Capítulo 5 | Herói?

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   Otávio voltou para dentro do depósito à procura de algo para se defender, mas ali só havia caixas, enfeites, mercadorias para devolução e uma quantidade significativa de livros estragados por conta de um vazamento no encanamento no começo do ano. Revirando tudo, mas com bastante cuidado para não chamar atenção e ser pego, ele encontrou um taco de beisebol que poderia ser útil. Havia também o martelo em sua mão, mas ele só seria de real serventia se a ferramenta pudesse invocar raios e tempestades, ele não era digno de tal sorte.

— Deve servir. — Comentou, pegando o taco de beisebol. Sua mão, por incrível que pareça, não doeu por conta do ferimento, e logo pensou que seria por conta da adrenalina que sentia, já que nunca esteve em um assalto.

Segurando o bastão com firmeza ele notou que havia algo escrito na madeira, e quase se entregou em uma gargalhada quando viu a seguinte frase escrita à caneta: Para o total prazer do filho da puta do meu chefe. Otávio sabia exatamente o que o antigo funcionário passou nas mãos de Emílio e não o julgou, pois várias vezes teve vontade de ter um bastão de madeira para pôr o patrão para dormir por tempo indeterminado, ou, pegando mais pesado, uma colonoscopia sem anestesia e sem nenhum pingo de delicadeza.

Otávio caminhou lentamente até a porta do depósito e ficou ali, imóvel, quando de repente teve um Déjà vu. Lembrou-se do pesadelo que teve horas atrás, especificamente no momento em que teve seu peitoral perfurado por uma lâmina negra. Seu corpo, ligado no modo automático, sofreu um choque de adrenalina e, involuntariamente, se virou e golpeou o ar como se às suas costas o inimigo de fumaça o aguardasse novamente.

Calma cara! Foi só um sonho pensou, contando até dez e respirando fundo, deixando que a lucidez voltasse a sua mente.

— Cadê a porra do meu dinheiro! — Alguém gritou, de maneira raivosa, chamando a atenção do garoto que no mesmo instante foi verificar o andamento do assalto.

Abaixado atrás das caixas Otávio tinha uma visão privilegiada da loja. No total eram três homens fortemente armados e cada um deles ocultou a face com máscaras de icônicos personagens do cinema: Jason Voorhees, Freddy Krueger e o boneco assassino Chucky. Se não estivessem armados até os dentes e distribuindo palavrões à rodo, dava até para dizer que eles queriam doces e não a real travessura.

O dono da escopeta de cano serrado estava usando a máscara de Jason, o que Otávio achou bastante estranho, já que o serial Killer de Crystal Lake nunca precisou usar armas de fogo para trucidar suas vítimas, pois apenas com sua força sobre-humana ele quebrava ossos como se fossem galhos secos.

Pelo modo agressivo com que agia era fácil deduzir que ele era o chefe do trio.

Enquanto seus comparsas vasculhavam por todos os cantos revirando estantes por estante, Jason abordava Emílio. Sua voz era alta, então, para sorte de Otávio o rapaz não precisaria chegar mais perto para ouvir suas exigências.

— Diga logo seu engomadinho de bosta! Cadê o meu dinheiro??

— Mas eu já disse! Entreguei a maleta para o Patrício! Tome! — Emílio disse, entregando seu Rolex ao bandido. Jason deu um tapa em sua mão, deixando o relógio cair.

— Viram só rapazes! O filho da puta disse que deu a grana para o Patrício! — Jason disse aos seus aliados, rindo. — Quero saber como você fez isso se eu mesmo estourei os miolos dele há dois dias!

Seus capangas riram.

Emílio ia se abaixando para pegar seu relógio, mas desistiu quando o cano da arma tocou sua nuca.

— Não vou perguntar outra vez. Cadê a grana?

O cano da escopeta pressionava a cabeça de Emílio contra o balcão.

Guardiões de Éter - O Filho do ArcanjoOnde histórias criam vida. Descubra agora