fugindo

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Duas semanas se passaram desde aquela noite. Azriel fugia do meu olhar e do meu toque sempre que podia, estava mais mudo do que o normal, o que significa que eu não ouvia nenhum som sair de sua boca, a não ser quando estava gemendo de dor.
Seus amigos vinham ao quarto todos os dias, Rhys e Feyre estavam bastante ocupados com a reforma de Velaris. Cassian estava com problemas no acampamento Illyriano. Mor vinha quase todos os dias, mas tinha responsabilidades a tratar na corte dos pesadelos. Elain não entrava no quarto, as vezes ficava parada na porta quando outra pessoa vinha ver Azriel, mas ela mudou algumas flores de lugar no jardim, de forma que um perfume delicioso agora entrava pela janela todos os dias. Minha irmã apareceu uma vez durante esse tempo, com um maravilhoso estoque de sangue feérico para mim, como ela conseguiu? Não faço ideia.
Os dias passavam devagar, em todos eles fizemos sessões de cura, em todas elas Az vomitava as tripas, suava frio e tinha um pouco de febre. Eu lhe oferecia um banho ao final de cada sessão, esse era meu momento favorito do dia, ver a batalha interna que ele travava consigo mesmo em poucos segundos. No final, eu sempre o arrastava para a banheira. Se está se perguntando se eu entrava também a resposta é sim. Só para deixa - lo inquieto. A disculpa era sempre a mesma, lavar suas asas.
Entretando, depois de uma semana comecei a perceber que não estávamos mais progredindo, já era de se esperar, já que as memórias que Az agora me mostrava eram sempre as mesmas, ele torturando algum inimigo de sua corte até a morte, e depois sofrendo por ter gostado da situação.
Muitas coisas se repetiam, ele torturava, matava, entregava o relatório a Rhysand, e então inventava um desculpa para sair de cena por alguns dias.
Todos achavam que ele estava fazendo algum serviço, mas na verdade ele estava enfurnado em um quarto sujo, de uma taverna suja, se embriagando e tendo pena de si mesmo.
Eu achava isso particularmente triste.
Azriel era dono de um potencial imenso, mas não poderia alcançar nada sentindo pena de si mesmo dessa forma.
Ele não estava mais melhorando, na verdade piorava.
As vezes, no meio da noite eu acordava com ele balançando a cama no meio de um pesadelo, isso sim mexia comigo. Parecia doer intensamente. Eu o acordava, passava 5 minutos lhe lembrando onde ele estava, e que estava tudo bem, que ele estava seguro. Então lhe dava um banho frio, de chuveiro mesmo.
Toda essa situação estava me irritando, ele estava fugindo, de mim, do processo de cura que devíamos realizar, e dele mesmo.
Eu estava farta.
Era manhã, nos acabaramos de tomar nosso café, e era geralmente daí que prosseguiamos com o tratamento.
Mas hoje seria diferente, por bem ou por mal.

Selene: não vou continuar com a palhaçada - eu nunca soube ser sutil- você está disperdiçando meu poder, minha energia e meu tempo, me mostre algo que valha a pena ou eu vou cavar na sua mente e encontrar sozinha.

Ele nem me olhou. Eu estava farta.

Selene: ok, do modo difícil então.

Antes que ele pudesse fugir segurei seu rosto, um mar turbulento de lembranças me atingiu. Segui o cheiro de dor até encontrar algo interessante.
Eu podia ver aquela garota ruiva novamente. Azriel estava amarrado em uma cadeira. O que é isto? Ela é um inimigo? Não, não, não é. Sinto cheiro de desejo no ar.
A garota anda até uma mesa, a uma coleção de armas disposta sobre ela, a mesma escolhe uma adaga fina. Que tédio. Havia opções bem melhores.
Ela se aproxima de Az, andando como um gato, e sorrindo como uma leoa.
Eu já entendi o que vai acontecer, mas ainda não consigo acreditar.
Não que fosse preciso, já que no instante seguinte, aquela ruiva, Bryce, desceu a adaga sob o corpo de Azriel, acertando a coxa esquerda.
Um gemido de dor foi ouvido.
Mas não era apenas dor, ha não era mesmo. Havia prazer naquela voz.
Antes que eu pudesse vez mais, fui chutada pra fora da lembrança.
Voltei ao presente e desejei não te - lo feito. Azriel me encarava com os olhos arregalados. Se levantou de súbito correndo para o banheiro, sozinho. Mas é óbvio que isso não daria certo e ele se espatifou no chão.
Corri para ajudar, o peguei e o ajudei a se sentar, ele tentava de livrar de minhas mãos.

Selene: Az, pare, pode acreditar, isso dói, esta me machucando.

Ele parou imediatamente, encarou o chão, estava parecendo uma boneca sem corda.

Selene: porque isso mexe tanto com você? Não é exatamente incomum.

Azriel: não quero falar sobre isso.

Selene: mas é exatamente o que vamos fazer, porque precisamos fazer algo com aquelas lembranças se você quiser melhorar e se livrar de mim.

Az me olhou, mas não disse nada.

Selene: vou dar um palpite. Você se culpa, se culpa por gostar de torturar e matar. E se culpa pelo que gosta de fazer entre 4 paredes. Ou seja, se culpa por ser você mesmo.

Azriel: esse é o ponto!! - elevou a voz pela primeira vez - eu não quero ser assim, não quero ser essa pessoa. Não posso ser.

Selene: então, daremos um jeito. - a seguir fiz uma coisa super estranha, me aproximei daquele guerreiro, que estava se desfazendo em mil pedaços a minha frente, era claro que ele lutava pra não chorar.
E o abracei.
A sensação foi estranha.
Mas o mais estranho disso tudo, foi que ele me abraçou de volta.

Healing (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora