Prólogo

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PRÓLOGO

"A felicidade não existe, o que existe

são momentos felizes." – Carlos Kasperowicz

JEON JUNGKOOK

Lembranças são perturbadoras, tanto as boas quanto as ruins, no meu caso horríveis. Sempre vou recordar do dia em que minha vida virou de ponta cabeça e eu perdi absolutamente tudo que tinha. Na verdade, desde que nasci eu apenas perdi tudo ao meu redor.

Eu não posso descrever a lembrança de perder meu pai, porque eu não a tenho, mas possuo em minha mente de forma bem clara todas as vezes que a minha mãe, também conhecida como pessoa que mais amei, chorava me abraçando e dizendo que seria mais fácil caso aquele homem estivesse aqui. Eu não concordo, ele a abandonou assim que eu nasci, não teve ao menos coragem de aguentar as consequências dos seus próprios atos.

Minha mãe tinha apenas quinze anos quando eu nasci, ela não merecia perder a única pessoa que estava ao seu lado durante a gravidez complicada que teve. Meus avôs, tanto paternos quanto maternos, eu não cheguei a conhecer, apenas meu padrinho que acabei conhecendo dentro da família.

Padrinho, este, que também vim a perder. Ele era como um pai para minha mãe e foi como o avô que nunca tive, me ensinou a jogar bola, andar de bicicleta, e tirar fotografias. Foi com ele que eu aprendi as melhores maneiras de se retratar uma bela imagem em uma câmera.

Meu mundo ficou cinza quando ele partiu, por sorte foi durante a noite, ele apenas dormiu e nunca mais acordou, sem sofrimento. Acredite, é difícil superar a morte de um ente querido, mas é um bom consolo saber que a morte não o feriu, além de ter certeza que ele aproveitou muito bem seus quase oitenta anos de idade.

Isso não significa que ele não faça falta, apenas que a dor passou e a única coisa que restou foi a enorme saudade.

Eu não era uma criança muito sociável, e ao perder meu padrinho na adolescência isso só veio a piorar. Eu tentava recuperar as cores do meu mundo com a ajuda da minha mãe, mas ela passava mais tempo no trabalho do que em casa e eu mal tinha tempo de ter uma conversa com ela.

Até os meus dezoito anos eu dormia junto com ela, não por temer dormir sozinho, mas por ser o único momento em que ela estava em casa. Eu tenho muito orgulho da minha mãe, porque apesar das dificuldades em me criar estando sozinha, ela ainda conseguiu ser brava o bastante para se formar em medicina, e ela era a melhor médica. Além, claro, de ser a melhor mãe.

Como eu não era muito sociável, as amizades que eu fazia eu logo perdia. Ninguém aguentava uma criança que não brincava e com o passar do tempo um adolescente incomum aos olhos dos outros. Eu não fazia o que adolescentes comuns faziam, eu não ia a festas, não bebia, não saía por aí beijando qualquer boca que surgisse.

Quando eu tinha dezessete anos eu experimentei a sensação de namorar, durou três meses, a menina era adorável quando estava só comigo, mas quando estávamos perto de outras pessoas ela fingia que nem me conhecia. Eu aguentei algumas semanas após perceber isso, mas cansei e acabei terminando; ela não me fazia bem.

Em uma noite de chuva que minha mãe ficou presa no trabalho eu acabei indo experimentar a sensação de estar em uma festa, infelizmente colocaram algo estranho em minha bebida e eu acabei na cama com uma garota, a qual no dia seguinte eu nem mesmo lembrava o nome.

Me senti mal por aquilo, a menina chorou horrores e eu apenas tentei me desculpar. Mesmo tendo sido criado com todos os mimos que eu pudesse desejar e ter dinheiro para fazer o que bem entendesse, eu não era mesquinho, nem um babaca qualquer com as pessoas. Eu era até doce demais para com os outros.

E foi então que seis meses atrás tudo desabou de vez. Eu tinha recém feito vinte e um anos, estava iniciando o terceiro semestre da minha tão amada faculdade de fotografia e havia levado minha mãe para jantar comigo, era aniversário dela, exatamente uma semana após o meu. A noite estava tranquila, nosso jantar mais ainda.

Era sempre bom passar tempo com ela, porque nos divertíamos juntos o tempo inteiro. Cinco minutos já valiam como se fossem horas, porque nossos momentos assim eram raros. Ela normalmente precisaria voltar correndo para o hospital para resolver algum assunto pendente.

Na volta para casa a mais velha estava com sono, então eu disse que ela poderia descansar que eu a acordaria quando chegássemos. É mesmo uma pena que nunca tenhamos chegado a lugar algum.

Eu estava prestando atenção na estrada, não tinha nenhum som que me distraísse, não havia nada que pudesse chamar minha atenção, exceto um maldito caminhão que vinha na contramão. Se ele continuasse na velocidade que estava iria bater com tudo na frente do carro e talvez nenhum de nós ali dentro sobrevivesse, então a única coisa que eu raciocinei a fazer foi puxar o carro para o lado.

Eu só não contava que outro carro estivesse vindo também, acertando com força o lado que minha mãe estava.

Tudo começou a passar na frente dos meus olhos em câmera lenta, o corte na minha mão e perto do olho não me importava, só o fato de que ela estava com o rosto vertendo sangue, o vidro quebrou em cima dela.

Nunca vou conseguir tirar da minha cabeça ela me explicando em seus últimos momentos que as costelas estavam espremendo seu pulmão, ela não conseguia respirar, mas aguentou firme enquanto eu ligava para a ambulância, e ainda conseguiu dizer as palavras que sempre vão ficar em minha mente:

"Você é a pessoa mais forte que eu conheço, Kookie. Eu fui forte por você e agora você precisa ser forte também. Você é uma parte de mim, eu te amo com a minha vida, anjinho."

Ela morreu nos meus braços enquanto esperávamos que a ajuda chegasse. Mas era tarde demais.

Eu já tinha perdido a pessoa que eu mais amei.

E nada poderia trazê-la de volta.

É por isso que eu posso dizer hoje, seis meses depois, que eu sou a prova de que dinheiro não traz felicidade. Eu posso ser rico, tenho uma casa ótima, um carro também incrível, além de uma moto. Eu faço a faculdade que sempre quis e tenho um emprego que paga bem.

Mas eu não tenho ninguém, eu não tenho felicidade nenhuma. Eu tenho apenas um trauma enorme, que não me permite nem entrar naquele carro mais, eu só ando na moto e apenas quando consigo criar coragem.

Eu sou apenas Jeon Jungkook, uma pessoa a mais vagando no mundo.

Sem nada, nem ninguém.

Apenas com lembranças...


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Sim, mais um drama pra minha listinha, hihi. Eu amo escrever drama, Sinking foi uma das histórias que mais gostei de escrever. Espero que também gostem ♥

Sinking | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora