3707palavras
•Bosco Marengo, fevereiro de 1941
Estava entediada. O dia mal tinha começado, mas se sentia muito entedia ao estar deitada naquela cama.
Estava nela desde o dia anterior, e não saia da mesma se não fosse estritamente necessário. Com isso, leia-se, precisar desesperadamente ir ao banheiro porque sua bexiga estava explodindo de tanto chá e água que estavam a fazendo ingerir. Não aguentava mais solver tanto líquido. Confessava que as vezes fingia tomar, somente para depois cuspir tudo de volta, quando ninguém estivesse a observando.
Aquilo era uma tortura.
Mas, o que mais a matava era ter que ficar deitada no mesmo lugar. Era muito enérgica para conseguir tal feito, e se estava ali até aquela hora da manhã, já era algo de se admirar.
Olhou pela janela aberta, suspirando de desânimo com a pouca claridade que emanava pela mesma. Um vento frio adentrava o cômodo, a fazendo se arrepiar. Mas, não reclamava, a sensação era bastante agradável.
Olhou pela milionésima vez a sua volta, já tendo decorado cada centímetro do quarto.
Suspirou novamente de tédio.
Aquilo já era demais!
Resolveu por levantar, colocando um xale por cima do vestido. Ele era bem simples, no tom azul-marinho rendado, com seu tecido bastante felpudo de algodão, que a esquentava. O vestido era do mesmo tom, comprido o suficiente para encostar em seus pés, cinturado, de mangas compridas e gola alta, perfeito para a estação mais fria do ano. Todas as roupas foram emprestadas e a serviam, até que consideravelmente bem, já que Cecilia era quase do seu tamanho.
Pensar nas duas mulheres a fazia sorrir. Agradecia de coração toda a hospitalidade e carinho que recebia. Era uma pena que não conseguia entender nada do que falavam. Mas depois de alguns dias de convivência começou a aprender algumas parcas palavras. Não eram muitas, mas o suficiente para conseguir o que queria. Apesar de que na maioria das vezes dependia de gestos, ou do seu tradutor, que não era nem um pouco paciente, Luca.
Lembrar dele a fez bufar, porque, ultimamente o mesmo parecia estar muito disposto a constrangê-la de todas as formas possíveis. É claro que na maioria das vezes ele nem se quer fazia ideia disso, já que o problema se encontrava em sua pequena cabeça fértil. Mas, isso não tirava a sua culpa.
Quem mandava ter tido a brilhante ideia de os intitular como marido e mulher e os colocado no mesmo quarto, para dormirem na mesma cama?
Não foi ela que deu a ideia, e agora se via todos os dias a olhar para aquelas costas definidas por enquanto que sua bexiga não lhe dava sossego. Isso era um pesadelo!
E o odiava por isso.
Bufou em indignação andando pelo corredor que a levava para a cozinha. Lugar de onde emanava um delicioso cheiro de pão feito na hora. Seu estômago roncou de imediato e a boca salivou em expectativa.
Adentrou o cômodo, vendo uma cozinha abarrotada de utensílios domésticos como panelas, pratos e copos. A mesa estava repleta de quitutes das mais variadas qualidades, que ao seu ver eram maravilhosos. Viu que a senhora Luzia estava a coar café na pia, bem de frente para a janela da cozinha. Sua filha estava parada a seu lado. Reparou que ambas estavam muito entretidas a olhar algo do lado de fora, não tendo se quer notado sua presença.
-Bom dia – disse em um italiano sofrido, não tendo muita ideia se tinha dito certo.
Aquela era uma das poucas palavras que tinha aprendido, e já se sentia muito inteligente por ter o feito.
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Os dias eram assim
Historical FictionForam exatos 2174 dias de terror e sofrimento, seis anos de dor e de perdas. Quarenta e seis milhões de pessoas morreram, no que viria ser conhecido como o maior conflito armado da história da humanidade. A Segunda Guerra Mundial. Mas, mais do qu...