o que vejo em você

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Azriel pegou no sono. Nos meus braços. Eu não sei qual parte dessa história estava mais estranha. Mas quando me separei dele, o encostando na parede, percebi seu nariz sangrando. Não. Isso não expressa bem a gravidade da situação. Sangue jorrava dele. Vermelho vivo. Mas o cheiro não era de um sangue saudável, estava longe disso.
Eu precisava fazer algo, e rápido.
Levantei aquele macho enorme e pesado e o levei para a cama. Sujando rapidamente os lençóis.
Simplesmente encostar nele e infudir energia não adiantaria. Não era inútil é claro, ele seria curado, mas demoraria mais tempo do que eu podia desperdiçar. Não, eu precisava de outro plano.
É claro! Eu só precisava repetir algo que já havia feito.
Por baixo da pele Azriel era feito de sombras, eu só precisava acessar essa parte dele.
Me concentrei e desfiz a mim mesma em escuridão. Não era brilhante como Rhys. Não era solitária como Az. Era de um outro lugar, um outro mundo. Assim como eu.
Deixei que meu corpo se desmancha -se, deixei a carne para trás. Minhas mãos foram de encontro ao peito de Az, não podiam tocar nele, pois não eram do plano material, então o atravessaram.
Flashbacks.
Uma profusão deles.
Felizes.
Tristes.
Eufóricos.
Melancolicos.
Temperamentais.
Eram muitas emoções, e eu as atravessava uma a uma. Me deixava enjoada.
Vi algumas memórias também, bolas de neve, guerras, jantares, o frio de uma fogueira solitária em uma montanha, celas, muitas delas, de diferentes tamanhos e cores, ouvi alguém chorar pedindo socorro, até uma criatura sem alma como eu estremesseu.
Estava perdendo meu foco, me forcei a me concentrar novamente e então lá dentro comecei o processo de cura, muito mais rápido e muito mais eficaz.
Voltei para a vida material que eu achava tão insuportavelmente previsível e ele estava me olhando nos olhos. Eu conhecia aquele olhar, muitos dos que me olharam daquela forma morreram, pelas minhas mãos.
Ele estava me estudando, tentando ler minhas emoções. Sabia o que ele procurava, medo, decepção, preocupação, julgamento, critica. Eu não via motivo algum para sentir nada disso.
Era fofo, e patético ao mesmo tempo.
Por fim, se deu por vencido e fechou os olhos.

Selene: banho?

Dessa vez ele não tentou se fazer de macho alfa, não resistiu, apenas fomos.

Selene: você sabe. Sabe não é? Que não vou tremer de medo colocar o rabo entre as pernas e fugir. Então porque fica esperando que eu o faça? - disse enquanto o limpava, hoje ele não conseguiria se lavar sozinho.

Azriel só respondeu depois de uma longa pausa, depois de me deixar acreditar que ficaria no vácuo.

Azriel: qualquer pessoa fugiria.

Selene: bom, eu sequer sou uma pessoa. Mas para além disso, não vejo motivos para fugir.

Azriel: o que você vê então?

Selene: uma alma que foi torturada por tanto tempo que aprendeu a torturar a si mesmo. Que acha que esse é o caminho. E vem fazendo isso por 5 séculos. 5 séculos Az. Em que você se destruiu pouco a pouco, sem que ninguém notasse. Você encara a dor como o seu refúgio porque foi somente dor que você conheceu na vida. É isso que vejo em você, alguém que está se afogando, repetidas vezes, mas que nunca tentou nadar para impedir.

Healing (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora