Acha que sou um clone? - Um sorriso mínimo e sincero cobre seus lábios e seus olhos se fecham por um momento. - Eu não acredito que você vai mesmo deixar essa coisa viver no seu lugar. - Sua voz se torna fraca, cansada, mas suas palavras ainda continuam firmes, com um objetivo a atingir. - O que vai acontecer com você? Você vai morrer? Dormir para sempre? Vai ir para outro mundo?

- Por que você ainda se importa? - Seguro sua mão, a afastando do meu rosto. - Eu não posso mais ficar aqui, eu não pertenço mais a esse lugar.

- Eu quero que você fique, eu preciso... - Não consigo mais ouvir sua voz, ela se torna muda aos meus ouvidos. Meu tempo estava acabando, minha mente já deveria estar em outro lugar, mas usei as forças que ainda me restavam para deixá-la presa aqui. Meu corpo estava rejeitando a troca e Morgana estava a acelerando a nossa fusão, o que me deixava cada vez mais fraca. Se eu esperasse mais, eu acabaria morrendo. - Kalista, está me ouvindo?

- Eu não consigo te ver... - Minha visão escurece mais uma vez e eu não consigo mais sentir a presença de Loki ali, era como se ele havia desaparecido. Minha matéria se sobrecarrega e eu não consigo mais suportar o peso do meu corpo. Meus joelhos caem ao chão, abatidos, e mesmo assim não consigo sentir a dor do impacto, eu não conseguia sentir nada. - Loki? Você está aí? Eu não consigo te ver! - Um tornado de pânico e ansiedade invade meu peito e se dissemina por todo o meu corpo, mas só age de forma brutal quando chega à minha garganta, que é tomada totalmente pela falta de ar. Era como uma sensação de engasgo, mas o ar não entrava e nem saía, respirar se tornou um desejo e, apesar das quase improváveis chances, eu continuei resistindo, implorando para que algum sinal que seja me fizesse voltar novamente à vida, mesmo sabendo que a morte já havia chegado para mim.

Eu não sentia mais nada. Absolutamente nada. Eu não vi nenhum túnel, nenhuma luz, nem mesmo algum Deus para me dizer que o inferno seria a minha nova casa, eu simplesmente estava ali, em lugar nenhum, completamente inconsciente. Meu corpo não respondia mais aos meus comandos, minhas mãos já não tocavam o chão e minha mente não conseguia mais transmitir nenhum pensamento ou emoção sequer. Eu estava morta. Completamente morta.

Mas ainda não era o fim.

"Eu te amo"

Aquilo foi como uma experiência única jamais vivida, foi como um sonho se tornando realidade, foi como a minha renascença e redenção chegasse no último momento, foi a única coisa que ouvi e a única coisa que me fez sentir viva novamente. Eu estava viva novamente, mais viva que qualquer outro dia da minha extensa existência.

Então, eu abri meus olhos.

Suas mãos seguravam meu corpo jogado ao chão e suas lágrimas foram a primeira coisa que senti, caíram sobre meu rosto e escorreram junto às minhas, formando um caminho de conforto e paz até caírem, finalmente, sobre o chão.

- Eu consigo te ver... - Minhas palavras saíram como um suspiro de alívio e emoção. Toco seu rosto, sentindo sua pele macia em minha palma, agradecendo em minha mente por ter a oportunidade de vê-lo mais uma vez. - Eu sinto você.

- Eu achei que tivesse te perdido. - Sua mão se move lenta em meu rosto, arrastando seus dedos em minha pele, e seus olhos acompanham os meus, lento e apaixonado. - Você me deu um susto. - Ele suspira, sorrindo.

- Loki... - Meus olhos seguem o caminho até sua boca e ele retribui o olhar. - Eu...

- Não fala nada, você está parecendo uma morta-viva, é melhor não se esforçar pra não acabar morrer de novo. - Nós rimos. - Não quero te ver morrer de novo. - Apesar de não demonstrar, sei que ele está imaginando a cena em que morri, quando fui deixada em seus braços, já sem vida.

- Você disse que me ama. - Mudo o assunto, direcionando a conversa para a parte menos dolorida.

- É, eu disse. - Ele confirma e eu sorrio, envergonhada.

- Diz de novo.

- Não.

- Diz de novo, se não eu morro.

- Engraçadinha.

- Eu preciso te ouvir dizer que me ama pra eu poder dizer que também te amo. É assim que os casais fazem aqui, não é?

- Somos um casal agora? - Ele me olha com malícia, mas ignoro. - Eita...

- Você disse que me ama, idiota, somos o que? Irmãos?

- Ok, ok, eu te amo, Kalista, eu te amo.

- Eu também... - Nosso momento romântico chega ao fim assim que ouço um choro estranho atrás de nós, alto e bizarro. Era o Thor. - Você está chorando?

- Não. - As lágrimas caíam sem parar em seu rosto, quase infinitas. - Desculpem, continuem. Eu só preciso de um tempo, estou muito emocionado. Continuem, por favor, eu não  estou aqui.

- Sério, irmão? - Loki quase o mata com o olhar e a cena se torna humorística, acabo rindo. - Não vamos conseguir privacidade aqui, vamos conversar no quarto.

FEAR - LOKIOnde histórias criam vida. Descubra agora