Capítulo 8

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A irmã Agnes estava a caminho das orações da tarde e acabou por me encontrar do lado de fora da sala da Matriarca, ainda chorando e tremendo.

Mais uma vez ela tinha palavras que me ajudaram a acalmar. Era apenas meu primeiro dia de serviço, eu precisava ter paciência e confiar.

Seguimos juntas para o grande salão. Tomei meu lugar no banco das noviças e a irmã Agnes seguiu para a mesa principal. Só então me dei conta que ela era a irmã que tinha dado os avisos na noite anterior, ela também era a responsável por chefiar a cozinha e por conduzir as orações na pequena capela. Ela era uma das irmãs que usava o cordão na cintura.

As outras irmãs foram chegando e as noviças ocupando o banco ao meu lado, percebi que uma delas tinha também o rosto vermelho e os olhos inchados, Além disso parecia estar com dificuldade para sentar.

Como ninguém perguntou o que tinha acontecido, não me senti confortável em perguntar. Só me senti um pouco menos angustiada de não estar sendo a única a ter um dia horrível.

A Matriarca conduziu as orações da tarde com a voz que vibrava fundo dentro de mim. Ela levava os cânticos com uma energia que parecia tocar internamente todas as mulheres ali presentes. Não era a toa que ela ocupava aquele posto, até as irmãs com o cordão se inspiravam nela.

Após as orações a irmã Brígida me chamou e fomos juntas cuidar dos quartos das nossas Senhoras. Ela me explicou como fazer a limpeza, cuidar do serviço de lavanderia e organizar o que precisava ser organizado. Também me mostrou um pouco mais das instalações e do funcionamento do convento.

Aos poucos eu ia começando a entender os pormenores do que seria a minha rotina a serviço da Matriarca. Não podia deixar de ficar apreensiva com a quantidade de detalhes e com o nível de exigência da mulher que eu estava destinada a servir.

Eu sentia na irmã Brígida um senso de comprometimento e propósito que me inspirava. Ela transbordava devoção. Ficava claro que, mesmo estando a serviço de uma única pessoa, ela sabia que o propósito de servir no convento excedia esse limite.

De repente me senti imensamente grata por estar lá com aquela mulher me orientando. Tanto que nem me dei conta que não tinha cruzado o caminho da Matriarca desde o incidente com o Monsenhor e já tinha chegado a hora das orações da noite.

Talvez eu tivesse uma noite de sono mais tranquila e o dia seguinte começasse melhor.

Após os avisos finais da irmã Agnes, eu me preparava para seguir ao quarto com a irmã Brígida quando a voz que me gelava por dentro soou bem perto de mim.

- Noviça! Faça um chá e leve até a minha sala.

- Sim Senhora.

Todas as minhas esperanças de uma noite de sono tranquila derreteram no chão do salão naquele momento.

As pernas trêmulas e o calor entre elas estavam se tornando uma sensação tão constante que começava a não ser mais surpresa. Mas não deixava de me desconcertar profundamente.

Será que algum dia esse chá ia deixar de ser uma pedra no meu caminho? Eu esperava que sim, mas naquele momento era praticamente uma muralha. Lá fui eu para o meu inevitável e humilhante suplício por conta de uma xícara de água quente com especiarias.

Segui as instruções do cartão com a maior precisão que eu considerava possível e fiz o caminho até a sala que estava começando a se tornar o foco de todas as minhas inseguranças. Só de pensar em abrir a porta minha mão já tremia.

A Matriarca me aguardava de pé em frente a mesa com a expressão fria que me fazia querer correr dali. Eu mal entrei e já recebi um ordem.

- Ajoelhe-se!

Não tinha espeço para pensar. Ajoelhei no meio da sala tomando o maior cuidado para não derrubar a xícara da bandeja. Meu coração batia com tanta força que eu via o chá tremer.

Ela passou calmamente por mim ignorando a minha presença, fechou a porta e girou a chave com firmeza.

Quando voltou ela passou tão perto de mim que eu pude sentir o odor que ela exalava. O fogo dentro de mim se acendeu e baixei os olhos com o rosto em chamas.

- Me entregue o chá!

Levantei a bandeja sem olhá-la nos olhos. Repousei as mãos sobre as coxas e aguardei. Um vulcão impiedoso explodia dentro de mim.

A Guardiã da VirtudeOnde histórias criam vida. Descubra agora