Rachel termina de se trocar, enquanto eu ainda olho pro teto. Quando está vestida, pula na cama onde eu já estou sentado.
"Já está com sono?" – pergunto, e ela responde com um aceno de cabeça, se aninhando no meu peito no mesmo instante. Com um controle remoto, é possível apagar as luzes, então é isso que eu faço, e nós vamos dormir. Com todos os cochilos que tirei no ônibus, não consigo fechar os olhos agora, e fico acordado olhando para o teto.
Rachel adormece rápido. Fico observando sua respiração, o jeito como se mexe em cima do meu peito. Ela é linda dormindo. Por um momento, tudo para, e ela volta a ser minha melhor amiga do mundo, minha quase-irmã com quem eu divido tudo na minha vida. E então, eu começo a perceber como tudo mudou.
Ela não está usando sutiã. Seus seios estão pressionados no meu peito, seu rosto é delicado e ingênuo, o cabelo caído no rosto. Sua respiração é suave.
Ela é linda. Minha melhor amiga é, nesse momento, a garota mais linda que eu já vi na minha vida.
Ela abre os olhos lentamente, e eu torço para que o encanto se quebre, mas não acontece. Seus lábios, os lábios que um dia eu sonhei que estava beijando, se abrem lentamente.
"Oi." – ela diz, sorrindo. Esfrega os olhos, e se senta na cama.
"Você não dormiu?" – pergunta.
"Não." – digo. Ela é a menina, a garota, a mulher mais perfeita do mundo para mim, vestida num moletom do frajola que tem há quase 6 anos, com o cabelo amassado e cara de sono. E eu me encontro ali, sentimentos de melhor amigo e de homem, juntos, conectados.
"Devia tentar." – ela diz, seus olhos pesados com o sono – "Temos que estar de pé as 6 amanhã."
"Eu sei."- digo. Minha respiração está irregular, rápida. Estou confuso, e estou me odiando por isso. Não deveria deixar que essa atração, essa coisa de homem e mulher se metesse entre nós. Ela é minha melhor amiga, e isso é tudo o que eu poderia querer. É tudo o que nós podemos ser.
"Está frio aqui." – ela diz. Estico minha mão para pegar o controle do ar condicionado, mas ela se aninha mais em meus braços, procurando calor, antes que possa fazer qualquer movimento.
E então estamos dormindo assim, juntos. Os melhores amigos do mundo.
E meu coração não para de bater.
___
"Jesse!" – escuto, enquanto sinto que alguém me sacode. Estou meio-acordado-meio-dormindo.
"Jesse!" – a voz insiste em me chamar. Aos poucos, começo a recuperar a consciência, e abro meus olhos. Rachel está me olhando com uma cara meio envergonhada.
"O que foi?" – pergunto. Ela aponta para baixo.
Preciso levantar o cobertor para perceber do que se trata.
Rachel dormiu da mesma forma como sempre dorme: uma das pernas levantada, na minha cintura.
E eu tive uma porcaria de um momento-de-homem.
"Está de manhã." – digo, me defendendo. Saio o mais rápido que posso da posição em que estávamos, me escondendo embaixo do edredom. Começo a perceber que agora terei que me acostumar com essa estranha tensão que se formou entre nós, que só eu pareço perceber.
"OK, que tal ignorarmos isso e apenas irmos tomar café?" – ela diz, e eu olho para ela, incrédulo. Ela está ali, com seu moletom surrado, os cabelos bagunçados, e a mesma cara de criança que tem desde sempre. Me esqueço do que aconteceu, de todas as duvidas da noite anterior. Ela é apenas minha melhor amiga, e eu a amo desse jeito estranho que há entre nós.
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All That Matters | St.Berry Fanfiction
RomanceJesse e Rachel são melhores amigos desde sempre. Vizinhos, seus pais são melhores amigos, e os dois cresceram como irmãos. Até que o emprego da mãe de Rachel em outra cidade os separa por um tempo. Cinco anos depois, Rachel está de volta à cidad...