2 - Eu não sei quem você é

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KALISTA

Notas leves, toques simples, uma música suave era produzida pelo pianista enquanto as pessoas dançavam com seus pares ao redor do trono do rei. Era uma festa, mas parecia um baile, pois os homens dançavam apaixonados com suas amadas e os olhares que trocavam eram tão verdadeiros quanto a noite que cobria o céu de Asgard.

Era o primeiro baile que eu ia em toda a minha vida, confesso que eu queria poder dançar como as outras damas, aproveitar a noite como todos os outros, mas minhas mãos estavam presas à correntes mágicas e meu corpo estava detido em uma cadeira de ouro. Mas eu não estava totalmente entediada, os pilares do Castelo davam uma vista imensa do céu escuro e as estrelas destacavam-se entre a noite. Eram tão lindas, tão mágicas. As esferas de plasma brilhavam e iluminavam meus olhos, me mantinha sã e me deixavam confortável, mesmo nas piores situações. Eu gosto de imagina-las como minha mãe, é reconfortante, apesar de trágico.

Mas as estrelas não eram as únicas que chamaram a minha atenção naquela noite. Loki, o deus da mentira, um homem curioso e misterioso ao mesmo tempo. Eu não o conhecia, nem sequer havia o visto fora de Asgard, mas eu sabia que ele guardava segredos que não podia contar, eu sentia seu medo, e isso me intrigava. Eu não sei quais são as suas ambições, mas ele parece não desistir até ter o que quer.

Eu o vejo do outro lado do Salão, o observo. Algo nele me chama a atenção, talvez sua aparência, ou seus segredos, mas eu preciso descobrir o que há por trás daquela personalidade falsa que ele criou para si mesmo.

O vejo se aproximar, se afastando das mulheres que o cobiçavam.

- Kalista. - Ele profere meu nome, bebendo um gole do vinho que segurava em suas mãos.

- Loki. - O digo, encarando seus olhos profundos, procurando alguma emoção para que eu pudesse acessar sua mente, mas ele... me bloqueou. Como ele fez isso?

- Está tentando entrar na minha mente, não é? - Como ele sabe? - Eu te observei na cela, eu vi como me olhava e percebi que seus olhos ficam mais escuros quando você encara alguém. Isso é magia. - Parece que Loki conhecia muito sobre magia, mas ele não parecia ser um bruxo. - Você olha para alguém, captura suas emoções e acessa sua mente, descobrindo sua vida, sua história, etc.

- Você é inteligente, Loki. Já vi que não será fácil descobrir seus segredos. - O provoco, mas só o que ele faz é rir.

- Por que você acha que eu estou escondendo alguma coisa?

- Você é o deus da mentira, por que não esconderia alguma coisa?

- Então, você também está escondendo alguma coisa, pois você é a deusa da mentira. - Seu rosto se aproxima de meu ouvido, ficamos a centímetros de distância. Sua respiração atinge meu pescoço e faz meus pelos se arrepiarem. - Eu sei que você está mentindo, eu sei que você não é o que diz ser. Você pode ter enganado Thor e Odin, mas eu vou descobrir a verdade. - Ele sussurra, se afasta e, então, me olha. - Vinho?

- Prefiro cerveja.

Loki aproxima suas mãos da corrente mágica que me prendia e as desfaz, libertando meus pulsos.

- Me segue. - Ele me chama. - E nem tente me matar, mocinha, seus poderes não funcionam em mim.

Mesmo com receio, decido seguí-lo. As pessoas nos encaravam com curiosidade e medo, mas optei por ignorar os tantos olhares. Sou guiada por Loki até o outro lado do Salão, onde saímos pelos fundos do Castelo, passando por um corredor largo e extenso que não levava a lugar nenhum. Suas paredes eram de ouro, seus enfeites de diamantes e em cada metro haviam quadros da Família Real. Loki aparecia em quase todos eles, sempre com a mesma expressão, sempre com o mesmo olhar. Ele era realmente misterioso.

- Você gosta de montanhas? - Ele pergunta.

- São bonitas, mas a verdadeira beleza está acima delas. - Respondo, ainda curiosa para saber onde estávamos indo. - Por que? Vai me dar uma de presente?

- Ótimo. - Chegamos ao final do corredor, só havia uma parede e nada mais além disso. - Vou te mostrar um lugar secreto.

Loki eleva sua mão até a parede de ouro e fecha seus olhos por um momento. Um vento forte e rápido nos atinge e o ouro some aos poucos. A parede se desfaz, revelando um espaço perfeito, o alto de uma montanha.

- Isso... Isso é uma montanha? Atrás de uma parede? - Pergunto, incrédula. Estávamos no pico de uma montanha, no alto de Asgard. - Isso é incrível... e estranho.

- Asgard fica no alto de uma montanha, a mais alta delas. Eu descobri esse lugar quando eu era criança. Acabei quebrando essa parede em uma das minhas brincadeiras e pedi ajuda a minha mãe para cobrir a parede com magia para que ninguém percebesse.

- Sua mãe pratica magia? Deve ser por isso que você conhece tanto sobre.

- Ela lia livros de magia pra mim quando eu era pequeno. - Atravessamos os destroços da parede, chegando no limite do alto da montanha. - Eu vi o jeito que você olhou para o céu lá no Salão. Você gosta do céu?

- Não exatamente do céu, mas de tudo que tem nele. Não que isso te interesse. - Me sento no gramado, descansando meu corpo sobre a terra verde. - Eu me sinto sozinha o tempo todo, não que isso seja algo ruim para mim, mas é estressante o jeito que todas essas pessoas me olham. Elas me vêem como um monstro, elas nem sabem quem eu sou. Isso me deixa nervosa, me faz reagir como o monstro que acham que eu sou. Mas quando eu olho para o céu... eu consigo vê-los, eu consigo sentir suas energias e eu sinto que eles me conhecem, eles sabem quem eu sou.

- E você se considera um monstro? - Loki se senta ao meu lado, mas mantém seu olhar no céu. - Você acha que eles estão certos?

- Você acha? - Pergunto.

- Não.

O olho, não sei dizer se ele estava sendo sincero ou se estava apenas me manipulando, mas desejei acreditar que aquela conversa estava sendo verdadeira, pois, pela primeira vez, eu consegui falar o que estava sentindo pra alguém, eu consegui falar a minha dor. Foi reconfortante, mas eu não sabia se era seguro confiar nele.

- Eu não te vejo como um monstro, mas eu posso estar errado. Eu não sei quem você é e você não quer me falar a verdade. - Por que ele tem tanta certeza que eu estou mentindo? - Demonsbleck, Érebo, humanos... É uma boa história, mas eu sei que a protagonista não é você.

- E você? - Viro o jogo. - Você também esconde alguma coisa, ou acha que eu não notei? Você tem tudo o que quer. Você tem pais que te amam, você tem um irmão que te adora, você tem uma família unida e várias mulheres na palma da sua mão, mas você não é feliz. Você quer alguma coisa, você quer mostrar algo, mas tem medo, receio.

- E o que será?

- Eu não sou idiota, Loki. Você está tentando me derrubar, mas estamos no mesmo barco. Se eu cair, você vem comigo.

- Então, você admite que a Kalista que você diz ser não é exatamente quem você é?

- Eu sou quem você está vendo, basta acreditar ou não. - Me levanto, finalizando a conversa. - Obrigada por me trazer aqui, foi bom enganar você mais uma vez. Até logo.

- Espera! - Sua mão me segura. - Me encontre aqui amanhã. Tenho algo para você.

FEAR - LOKIOnde histórias criam vida. Descubra agora