Helena Greco
Mais dois dias haviam se passado e a minha tristeza só aumentava, nada do que todos a minha volta fizessem adiantava de algo, nada conseguia me animar. Beatrice tentou ficar comigo, mas não quis a companhia de ninguém, os únicos que eu aceitava em meu quarto eram Apolo e Jake, pois eles me lembravam de Matteo, do quanto ele havia mudado e nos aceitado em sua vida.
Tudo o que eu conseguia fazer era chorar e pensar em todas as possibilidades possíveis para o seu sumiço, mas eram tantas pessoas que o odiava que era praticamente impossível que nós achássemos os verdadeiros culpados, era como tentar achar uma agulha no palheiro, e nisso, a agulha eram Matteo e ALessandro. Eu sabia que os soldatos estavam à procura do seu Dom aos mandos de Giovanni, mas nada disso estava adiantando ou era o bastante, pois eles ainda não haviam o encontrado.
Os meus pensamentos vagueiam até aquela noite, tentando repassar cada passo ou cada palavra dita de forma diferente, e a única pessoa que me vem à mente é Nora e sua amiga desconhecida no banheiro. Ela sabia muito bem que eu estava no banheiro ouvindo tudo o que elas diziam, toda aquela sua encenação tinha um propósito e eu precisava saber qual era. Eu não sabia explicar, mas havia algo que me impulsionava a sempre pensar nela quando o assunto era o sumiço do meu marido, eu sentia que ela tinha alguma coisa a ver com isso.
E é com esse pensamento que eu finalmente decido me levantar da cama, tomo um banho e coloco um vestido condizente com o meu estado de espírito, preto. Mesmo eu tendo toda a certeza no meu coração de que Matteo ainda estava vivo, eu estava de luto por dentro, pois alguém havia arrancado uma parte feliz de dentro de mim ao levar o meu marido, ele era a minha alegria. Todos os dias eu o espera chegar em casa para passarmos o nosso tempo sozinhos, isolados do mundo, um mundo ao qual Matteo se abria e não se parecia em nada como o Dom que era na Cosa Nostra.
Olho a minha figura no espelho, o vestido preto de mangas compridas, era leve e elegante ao mesmo tempo, assim como os scarpins que havia escolhido. Decidi usar salto hoje, uma vez que eu evitava usá-los devido ao inchaço dos pés, mas hoje era diferente, um motivo pelo qual valia esse meu esforço, pois eu estava preparada para pisar na cabeça de uma serpente e vê-la se contorcendo aos meus pés.
Mando uma mensagem para Beatrice e logo ela me dá a informação que necessito. Desço as escadas e sou contemplada por inúmeros soldatos fazendo a ronda dentro de casa.
“Nada disso existia antes de levarem Matteo e tentarem me raptar também.”
Eles me observam como se eu fosse um ser de outro mundo, primeiro pelo fato de eu não sair do quarto há dias desde que eu cheguei do hospital, outro por eu não aceitar ver ou falar com ninguém, e por fim pelo meu ar carregado de escuridão. Pois, como muitos diziam eu era a luz em meio a escuridão de Matteo, nós contrastávamos muito nisso, mas nesse momento, tudo o que não existia em mim era luz. A solidão havia aprisionado a minha alegria, e com ela, uma aura de bondade se foi, e restou apenas trevas, assim como a ânsia por vingança. E eu a conseguiria a qualquer custo, não me importava em cima de quem eu teria que passar.
Encontro Cássio e Carlos na sala dos soldatos com vários outros, essa sala eles usavam para o descanso, Carlos tinha a sua perna machucada devido o tiro, mas não deixava de vir para cá todos os dias. Eles me olhavam surpresos devido ao meu aparecimento repentino.
_ Estou de saída, e não quero causar dor de cabeça a nenhum de vocês. Portanto, quem irá me acompanhar?
Vários se levantam ao mesmo tempo e se oferecem, inclusive Carlos.
_ Você está machucado, Carlos, e deveria estar descansando e não aqui. Cássio, você e Leonardo, venham.
