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Monstro. Era assim que as pessoas me viam em Asgard. Talvez fosse pela minha vestimenta marcante, ou pelas energias frias que meu corpo emanava, mas todos tinham receio de se aproximar, temendo que eu machucasse seus filhos, todos me olhavam como se eu fosse atacá-los a qualquer momento.
Menos ele.
Ele me via como alguém que guardava um segredo, mas, acima de tudo, apenas uma mulher. Isso me intrigava. Ele estava tão seguro de que eu escondia algo que nem se importava como as pessoas me enxergavam, pois, no fundo, ele sabia que éramos iguais. Mesmo com seu bloqueio mental, eu ainda conseguia sentir um único sentimento que Loki se esforçava para esconder. A solidão. Seus olhos não me transmitiam alegria ou qualquer sinônimo de conforto, eu apenas pressentia o sentimento se alastrar por seu corpo, era notável o quão desconfortável ele ficava para ocultar a verdade. Mas, apesar da nossa situação, não éramos totalmente diferentes. Haviam momentos tristes em que a solidão se tornava um meio para a liberdade e essa era a vantagem de sermos iguais, pensávamos da mesma forma, por isso nos entendíamos.
Meus pensamentos vastos se finalizam quando ele finalmente sai de cena, me deixando sozinha no alto da montanha. Aproveito e fico mais um pouco para aproveitar a vista, pois qualquer lugar era melhor que aquela cadeira no meio da multidão que me prenderam. Olho para cima, minhas vistas escurecem. O céu fica nublado, suas nuvens escondem as estrelas, mas eu não as declaro mortas, pois, além da camuflagem, sei que elas vivem acima dos céus. Fico me perguntando o que há além disso tudo, o que há de tão belo lá em cima que os Deuses preferem esconder de nós. Talvez, esse seja o sentido da vida, segredos. Todos sempre escondem algo, seja para proteção ou imunidade, e deve ser por isso que é tão difícil confiar em alguém.
- O que está fazendo aqui? - Uma voz grave, porém quase rouca, interfere em meus pensamentos e eu a reconheço. Thor. Me viro para ele, logo atrás de mim. - Achei que tinha fugido, mas vejo que achou o esconderijo de Loki.
- Esconderijo? Não sabia que seu irmão gostava de brincar de esconde-esconde. - Brinco, voltando a contemplar o céu.
- Ele vem aqui quando não está ocupado bajulando as moças solteiras de Asgard. - Ele se aproxima, deslocando-se até meu lado. - O que há de errado com vocês dois? Por que gostam tanto de olhar o céu? Não vejo nada de especial lá em cima.
- Irônico ouvir isso do deus do trovão. - Cruzo os braços. - O que você quer aqui? Veio me levar de volta àquela cela que costumam colocar os monstros.
- Pedi ao meu pai que deixasse você livre, não acho correto prender uma mulher em uma cela para bichos.
- Agora eu sou uma mulher? Até pouco tempo eu era uma criatura desconhecida. O que mudou?
- Kalista, serei sincero. Meu pai não confia em você, o povo não confia em você, nem mesmo o Loki parece confiar em você. Apesar do que você nos contou, achamos vestígios que comprovam que Demonsbleck realmente existiu, mas os deuses que você citou não estão em nenhum dos livros antigos que temos.
- Você salvou a Terra, salvou humanos que nem conhecia, até se apaixonou por um. Por que não pode me ajudar? Só estou pedindo ajuda para salvar meu povo.
- Minha mãe sentiu sua força, ela sentiu seu poder. Você é poderosa, pode destruir Asgard sem muito esforço. Você quer a nossa ajuda, mas tem poder suficiente para fazer isto sozinha. É difícil confiar nas intenções de alguém que pode nos matar em um estalar de dedos.
- Eu estava errada... - O encaro, procurando um meio de fugir daquela conversa. - Eu achava que era Loki quem precisava de redenção, mas vendo você de perto, acho que as intenções dele são bem melhores. - Dou meia-volta, seguindo pelo caminho de onde vim. - Não faça questão de me seguir, voltarei para a cela e irei embora ao amanhecer. Não ficarei mais nenhum dia com esses bastardos que chamam de povo.
LOKI
Eu a empurro contra a parede e, quando me dou conta, uma de suas mãos já apertavam com força meus cabelos. Seus dedos enrolavam-se em meus fios e seus lábios macios escorregavam-se entre os meus. Minha mão sobe até sua coxa e eu a seguro com força, arrancando um suspiro abafado de sua boca. Alice estava perdendo o foco.
- James irá perceber que eu não estou no Salão, eu preciso voltar. - Ela fala com dificuldade, mas pouco preocupada, pois seu desejo era maior. - Me deixe voltar aqui amanhã, sim? Meu namorado estará em uma viagem.
- Tenho um compromisso amanhã.
- Tudo bem... - Sua expressão se fecha e ela se afasta, mantendo uma distância segura de minhas mãos. - Eu... - Alice arruma seu vestido amarrotado e procura se recompor. - Eu já vou. Não posso demorar mais. Até outra vez. - Ela é rápida, sai de meus aposentos como um raio, não me dando chance para me despedir.
Alice e eu éramos amantes, nos conhecemos há séculos, mas nãos estávamos apaixonados, pelo menos eu não estava. Ela era noiva de um dos amigos de Thor, um dos motivos de termos ficado tão próximos, mas eu não conseguia sentir nada por ela, nem por ninguém. Odin sempre me disse para me casar e, apesar de Alice ter sido uma das minhas opções, me apaixonar sempre foi algo difícil. Para que amar apenas uma pessoa se podemos ter várias em nosso alcance? Estar sozinho é melhor do que ser propriedade de alguém.
Volto à cama e apago as velas que iluminavam o quarto.
Imagino os detalhes de seu rosto, visualizo cada parte de seu corpo e ouço sua voz como um sussurro em minha mente. Em qualquer lugar que eu estivesse, Kalista conseguia roubar meus pensamentos. A verdade era que eu não me importava com seus segredos, eu não me importava com quem Kalista realmente era, eu apenas queria saber o motivo de me sentir tão ligado a ela, saber o porquê da nossa conexão. Eu sinto sua mente, sinto sua dor. O vazio que a preenche também está dentro de mim, mas, por algum motivo, eu não o sinto quando estamos perto um do outro. Talvez ela possa ser a minha chave, o meu caminho para liberar o sentimento profundo e desconhecido que habita em mim.
Eu preciso de respostas.
Continua...
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FEAR - LOKI
FanfictionÉramos um só. Os ventos frios e intensos, a noite escura e sombria, eram parte de mim, me completavam. O dia me fazia disciplinado, roubava de mim as minhas melhores formas, me tornava apenas o irmão de Thor, filho adotivo de Odin, escondendo quem e...