Capítulo 7

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O alívio de voltar para a cozinha foi tanto que eu me desmontei em lágrimas no momento em que me sentei no banco da capela. Tanto que nem percebi a irmã Brígida sentando ao meu lado.

Novamente as orações cantadas me acalmaram, mesmo assim eu não conseguia juntar coragem para dizer a irmã Brígida que eu tinha falhado mais uma vez. Não precisei dizer. Uma breve troca de olhares foi o suficiente para ela saber.

- O que aconteceu?

Expliquei sobre meu esquecimento e recebi de novo o olhar reprovador levemente aliviado pelo sorriso sutil.

- Você precisa sempre estar atenta a tudo. Cada palavra conta quando se trata de obedecer ordens das Senhoras. Nenhuma palavra é em vão.

- Parece que eu nunca vou acertar...

- Não seja boba! Vamos preparar o almoço das nossas Senhoras.

Focar no trabalho ajudou, mas eu sabia que logo estaria servindo a Matriarca novamente e as pernas bambearam.

Servir o almoço foi mais fácil do que eu imaginava. O fato do serviço ser feito no salão junto com as outras irmãs me poupou dos olhares de reprovação e das palavras cortantes. Apenas servi, esperei que comesse e retirei os pratos. Após deixa-los na cozinha fui direto para a biblioteca como me foi ordenado.

Enquanto esperava eu passei os olhos pelas estantes e pelo trabalho das irmãs. Era tudo primoroso, não havia um pedaço de livro ou papiro que não tivesse sido escrito ou decorado com extremo esmero.

Aos poucos as irmãs foram voltando do almoço e retomando seus postos de trabalho e pude ver a habilidade impressionante de todas elas.

Depois de um tempo, a Senhora das Iluminuras veio ao meu encontro.

- Pensei ter dito que a irmã Brígida levaria os pergaminhos na oração da tarde.

- Disse sim Senhora, mas a Matriarca ordenou que eu viesse busca-los, pois o Monsenhor virá antes das orações.

- Nesse caso venha comigo, creio que já estão prontos para ser embalados.

Embora a Senhora tivesse uma aura de poder intenso e certamente tinha grande influência sobre sua serviçal, ela não me deixava tão desconfortável quanto a Matriarca. Provavelmente porque servi-la não era minha responsabilidade, mas também porque ela não me despertava aquele fogo incontrolável que a Senhora que eu servia despertava.

Ajudei a embalar os pergaminhos e segui meu rumo, já sentindo o calor subir e a boca secar.

Entrei na sala sem bater e estanquei na hora quando vi que a Matriarca não estava sozinha. Lá estava o Monsenhor com um certo ar de impaciência, conversando com ela sobre algum assunto burocrático que eu não compreendia.

- Não fique aí parada! O Monsenhor está aqui apenas aguardando os pergaminhos.

Me adiantei para entregá-los ao mesmo tempo em que ele estendeu o braço. Houve uma certa confusão desajeitada e ele acabou esbarrando a mão no meu quadril por acidente. Me retraí por instinto e os pergaminhos foram ao chão.

O olhar da mulher sentada teria me cortado em milhões de pedaços se isso fosse possível. Ajoelhei apressada para recolher o pacote dos pés do Monsenhor, Quando levantei para entrega-lo meu olhar cruzou com o dele e meu coração quase saiu pela boca.

Meu rosto ferveu instantaneamente, entreguei o pacote sem coragem de olhá-lo nos olhos novamente e me afastei o mais rápido que eu pude.

A Matriarca fez um gesto para que eu saísse da sala e não precisei pensar duas vezes para obedecer.

A Guardiã da VirtudeOnde histórias criam vida. Descubra agora