Digo e já lhes dou as costas colocando os meus óculos escuros, pois precisava deles para me blindar um pouco do mundo. Deixo os dois confusos e para trás, sigo para a sala e para fora, onde ficam vários carros parados disponíveis para o uso imediato no dia a dia. Quando já estou quase abrindo a porta do Lamborghini Urus preto reluzente que Matteo adorava ir para o trabalho, Cássio se apressa e abre ele mesmo me dando passagem para entrar no banco de trás.
_ Para onde a senhora deseja ir?
_ Casa de Nora Ferrari.
Eles nem se dão o trabalho de ser discretos, eles viram completamente seus troncos em seus bancos para me encarar de olhos esbulhados. E se atropelam a dar explicações e motivos para eu não ir até lá.
_ Mas senhora, o que você faria lá? O Dom jamais permitiria que a senhora ficasse perto de Nora Ferrari dessa maneira. Ela não é uma das melhores companhias para se estar, até hoje não se casou, algo que não é bem visto no nosso mundo devido a idade que ela tem.
Olho para eles com a melhor feição de irritada que posso fazer, e digo:
_ Só porque ela já foi amante do meu marido? Olha aqui, é muito mais fácil que vocês me levem, do que eu mesma vá sozinha, arriscar a minha vida mais uma vez. Vocês escolhem, eu sei dirigir muito bem e não vejo problema nenhum em fazê-lo.
As minhas palavras o chocam, com certeza eles não esperavam que eu soubesse das traições de Matteo, mas infelizmente eu sabia.
_ Decidam logo, não estou com tempo e muito menos paciência para esperar por vocês.
_ Tudo bem, é claro que nós é quem devemos levá-la. A senhora não deve sair sozinha em hipótese alguma.
_ Então vamos.
Cássio arranca o carro e nós seguimos pelo caminho de pedras até o portão de entrada da mansão. Chegamos a casa de Nora com 15 minutos. Apesar da minha vontade de sair correndo e entrar na casa dela fazendo o maior escândalo ser grande, eu me contenho o máximo que posso como a mulher de um Capo deve ser. Saio do carro e sigo até a porta com os dois soldatos atrás de mim. Bato à porta e a senhora Vitoria Ferrari me atende. A surpresa estampada em seu rosto e logo após o medo, me fazem pensar que ela sabe muito bem as coisas que a sua filha é capaz de fazer para subir na vida, e com certeza ela concordava com todas elas. Mas isso só o tempo me mostraria, e pela minha paciência nesses últimos dias, era provável que eu o acelerasse de alguma forma, sendo ela violenta ou não.
Tiro os meus óculos de maneira sutil e a encaro lhe dando um olhar frio.
_ Boa tarde, senhora Ferrari. Não vai me convidar para entrar?
Digo com toda petulância que consigo, mas sem perder a classe.
_ É claro que sim, senhora Greco. Perdoe-me. Mas o que lhe trás até aqui hoje?
Entro e sigo para sala sem esperar que ela me guie por algum cômodo, e é claro que Cassio e Leonardo continuam atrás de mim.
_ Bom, muitas coisas me trazem aqui hoje, senhora Ferrari, mas conseguirei resolver apenas uma dessas coisas nesta tarde.
_ É mesmo?! E o que seria exatamente?
Ela era uma mulher que ia direto ao ponto nos assuntos que lhe interessavam e a tensão emanava dela em grande quantidade.
_ Sua filha está? Nora, não é?
Digo com desdém, como se pouco me importasse.
_ Está sim, se desejar, mando chamá-la.
_ Por favor, é ótimo que mais alguém se junte a nós.
Como se eu não estivesse doida para matá-la. Ela concorda e chama uma das empregadas para que ela peça a Nora que desça.
Cinco minutos depois ouço seus passos nos degraus da escada. Ela chega até a sala e me encara. E pela primeira vez eu estava cara a cara com a amante do meu marido.
_ Olá Nora, eu realmente ansiava por esse momento.
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A libertação do amor - Livro II |COMPLETO|
RomanceMatteo se tornou um homem ainda mais frio. Nem mesmo o seu casamento com Helena o fez mudar completamente. Ele não se achava digno de receber amor, mas também não queria admitir por completo seus sentimentos. Mas o que Helena não sabia, era que sua...