O último dia

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As semanas se passaram e finalmente havia chegado o dia: meu último dia em Honolulu. Eu não havia contado pra ninguém, as únicas pessoas que sabiam eram meus pais e alguns outros familiares, porque eu detestava despedidas, odiava precisar me despedir, principalmente das pessoas com as quais passei a minha vida inteira, das quais eu gostava tanto.

Esse último dia era especial, eu mal consegui dormir na noite anterior de tanta ansiedade e nervosismo pelas coisas que estavam por acontecer, passei a madrugada arrumando as malas. Era uma sexta-feira, às 9h eu teria a final regional da competição de surf na praia Sunset, às 17h seria a minha colação e às 21h começaria o baile de formatura. Um turbilhão de emoções porque a viagem já seria na manhã seguinte.

Me arrumei logo cedo, peguei meu carro e fui assistir o sol nascer sentado na areia, pensando sobre a minha vida agora e como eu queria que ela estivesse daqui um ano ou dois, e por incrível que pareça, ali deitado eu consegui dormir, ouvindo o barulho do mar e sentindo aquele vento, cochilei até próximo do horário da prova.

-Jaydan Gutierrez Alvarrez é o próximo pessoal, ele que tem apenas 17 anos e compete desde os 9 na liga Júnior, um de nossos surfistas locais mais promissores. -apresentou o locutor da competição antes que eu entrasse na água, várias pessoas da torcida gritaram.

Nesse mesmo momento em que me virei para o lado, rapidamente por um impulso, pude reconhecer Beverly do outro lado da praia um pouco distante, de mãos dadas com Charles Valentino. Eu senti meu sangue fervilhando de raiva quando os vi.

-Ei Jay vamos se concentra, você é o próximo. -disse meu professor de surfe, me dando um leve empurrão.

-Claro... -respondi, um pouco abalado, mas não deixaria isso prejudicar meu desempenho.

-Agora na água: Jay Alvarrez! Concorrendo ao primeiro lugar na competição, junto à grandes nomes do surfe local. -informou, dando minha deixa para começar.

A apresentação tinha de 10 a 15 minutos, entre surfar driblando as ondas e fazer manobras radicais que chamassem a atenção dos jurados. Comecei com um Shoulder, entrando na onda e passando de mão livre na parede dela, depois alguns Lips, na crista e finalizei com um Tube Ride, o ponto alto da competição. Eu não podia entender bem, mas o narrador e a torcida estavam indo à loucura, gritando e batendo palmas e isso me dava mais gás. Naquele momento éramos só eu, a prancha e o mar, nada mais importava.

Até que... Ao chegar na areia, ouvi Valentino gritando:

-Socorro, salva-vidas ajudem! A minha namorada foi levada pela onda, acho que ela tá presa nas pedras!

-Seu idiota! -gritei para ele, correndo em direção ao local em que eles estavam.

Eu não iria esperar até que os salva-vidas colocassem o barco na água para ir até lá, eu precisava salvá-la. Me aproximado do local, e subi encima da prancha para chegar até lá, sentado remando com os braços cautelosamente, porque era um local fechado e perigoso.

-Beverly! -gritei.

-Jay, socorro! Eu estou aqui! -gritou de volta, com dificuldade.

-Fica calma, eu tô chegando. -respondi, indo o mais depressa que eu podia naquela situação.

A encontrei recostada em uma rocha, com o corpo do pescoço pra baixo completamente submerso, se esforçando para não soltar a pedra escorregadia por conta do lodo.

-Beverly, me dá sua mão pra eu te puxar. -pedi, já que não conseguia acessar o local em que ela estava por causa da prancha.

-Se eu soltar eu vou afundar Jay, eu não consigo. -disse chorando, em desespero.

-Por favor confia em mim, eu vou te pegar, só tenta esticar seu braço que eu te puxo. Se você afundar, eu pulo atrás no mesmo segundo. -tentei convencê-la.

-Eu vou tentar.

-No 3, tá bom? 1, 2...3! -contei.

Assim que ela soltou um dos braços, todo seu peso escorregou, e ela afundou instantaneamente com o braço esticado. Me estiquei mais do que eu imaginava que conseguia, e consegui alcançar sua mão e puxá-la para a prancha. A coloquei na minha frente e a agarrei com todas as minhas forças contra meu corpo.

-Pelo amor de Deus Beverly, nunca mais faz isso comigo. Eu não posso viver em um mundo no qual você não está, eu não posso te perder nunca.

Ela que estava recostada em meu peito, me apertou forte na mesma intensidade, murmurou um baixo "eu te amo, Jay".

A abracei com ainda mais força e naquele momento os salva-vidas vidas chegaram e colocaram ela no barco. Os segui até a areia, na prancha.

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