⁷¹⁴⁷palavras
*Berlim, 31 de agosto de 1939
Leona encontrava-se dentro de uma sala bem ampla e arejada. Era decorada com duas grandes estantes de madeiras, repleta de livros, que ficavam de cada lado da sala. As paredes eram todas revestidas de mogno, com diversos quadros de pintura de homens, que ela imaginou que fossem os antigos reitores daquela universidade. Também, havia uma enorme janela de vidro, praticamente do tamanho da parede, com pesadas cortinas no tom vinho, no fundo da sala.
Estava sentada em uma poltrona de couro marrom escuro, localizada de frente para uma grande mesa de madeira, que possuía um abajur no canto, além de um busto de mármore branco. Havia alguns livros e papeladas em cima da mesma.Ela estava na Universidade Humboldt de Berlim¹. A mais antiga faculdade da cidade, datando de 1810, e por onde célebres pessoas como Karl Marx, Friedrich Engels, Max Weber, Adolf Von Baeyer, entre outros, haviam estudado. Ela estava ali, pois, tinha feito um teste há alguns dias, e sua nota foi alta o suficiente para que fosse aceita no curso de medicina da universidade. Já fazia alguns anos que vinha seriamente pensando em fazer tal curso. Sentia que possuía vocação para seguir a carreira médica.
O homem pela qual estava esperando, o reitor, ainda não havia chegado, fazendo com que se sentisse mais apreensiva do que o normal, pois, seu futuro estava nas mãos daquele homem.
Alguns instantes depois, um homem de meia-idade, usando um terno caro e com óculos redondos, entrou pela sala a cumprimentando e se sentando na poltrona à sua frente, do outro lado da mesa.
Não pôde deixar de notar seu olhar de espanto ao vê-la pela primeira vez.
Ela sabia muito bem qual era o motivo.
Além de ser muito jovem, com apenas 20 anos, também gostava de usar roupas que eram tidas como não convencionais, pois, desde que o Partido Nazista havia tomado o poder, começaram a impor várias leis e sugerir, principalmente às mulheres, a forma como elas deveriam se comportar e se vestir diante da sociedade. Sendo que, as mulheres consideradas ideais eram aquelas que não trabalhavam para viver, não usavam calças, nem maquiagens ou sapatos de saltos altos, além das roupas ideais serem blusas brancas e saias até os joelhos, sem marcar nenhuma parte do corpo.
Ela, por outro lado, vestia um vestido de lã azul-marinho, dois dedos acima do joelho e de mangas compridas, que delineava todo o seu corpo, além de um cinto preto envolta da cintura, para deixá-la mais destacada, meia-calça preta e salto alto. Seus cabelos cacheados estavam de lado, com uma pequena presilha de pedrinhas prendendo algumas mechas, deixando com que ele chegasse um pouco abaixo dos seus seios. E, para completar o look, usava uma discreta maquiagem, com os olhos um pouco delineados e um batom quase do tom da pele. O modo que se vestia chamava a atenção de todos. Os homens a olhavam com desejo e as mulheres com olhares de raiva e repreensão.
Muitas vezes fora alvo de insultos e ofensas, xingamentos como puta e traidora eram comuns de se ouvir, no qual ela nem se quer importava.
Se tivesse qualquer coisa na qual pudesse fazer para ir contra aquele governo ditatorial no qual ela se encontrava, iria fazer. Sabia que era um gesto simples e que não iria mudar muitas coisas, mas seus pequenos atos de rebeldia a deixavam feliz mediante tanto sofrimento, no qual seu país enfrentava no momento. E, sua mãe compartilhava desse mesmo pensamento, falando que nenhum homem gordo e bigodudo iria dizer como ela iria se comportar ou se vestir, até porque, nenhum deles tinha nenhum senso de moda.
O reitor pegou alguns papéis sobre a mesa e ficou os analisando. Ele havia pegado seu currículo escolar, no qual, ela sabia que continha notas impecáveis. Sempre fora uma excelente aluna e sempre se destacava, principalmente em matérias das áreas biológicas. O que, só a fazia ter mais certeza do que queria.
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Os dias eram assim
Historical FictionForam exatos 2174 dias de terror e sofrimento, seis anos de dor e de perdas. Quarenta e seis milhões de pessoas morreram, no que viria ser conhecido como o maior conflito armado da história da humanidade. A Segunda Guerra Mundial. Mas, mais do qu...