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No dia seguinte, Brooke e eu acordamos quase 12h, mas era um sábado e meus pais sempre me deixavam dormir até a hora que eu quisesse nos finais de semana, eles basicamente aproveitavam para acordar cedo e fingir que não tinham filhos morando com eles.

Acordei com uma baita dor de cabeça e logo tomei todo o resto de água que ainda tinha da noite anterior. Eu e ela estávamos rindo uma pra outra, por lembrar de todos os acontecimentos, e principalmente da parte em que chegamos em casa.

-Eu acho que ele gosta de você, Bev. -soltou ela.

-Seria meu sonho. Será amiga?

-Depois de tudo que rolou, eu não tenho dúvidas de que ele sente algo por ti, tava estampado na cara dele!

-Eu amo tanto esse garoto, Brooke. Ele é tudo pra mim, e hoje foi de longe o melhor dia da minha vida. Acho que não tem como melhorar e nada vai estragar isso que eu tô sentindo. -afirmei entre risos bobos.

-Se você tá feliz, eu tô feliz e até te perdoo pelo meu vestido molhado... -disse rindo.

Assim que ela entrou no banho, me sentei na ponta da cama e resolvir dar uma olhada no celular, e quase morri de alegria quando pela barra de notificações vi algumas mensagens do Jay.

➡️Oi, Beverly
➡️Você dormiu bem?
➡️Como está se sentindo?

Ele nunca falava comigo, nossa última conversa foi quando ele me pediu pra o Louis atender o telefone, há 9 meses. Eu estava em êxtase. Finalmente a tão esperada notificação, do contato mais cheio de corações de toda a minha agenda: "Jay💌💘💞💓💗".

⬅️Oi Jay, bom dia!
⬅️Eu dormi bem sim, obrigada por perguntar
⬅️Só senti um mal estar quando acordei, e uma dor de cabeça muito chata
⬅️Obrigada pelo que você fez por mim ontem, e me desculpa por te fazer passar por tudo aquilo

Logo pude ver que ele ficou online e visualizou minha resposta. Minhas mãos estavam suando de nervoso, era um sentimento muito louco que estava passeando pela minha mente e meu coração.

➡️Olha pra trás!

Me virei rapidamente e ele estava na janela, com uma camiseta branca e com seus cachinhos todos bagunçados. Nem pensei sobre como eu estava, apenas me levantei e corri para a janela. Abri.

Aquele momento parecia um tipo de sonho muito realista, e eu só queria não acordar dele nunca mais, por nada nesse mundo.

Foi engraçado o modo como estávamos nos olhando fixamente sem dizer uma palavra, apenas sorrindo um tanto envergonhados, por não estarmos entendo na verdade o que estava acontecendo, o que aquilo que estávamos fazendo era, ou o que significava. Na minha mente estava tocando alguma música da Taylor Swift de trilha sonora.

Esse momento deve ter durado menos de um minuto ou quase isso, porque meu irmão Sam que ficava no quarto ao lado do meu, surgiu na janela dele:

-Fala irmão, o que cê tá olhando?

Assim que ouvi as primeiras duas palavras eu literalmente me joguei no chão e fiquei esperando pelo que ia acontecer, vermelha de tão embaraçada que eu estava.

-Eu? Nada.

-Onde que vamos assistir o jogo hoje, aí ou aqui?

-É...Não sei mano, depois a gente vê isso, agora eu tenho que ajudar meu pai com uma parada. -respondeu Jay, um pouco nervoso.

Quando me levantei, alguns instantes depois, eu esperei vê-lo ainda no quarto, ainda lá me esperando voltar. Mas não, sua janela estava fechada e as cortinas também.

➡️Que situação engraçada, foi estranho né? kkkk
➡️E ei, assiste o jogo aqui em casa 🤪

Não obtive resposta. Ele nem sequer visualizou, pelo resto do final de semana. E também não assistiu o jogo com meus irmãos, nem na casa dele, nem muito menos na nossa, ouvi que ele teve um compromisso, e nem a janela do quarto ele abriu mais. Brooke me disse que não era nada, que devia ser realmente só um compromisso e coisas que ele precisava fazer e não estava com tempo de ver o celular. Eu queria acreditar que era só isso mesmo.

O final de semana depois daquilo foi confuso pra mim, eu estava tentado de alguma forma me culpar por ele não me responder, não aparecer, nem sequer ficar em casa e ficar com meus irmãos, que é algo que ele fazia todos os dias, sem exceções.  Pensei sobre mil motivos e cheguei a questionar inclusive à mim mesma, se era meu jeito, minha aparência e isso chega a ser ridículo. Eu estava preocupada, mas não queria parecer desesperada então não mandei nenhuma mensagem depois das duas últimas.

Isso não significa que não ficava checando a cada 5 minutos pra ver se ele estava online. E não, ele não estava em nenhuma das vezes. Eu só queria que a segunda-feira chegasse logo, mas o tempo parecia estar passando em câmera lenta, só porque eu precisava que ele corresse. A terça chegou mas a segunda não, e meus pensamentos borbulhavam.

E quando a segunda-feira finalmente chegou, acordei mais cedo do que de costume, pois queria me arrumar e também pensar um pouco sobre o que eu diria a ele, além de que, eu queria ser a primeira a entrar no carro, antes dos meus irmãos. Na verdade eu fazia o mesmo pelo menos duas vezes por semana, apenas pelo "bom dia" que ele dava só pra mim ao entrar.

Me arrumei. Desci para tomar café e comi duas torradas com geleia de morango, que é inclusive a minha preferida. Respirei fundo, e fiquei sentada no sofá da sala, espiando por entre as cortinas se ele já havia saído.

Quando ele saiu e entrou no carro, ouvi meus irmãos fazendo barulho lá encima e provavelmente eles já desceriam para comer algo rápido e ir, então contei até 10 e saí plena, como se nada daquilo fosse proposital.

Eu estava particularmente linda, com meu vestido rosa de babados cheio de cerejas, meu all star branco, e cabelos soltos ao vento. Havia passado apenas máscara de cílios e lip tint na boca e bochechas. Nada era capaz de abalar a autoestima que meu pai e minha mãe me esinaram a ter.

Jay já havia me olhado, e seus olhos acompanhavam meus passos em sua direção, e eles brilhavam, eu podia ver. Entrei no carro, no banco de trás do lado do passageiro.

-Bom dia, Jay. -disse assim que fechei a porta.

-Eh...Bom dia Beverly. -soltou seco.

-Jay, tá tudo bem? Eu fiz alguma coisa de errado? -ousei perguntar logo em seguida, porque eu não tinha muito mais tempo privativo com ele ali.

-Não que eu saiba. -disse, mais uma vez com frieza.

Seu tom de voz era capaz de me magoar, apenas seu tom de voz.

-Bom, mas mesmo assim, desculpa qualquer coisa. -respondi um tanto apreensiva, meio chateada.

Percebi quando ele se virou para me olhar, eu estava de cabeça baixa porque me senti triste naquele momento. Mas em questão de segundos, Sam entrou no carro e nada mais foi dito.

Durante todo o caminho até a escola eles foram discutindo placares de jogos e competições que rolaram no final de semana. E Jay deixou escapar que havia ido para a casa de seus avós do outro lado da cidade no sábado, e que havia voltado apenas hoje para poder ir pra escola. Foi reconfortante saber disso.

Mas o que eu não esperava era que o pior acontecesse.

Ele estacionou o carro na vaga de sempre, perto da quadra, na "zona popular" do estacionamento, todas as vagas ali basicamente já tinham dono, e o dono era alguém da elite do colégio, assim como Jay. Os outros estudantes "comuns", por respeito a essa hierarquia estacionavam do outro lado da quadra, um pouco mais longe da entrada.

Eu fui a última a descer. Jay já estava bem adiante à caminho do portão principal, mexendo no celular. Me distraí um pouco na ida, pois estava tentando achar meu hidratante labial dentro da mochila.

Fui andando e mexendo na bolsa, olhando para baixo. Quando finalmente encontrei o lip balm, já estava na ponta da escada e ao levantar a cabeça, pude ver a cena mais dolorosa de toda minha vida até aquele dia.

O grupo de amigos dele e dos meus irmãos estava reunido ali como sempre faziam, mas Jay estava um pouco afastado, aos beijos com Heather Jasper.


𝐑𝐄𝐈𝐒𝐄𝐍𝐃𝐄𝐑 ➳Onde histórias criam vida. Descubra agora