Fazia dois dias que eu estava no claustro. O aposento minúsculo não tinha janelas e contava apenas com um colchão de palha no chão e um balde para as necessidades.
Não que eu pudesse fazer minhas necessidades com liberdade. Por ordem da Matriarca, eu usava por baixo da túnica um pesado cinto de castidade fechado por um cadeado.
Além do inconveniente de ter que aguardar que a irmã de plantão viesse abrir o cinto nos horários determinados para eu me aliviar, o incomodo que ele causava era enorme. Principalmente depois de ter me habituado a circular sem as roupas de baixo.
Mas eu tinha consciência de que era um incômodo necessário. A ordem da Matriarca era que eu passasse os meus dias de claustro pensando nas minhas fraquezas. Eu devia lembrar de todos os momentos em que eu sucumbi ao ímpeto da luxúria, refletir e orar. Mas somente a lembrança já fazia acender o fogo que começava entre as minhas pernas e dominava todo o meu corpo.
Felizmente o pesado cinto me impedia de me tocar, mas refletir e orar era uma tarefa quase impossível.
Os únicos momentos em que eu conseguia orar em paz, era quando o sino tocava e eu ouvia o distante rumor dos cânticos entoados pelas irmãs no salão. Nessas horas eu ajoelhava no chão áspero da minha cela e encontrava a paz entoando as orações junto com as minhas irmãs.
Eu passava boa parte do dia de joelhos no chão, buscando a reflexão que me fora ordenada, só me levantava nos horários de abrir o cinto de castidade e quando recebia minhas parcas rações de pão e água, duas vezes ao dia.
Por volta do quarto dia, meus joelhos apresentavam penosas marcas esfoladas pelo chão rustico. Eu também tinha o corpo todo dolorido pela contrição física e pelo sono inquieto no colchão desconfortável. Mas eu me mantinha firme no propósito de seguir o que me fora ordenado, mesmo com as dores se tornando cada vez mais presentes e intensas.
Conforme o tempo passava, limpar a mente ficava mais fácil e eu sentia realmente estar extirpando de mim o fogo da luxúria. Até que no penúltimo dia de claustro eu recebi a visita do Monsenhor.
Pouco antes de tocar o sino das orações da tarde, ouvi o ferrolho da porta. Me levantei surpresa pois não era momento de ninguém entrar.
Fiquei mais surpresa ainda de ver entrar o clérigo que era o motivo maior da minha reclusão no claustro. Demorei um tempo até me lembrar que a Matriarca tinha dito que ele viria.
Fiquei olhando para ele com a boca meio aberta me sentindo terrivelmente inadequada com os cabelos desgrenhados e a túnica suja marcada pelo volume do cinto de castidade. Acima de tudo eu era uma menina com o espírito quebrado, incapaz de olhá-lo nos olhos.
Em oposição a minha patética figura, estava diante de mim um homem altivo e enérgico, com o olhar firme e a batina perfeita arrematada pelo mesmo cordão de couro trançado que as Senhoras do convento usavam.
Para completar o meu desconforto, a porta da minha cela foi fechada no exato momento em que os sinos tocaram convocando para as orações. Eu nunca tinha ficado sozinha na presença de um homem antes e eu sentia ser absurdamente inadequado aquela situação naquele momento.
- A senhorita tem algo a me dizer?
O tom de voz era firme, porém nem de longe tão gelado quanto o da Matriarca. Ainda assim era bastante intimidador. Eu mantinha os olhos no chão e respondi baixinho, como se quisesse sumir.
- Perdão pela confusão Senhor e também pelo atraso e pela trapalhada da primeira vez. Foram acidentes e eu não tive intenção de causar transtornos.
Ele deu um largo passo em minha direção e eu me encolhi. Pelo pequeno tamanho da cela eu acabei quase encostada na parede. Ele segurou meu rosto me obrigou a olhá-lo nos olhos. O rosto parecia sereno mas o olhar era puro gelo.
- A senhorita tem certeza que não tem nada mais a pedir perdão?
Mesmo com ele segurando meu rosto eu desviava o olhar. Encará-lo de frente me fazia corar e ferver por dentro exatamente como da primeira vez. Toda a reflexão dos dias de claustro caiu por terra em um instante.
Como um lembrete longínquo da minha incapacidade de me manter casta, os cânticos de oração das irmãs ressoavam fazendo vibrar as paredes ao meu redor.
- Eu... eu fui... fraca... Senhor... mas... eu não sucumbi... eu me arrependi... afastei de mim... o ímpeto da luxúria...
As palavras saíam, mas quanto mais eu jurava ter afastado o fogo, mais ele crescia. O Monsenhor segurava meu rosto com o corpo muito próximo ao meu, eu estava presa entre ele e a parede. O algodão cru da túnica roçava nos meus seios endurecendo os mamilos, eu mal conseguia respirar.
Algo em mim denunciou ao Monsenhor meu estado interno. A mão dele foi certeira encontrar o mamilo rijo que foi torcido sem misericórdia, me arrancando um gemido profundo e fazendo as lagrimas brotarem.
- A senhorita tem certeza que afastou?
Eu não era capaz de responder.
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A Guardiã da Virtude
FantasyUma jovem noviça vai em busca de seu destino em um convento cheio de mistério e provações. É dentro dela que precisa encontrar as forças verdadeiras para prosseguir.