passado

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Pov Selene

Acordei no meio da noite, uma dor de cabeça terrível. Vocês devem estar se perguntando como eu ainda fico ruim assim depois de tantos séculos bebendo. E a resposta é bem simples: eu bebo MUITO mais que os outros no mesmo período de tempo. É tipo um dom especial.
Eu estava jogada na cama com o cabelo espalhado por todos os lugares, me sentei e vários fios estavam na minha cara, tentei tira -los mas não fui bem sucedida.

Azriel: que cena sexy - disse debochando de mim

Selene: eu costumo ouvir muito isso - provoquei

Azriel: não me testa.

Az veio até mim e me ajudou. Aproveitei pra sentar no colo dele e questionar mentalmente porque eu me submetia aquela humilhação.

Azriel: que tal um banho?

Selene: eu morreria por um banho

Ele então me pegou no colo e me levou ao banheiro, me colocou sentada em cima da pia e tirou minhas roupas.

Selene: estamos invertendo as posições aqui?

Azriel: estamos. E eu vou provar que sou tão bom quanto você.

Me pegou de novo de modo que eu ficava de frente pra ele, os braços em seu pescoço e as pernas em seu quadril. O beijei, já estava com saudades de fazer isso.
Fui colocada na banheira, uma água quentinha me esperava.
Az começou a lavar minhas pernas.

Selene: huuum. Isso é bom.

Me encostei na borda da banheira e fechei os olhos pra aproveitar aquele momento.

Azriel: você se lembra de hoje mais cedo?

Selene: lembro da surra que Nestha deu em Cassian graças a mim - tive que rir ao lembrar - lembro do almoço, da bebedeira e de você me carregar até aqui enquanto eu cantava e passava vergonha.

Azriel: então não se lembra das coisas que me disse?

Selene: não. Disse algo obsceno?

Azriel: não - foi a vez dele de rir - você disse coisas estranhas, sobre serpentes aladas, bruxas de cabelos brancos e um dragão. Um dragão vermelho.

Paralisei. Não era possível. Eu não podia ter dito aquilo.
Não consegui disfarçar, Az notou que algo estava errado.

Azriel: me conte qual o problema.

Sorri. Precisava disfarçar. Lhe dei um beijo pra desviar o foco.

Selene: não é nada, só devaneios de uma bêbada.

Azriel: não acredito em você.

Selene: pode acreditar, dragões nem existem não é?

Eu estava me sentindo encurralada.

Azriel: Selene, você não confia em mim?

Selene: é claro que confio.

Azriel: então me conta.

Selene: não tem nada pra contar.

Azriel: vai me magoar se mentir pra mim mais uma vez.

Olhei nos olhos dele, estava sendo sincero. Eu não tinha saída.

Selene: por favor, não me faça dizer. Lembra quando eu disse que só senti medo uma vez em minha vida? Eu não quero relembrar isso.

Azriel: só me responda, e não minta pra mim. Ha algum risco dessa criatura te ameaçar novamente?

Fiquei muda. Mentir não adiantaria, Az sabia ler qualquer expressão fácil.

Azriel: já que é assim precisa me dizer. Eu preciso saber cada detalhe. Pra ter um plano, só por precaução.

Selene: não posso. - aquela altura, estava segurando as lágrimas.

Az tocou o meu rosto. Olhou no fundo dos meus olhos e disse em minha mente "me perdoe".
E então algo aconteceu, algo que eu nunca imaginei que aconteceria. Algo que ...me destruiu.
Azriel forçou a passagem pela minha mente, viajou pelas minhas lembranças.
Eu tentei parar tudo aquilo. Lutei contra ele. Mas Az era um mestre espião, um torturador, entrar na mente dos seus inimigos era a sua especialidade.
E além disso nossa conexão dava ele mais vantagem.
Eu não pude impedir.
Por mais que gritasse.
Por mais que lutasse.
Ele usou tudo de si pra ficar, pra encontrar o que procurava.
"Por favor, por favor pare, eu não quero ver." eu chorava alto.
"Me perdoe...por favor...me perdoe, mas não vou cometer nenhum erro, não vou deixar passar nada que seja perigoso. Quero você ao meu lado pra sempre, não posso errar."
"Por favor...não..."
Az não ouviu...
Lembrança após lembrança nos seguimos, rápido demais pra ele poder assimilar qualquer coisa.
Então eu senti. Aquele calafrio. Aquela pressão no peito. A falta de ar.
Estávamos em um vulcão.
Eu era jovem, quer dizer, jovem de acordo com a minha dimensão de idade.
Encontrei aquele lugar enquanto brincava de esconde esconde com Amren e meus irmãos.
Pensei que era perfeito.
O odor da lava esconderia o meu cheiro.
Eu era uma criança tola e imprudente.
Me achava a Rainha do mundo, eu era a mais nova entre os meus irmãos e a mais poderosa.
Nos não tínhamos pais, eu não conhecia a história toda, mas sabia que minha Mãe morreu presa em uma masmorra e Amren e meu segundo irmão mais velho assumiram a responsabilidade de cuidar de nós.
Era uma vida difícil, eu dormia 2 horas por dia e no restante meus irmãos se revezavam me treinando, com o máximo de crueldade que podiam.
O motivo era simples, eu era a mais forte, então eu era vital pra sobrevivência de nossa família.
No mundo em que vivíamos só existiam bestas sanguinárias, incluindo a gente.
Não tinha comida o bastante. Nem água. Conforto ou carinho.
Eu nunca soube o que era carinho.
Nunca recebi um abraço ou uma palavra de consolo.
Era só guerra.
Naquele dia em especial eu tinha sobrevivido a uma prova quase impossível: lutar contra todos os meus irmãos de uma única vez, vendada.
Eles me dilaceraram tanto que meu irmão mais velho sentiu um pingo de pena e decidiu fazer aquela brincadeira.
Quando eu entrei ainda mais na caverna do vulcão senti um cheiro estranho, algo realmente velho. Mais velho que Amren.
Pensei em sair correndo mais ouvi um barulho, vindo da direita.
Olhei...e lá estava, uma criatura imensa, maior do que todas as que eu conhecia, tinha escamas por todo o corpo, olhos brancos sem pupila, garras enormes.
Olhei nos olhos daquela coisa.
E ele me mostrou o inferno.
Me vi morta, e não eram as chamas do inferno que me rodeavam. Era a solidão e o frio.
Solidão eterna.
Eu ficaria sozinha, pela eternidade.
Sem sentir nada. Nunca mais.
Era só aquele nada.
E pra sempre seria só isso, nada.

Voltamos. Vomitei todo o conteúdo do meu estômago no chão. Chorava alto. Só não gritava porque não tinha forças.
Senti Az me abraçar.

Azriel: me perdoe, Selene por favor me perdoe. Mas você entende não é? Faria o mesmo se fosse o contrário. Já fez antes, forçou a entrada quando precisou e eu era teimoso demais pra deixar.
É claro que isso é diferente. Mas por favor me perdoe. Eu só não posso permitir que nada aconteça com você. Nunca mais. Eu te amo mais que tudo nessa vida. Mais do que a mim mesmo.

Eu tremia como uma louca. Mas consegui falar.

Selene: vá embora...

Healing (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora