3837palavras
Ybbs, fevereiro de 1941
Estava sentada a olhar para o nada. Se sentia apática, atordoada, vazia por dentro. Mal conseguia distinguir o que acontecia a sua frente. Via em borrões e apenas vislumbres de fleches eram capitados, mas, dificilmente, conseguia distinguir o que era real da ilusão.
Piscou algumas vezes, na tentativa clarear as vistas que estavam turvas pelas lágrimas que surgiam e caiam como cascatas, sem nem ao menos perceber.
-Izabela?
Escutou uma voz ao longe a chamar, mas não conseguiu encontrar forças para olhar, se atendo a ficar olhando para a frente, onde uma forte luz emitida por uma fogueira a iluminava com intensidade. Sabia que tinha algo muito importante ali, mas não conseguia fazer seu cérebro processar as informações. Estava muito perplexa e parecia que seu subconsciente estava a trabalhar para a poupar de um trauma maior.
-Izabela?
Novamente foi chamada. Conhecia a voz, mas não queria responder, queria continuar a se manter à parte do resto do mundo. Não queria voltar a realidade, pois, sabia que seria muito doloroso.
Percebeu que algo se postou ao seu lado, segurando em seu braço para chamar sua atenção, mas isso foi apenas o suficiente para a fazer olhar para suas mãos que estavam esticadas à frente de seu corpo, sobre os joelhos. Reparou que estavam sujas de um vermelho escuro e denso de sangue ressecado que impregnava sua pele com intensidade. Engoliu em seco, deixando mais algumas lágrimas caírem. Tinha total consciência de quem pertencia aquele sangue, mas não queria aceitar, preferia omitir a informação de si mesma.
-Vamos, Izabela. Me permita limpar suas mãos – aquela voz masculina novamente a chamou, agora se postando a sua frente, ofuscando a luz cintilante do fogo que ardia naquela pira funerária. Porque era para isso que tinha sido construída, para queimar um corpo até os ossos, até que fosse completamente consumido.
Engasgou com tal pensamento, abaixando a cabeça voltou a chorar, ainda mais forte, fazendo seu corpo tremer de angústia e tristeza.
Se encolheu de medo ao sentir o toque em suas mãos sujas e culposas, logo, percebendo, que estavam sendo lavadas com cuidado e carinho. Abriu os olhos, reparando no gesto caloroso, por enquanto que via George esfregando com delicadeza as crostas de sangue com a água que era jogada de um cantil, permitindo com que visse novamente sua pele pálida. Tentou sorrir, mas a única coisa que saiu foi um gemido de frustração.
Tudo aquilo era muito injusto.
Porque todas essas coisas horríveis estavam acontecendo? Porque pessoas tão boas, quanto Edward, estavam morrendo de formas tão horríveis naqueles dias?
O mundo tinha se tornado um completo caos.
-Izabela? Olhe para mim – o ruivo falou novamente, segurando seu rosto com ambas as mãos, para que pudesse olhá-lo, e, quem sabe, prestar atenção no que dizia. – Não foi sua culpa. Você tentou tudo o que podia.
-Eu... eu sei. Mas... ele morreu. Não pude fazer nada para ajudá-lo – balbuciou chorosa, mal conseguindo proferir alguma palavra.
-Você tentou fazer o que podia, mas dadas as circunstâncias e os ferimentos que ele apresentava, não tinha muito o que fazer. Não se culpe por isso.
-Eu... eu não entendo – começou a falar, desviando o olhar para o escuro daquela noite fria, vendo apenas folhas das enormes árvores que a cercava a balançar calmamente ao toque do vento gélido. Perdeu o foco por alguns segundos, mas não demorou para voltar a olhar para o rapaz a sua frente. – Eu não entendo o porquê de todo mundo a minha volta está morrendo.
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Os dias eram assim
Ficción históricaForam exatos 2174 dias de terror e sofrimento, seis anos de dor e de perdas. Quarenta e seis milhões de pessoas morreram, no que viria ser conhecido como o maior conflito armado da história da humanidade. A Segunda Guerra Mundial. Mas, mais do qu...