Capítulo 1 | O Forasteiro.

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A Noite era fria.

A superfície na qual o rosto do forasteiro tocava estava fria e, para intensificar a baixa temperatura a grama encontrava-se úmida. Ele sabia qual tipo de vegetação era não só pelo tato, mas também pelo paladar: cuspiu. Ao abrir os olhos a primeira coisa que notou foi que a sua visão estava turva, como se tivesse tomado um porre na noite anterior e acordado com uma puta ressaca. Meus óculos ele pensou ao não sentir armação espremer seu rosto magricela. Desesperado por ser totalmente dependente dos óculos, ele começou a procurar em todos os lugares alcançáveis já que ainda estava no chão, e seus braços não eram tão longos. Por sorte e antes de começar a se debater na tentativa de encontra-los ele conseguiu os achar há poucos centímetros de onde seu corpo permanecia estirado. As lentes estavam molhadas, então ele as limpou e colocou os óculos no lugar que jamais deveriam ter saído.

Agora com uma visão mais clara do ambiente o garoto não reconheceu o lugar, e isso o deixou apreensivo já que reparou que sua única certeza era de estar totalmente sozinho na mata. O forasteiro não era de fazer caminhadas, ainda mais em uma floresta tão arbustiva como a que se projetava a sua frente, mesmo assim ele decidiu explorar o lugar.

A floresta de sequoias dançava ao ritmo dos fortes ventos gelados e a camisa xadrez do forasteiro não seria de grande utilidade contra o frio noturno e cortante que percorria seu corpo como uma navalha. Embora não soubesse por qual caminho percorrer ele precisava seguir em frente para poder se localizar. Mesmo com o medo borbulhando em seu estômago vazio ele pôde se sentir um pouco aliviado quando percebeu que calçava seu All-Stars azul e de cano alto, ou seja, a caminhada para ele não seria tão cansativa já que usava o tênis favorito. Abaixando-se a fim de apertar ainda mais os cadarços o forasteiro aproveitou o movimento para alongar suas pernas, pois não sabia ao certo o tamanho do percurso que faria. Prosseguiu com a exploração.

A floresta possuía uma densa vegetação arbustiva composta por samambaias, arborescentes, bromélias e palmeiras. As folhas largas das vegetações traziam um aspecto mais escuro à floresta, mas com ajuda do céu parcialmente estrelado e auxílio também da luz do grande astro noturno, a caminhada não seria impossível de se trilhar, ainda mais com as poderosas lentes de seus óculos que, por mais que parecessem com o fundo de uma garrafa de vidro, a sua visão estava boa para aquele momento. Imerso na beleza noturna da mata os ouvidos do rapaz captaram algo mais à frente. O som era familiar e ao mesmo tempo reconfortante, sendo impossível não sentir a leveza que o momento proporcionava, pois se tratava de um riacho. Um riacho? Pensou ele, tratando de ir mais rápido.

Com a ajuda de suas longas pernas ele rapidamente se aproximou do local e o cheiro de terra molhada lhe causou um conforto inenarrável. Diante do pequeno riacho que serpenteava floresta à dentro, grandes e pequenas rochas cobertas pela vegetação e a luz do luar tocando a superfície da água dava uma visão bela e surreal ao local, tanto que o forasteiro poderia ficar por horas naquele lugar vivaz, deixando que a água gelada adornasse os dedos de seus pés, mas, infelizmente, ele não podia perder tempo e precisava saber por que estava ali e onde era exatamente ali.

O vento impetuoso trazia consigo diferentes sons que misturados pareciam uma sinfonia assustadora, e não demorou muito para que o garoto sentisse que havia algo à espreita, deixando a clichê impressão de que estava sendo observado. Isso foi o suficiente para lhe causar um desconforto tão forte quanto um soco no estômago, foi então que, o pegando de surpresa e o deixando alarmado, o som de galhos secos quebrando-se às suas costas fizeram cada músculo de seu corpo se contrair do mais puro pavor que nunca sentiu antes. Suas pernas ficaram tão moles que quase não aguentaram seu próprio peso, visto que já não era grande coisa a ser pesado.

Guardiões de Éter - O Filho do ArcanjoOnde histórias criam vida. Descubra agora