Capítulo 16 | O Cadáver

1 0 0
                                    


Após a oração coletiva e a última despedida dos amigos e familiares, a esposa do falecido queria dizer algumas palavras. Ivan não protestou e nem podia, por conta do pânico generalizado que causaria ao dizer que o cadáver ainda não havia se tornado de fato um cadáver.

— Meus amados amigos... — Marta começou a dizer. Ela se aproximou da cova e olhou para o novo aposento de seu marido, pensando no que dizer. O coveiro estava suando frio e a cada minuto que passava, eram mais possíveis vítimas. — Hoje é um dia muito triste para cada um de nós, pois Olavo já não está mais aqui conosco.

Ok, muito triste, mas dá para ir logo? Isso é um enterro e não um comício!

Ivan era desbocado o suficiente para dizer a frase acima dado a urgência da situação, mas a ocasião merecia respeito, entretanto a inquietação de Ivan o tornava muito impaciente, sendo assim ele precisava pensar em algo que tornasse o enterro mais rápido.

A viúva continuou após enxugar as lágrimas e tomar um gole d'água de sua garrafinha descartável.

— Ele foi um ótimo esposo, pai de família dedicado e, acima de tudo, um ótimo amante. Ô si era! — Marta disse e umedeceu os lábios, deixando a todos constrangidos. O padre, um pouco impaciente, tossiu.

O agente Bravo procurava em sua mente maneiras de impedir que Olavo saísse do cemitério, pois àquela altura ele provavelmente despertaria com todos ali. Ele precisava de um plano para que a criatura não atravessasse os portões, senão seria um problema dos grandes.

A noite era quente e seu macacão, uniforme da funerária, estava molhado de suor, tudo isso para deixá-lo ainda mais desconfortável e irritado.

— Lembro-me de uma vez, quando Olavo e eu éramos jovens e completamente apaixonados um pelo outro — Marta disse, fazendo outra pequena pausa e engoliu o choro. O rosto de Ivan parecia um tomate, de tão vermelho. — Nós passamos a tarde inteira em um resort, se amando como nunca antes.

Cacete... ela só pode estar de brincadeira pensou Ivan, no limite de sua paciência.

O agente se apoiava em sua pá ao lado do amontoado de terra deixado pelos agentes responsáveis por cavarem a nova moradia dos mortos. Propositalmente, mas não a ponto de alguém desconfiar, ele deixou um bocado de terra cair na cova, mas o som da terra indo de encontro ao caixão chamou a atenção de todos.

— Merda. — Murmurou o agente, envergonhado com a ação não muito bem executada. Marta lhe lançou um olhar, mas não de desaprovação como havia feito antes com seu sobrinho, desta vez seu semblante era de quem havia acabado de fornecer informações demais. A viúva, agora de bochechas coradas, decidiu reviver suas lembranças amorosas quando estivesse sozinha, ou pelo menos não com mais de 30 pessoas por perto.

— Me desculpem. Eu sempre falo demais. — Ela comentou, ajeitando seus óculos escuros, mesmo estando à noite. Marta olhou uma última vez para o caixão e jogou uma bela rosa vermelha. A cena fez o coveiro se sentir um pouco mal por ter apressado as coisas, mas foi necessário.

Aos poucos o cemitério foi se esvaziando e o agente começou a jogar terra no buraco, não que isso resolvesse o problema do morto-vivo, mas era uma questão de disfarçar e ganhar tempo, pois Ivan precisaria pegar no furgão ferramentas mais apropriadas à ocasião.

Graças ao avanço tecnológico conquistado pelo departamento tecnológico da F.D.P, e com ajuda financeira disposta pelos países mais ricos do mundo, os agentes contam com um vasto catálogo de ferramentas especiais que os ajudam a neutralizar ou destruir seus inimigos, com dispositivos altamente tecnológicos que parecem ter saído dos filmes de ficção de Hollywood, mas tudo isso só foi possível graças a Emanuel Silverino, ou como gostava de ser chamado, Agente Flitz, a mente por trás de toda a tecnologia da funerária. Graças a mente brilhante do agente Flitz a F.D.P se tornou necessária para a segurança mundial mesmo que sua atuação seja secreta.

Guardiões de Éter - O Filho do ArcanjoOnde histórias criam vida. Descubra agora