A ovelha negra da família

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³⁵⁹⁴palavras

*Sedan, janeiro de 1940

era final de tarde e Yohan estava andando pelo acampamento que ficava um pouco mais afastado da cidade de Sedan¹. Havia vários soldados espalhados por todo o acampamento, que tinha mais de 1 km de extensão.

Tinha feito o seu treinamento base e agora estava na fronteira com a Bélgica, para tentarem impedir possíveis invasões.

Fazia dois meses que ele tinha saído de Paris, e estaria mentindo se não dissesse que estava sentindo saudades de sua cidade natal. Acreditava que Paris era bela e única, e que não importava o que pudesse ver, nunca nada se igualaria a ela. E, até aquele momento, estava certo disso.

Também, já fazia um tempo que ele não vestia outra roupa que não fosse o uniforme militar padrão das forças armadas francesa, além de um fuzil a tira colo.

Estava procurando por seu irmão naquele momento, mas aquele idiota não era muito sociável e ficava se escondendo de todo mundo, fazendo com que fosse difícil encontrá-lo.

Já fazia uns vinte minutos que estava andando a procura de Simon, sem êxito algum.

Estava quase desistindo, quando finalmente, ao olhar mais ao longe, reparou em um rapaz sozinho, sentado e encostado atrás de um antigo muro, que provavelmente havia pertencido a alguma casa antes de ser destruída durante a Grande Guerra.

Ao se aproximar, constatou que realmente se tratava dele, que estava sentado tranquilamente ao lado de uma fogueira, afastado de todos à sua volta. Logo percebeu que se tratava de um lugar estratégico, sendo bastante difícil vê-lo se alguém se aproximasse pelo outro lado, além da fronteira.

- Posso saber por que você está sozinho e encolhido perto do fogo? - disse se aproximando, chamando a atenção do outro.

- Está frio - falou tranquilamente.

- Mas não por muito tempo. Os dias estão começando a ficar mais longos e a temperatura está aumentando aos poucos, até mesmo já parou de nevar. E, estranhamente, isso me traz uma sensação bem ruim.

Ao falar a última parte, acabou chamando a atenção do mais novo, que o olhou curioso, perguntando:

- Por que você acha isso?

- Eu não sei.

Simon revirou os olhos com tédio e frustrado por não receber uma resposta coerente. Desviando o olhar, falou desanimado:

- Eu queria beber alguma coisa que pudesse me esquentar.

Yohan pegou seu cantil, que estava preso no cinto, o oferecendo logo em seguida.

- Eu não quero água - balançava a cabeça em recusa, tentando afastar o cantil com as mãos.

- E quem disse que é água? - falou, ainda insistindo para que pegasse.

Simon ficou o olhando desconfiado, logo em seguida o pegando e tomando um generoso gole, constatando no mesmo instante, que se tratava de uma bebida bem forte e vagabunda.

- Caramba! Isso aqui é álcool puro. Gostei - completou dando mais um gole. - Posso saber onde você conseguiu isso? - estava curioso.

Demonstrou apenas um leve sorriso de lado, sentando ao lado do irmão e pegando seu cantil de volta, solvendo um pouco do líquido.

- Eu ganhei no pôquer - disse tranquilamente.

- E por acaso é permitido jogar?

- Não, mas duvido que alguém vai deixar de fazer.

Os dias eram assimOnde histórias criam vida. Descubra agora