problemas

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Pov Selene

Algo estava errado. Terrivelmente errado. Meros segundos haviam se passado desde o estranho momento em que beijei as mãos de Azriel. Uma atitude totalmente impensada e impulsiva.
Eu estava formulando uma frase, precisava ser coerente, e precisava deixar explicito que eu não era uma louca emocionada. Pelo caldeirão, eu era mais velha que este mundo e estava sem palavras. O que raios está acontecendo comigo?
Antes que pudesse chegar a uma conclusão senti Azriel estremecer, ele se soltou de mim, virou as pressas para o outro lado da cama e começou a vomitar freneticamente.
Eu já esperava que isso fosse acontecer.
Observei seus braços falharem na tentativa de segurar o peso do próprio corpo. Corri pra pega - lo antes de caísse. Mas quem quase caiu fui eu, de surpresa ao ver o que exatamente ele estava vomitando. Não era seu almoço. Também não era sangue.
Líquido negro como a escuridão do mar abissal se derramava no chão. Tinha cheiro de morte.
O Encantador podia sentir também. Decidi que ele não deveria ficar encarando aquilo, e o deitei com cuidado na cama. Com um estalar de dedos o líquido negro sumiu. Mas o cheiro ficou.

Azriel: vai me dizer o que era aquilo?

Selene: não faço ideia. - admiti enquanto corria para o livro que minha irmã havia trazido. Estava no meio de um parágrafo quando Amren entrou com tudo na tenda.

Amren: mas que cheiro é esse?

Lhe expliquei o que havia acontecido, sem contar sobre o que vi na mente de Azriel. Amren tomou o livro de minhas mãos.

Selene: deixamos alguma coisa passar.

Amren: acho que sei o que foi. - disse e saiu correndo pra fora.

Eu encarava o livro que minha irmã deixou para trás, tentando encontrar qualquer coisa.
Amren voltou algum tempo depois.

Amren: encontrei o problema, não é coisa boa. - disse me entregando um pergaminho.

Li. E reli. Li mais uma vez.
Aquilo era cruel.
Azriel devia não apenas reviver seus traumas mais profundos, como também ressignifica - lós.
Fizemos apenas metade de processo, que foi entrar lá e encarar o trauma de frente.
A verdadeira luta ainda estava por vir.
Olhei para Az deitado naquela cama, parecia tão fraco, debilitado. Mas jamais vulnerável. Não, isso nunca. Azriel jamais se permitiria estar vulnerável novamente.

Azriel: apenas diga.

Eu disse. Ele fechou os olhos. Achei por um momento que choraria, mas não, quando abriu os olhos e me fitou novamente eu vi determinação pura queimando ali.

Azriel: vamos de novo.

Selene: não acho uma boa ideia. Por mais que não admita você está fraco. Deveriamos tirar o dia de hoje para você recuperar um pouco da força.

Amren: ela esta certa, menino.

Azriel: sei o que fazer, vamos.

Não seria eu a apagar aquela chama, então tomei o meu lugar e mais uma vez me encontrei naquela cela obscura.
Azriel estava sendo torturado novamente.
Pude sentir algo me sugando, extraindo minha energia, meu poder.
Vi o pequeno Az se transformar em Azriel, o guerreiro, o mestre espião, o encantador de sombras.
Ele estava me usando. Usando o poder que eu lhe dava atráves da pele.
Deixei que o fizesse.
Deixei que pegasse o precisava.
Deixei que extraísse fundo em mim.
Pois ele iria precisar, para a vingança que havia planejado. Daria uma belíssima história de ninar para alguém como eu. Azriel era feito de pesadelos. As torturas que desempenhou teriam feito qualquer um de seus amigos vomitar as tripas.
Meu corpo vibrava.
Eu queria fazer parte daquela carnificina, daquela dança da morte.
Mas não podia, a escuridão era sua para reivindicar.
Ficamos horas e horas naquele lugar frio e úmido.
Ouvindo gritos de meninos perversos que mereciam a lição que estavam recebendo.
Eu sabia por Amren que Az havia recebido permissão de Rhysand para caça - los.
Será que o que eu estava vendo era uma recriação do encontro entre eles?
Eu estava em êxtase.
A tortura acabou. Eu estava tremula, fazia muito tempo que não me desgastava assim. Mas Azriel precisava de cada sopro de poder que eu pudesse dar.
Voltamos a realidade.
Vi em seus olhos sombras de pesadelos doentios.
Vi minha irmã correr até mim.
Então tudo ficou escuro.

Healing (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora