Capitulo 01

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14:30, o sinal tocou, a aula finalmente acabou. Agarro minha mochila e vou até o estacionamento da escola. Me perco em meus pensamentos enquanto caminho até meu carro.

-Alina!- grita Lana, do outro lado do estacionamento- Me espere!

Lana é minha melhor amiga desde que eu me entendo por gente. Não nos lembramos exatamente quando nos conhecemos, a única coisa que sabemos é que nossa conexão é tão profunda, que faríamos qualquer coisa pela nossa amizade.

-Ah, desculpe Lana, estava tão distraída que acabei me esquecendo que prometi te dar carona até a minha casa hoje.

-Tudo bem, sem problemas. Então, o que estamos esperando?

Entramos no carro e passamos o cinto de segurança. O trânsito estava estranhamente pesado em uma cidade tão pequena quanto Corning, uma cidade perdida no meio do estado de Nova York. Por aqui, somos pouco mais de 15.000 habitantes. Nesse pedaço de fim de mundo nunca acontece nada de muito interessante; os eventos são os mesmos de sempre, os jogos de futebol super competitivos entre as escolas, o campeonato de líderes de torcida, festas dadas por jovens em suas casas, e alguns acontecimentos ainda menos interessantes. Tirando o Festival de Outono, isso sim é bom; toda a flora da cidade em tons terrosos, o chão coberto de folhas, o clima levemente frio causado pela breve chegada do inverno.

Eu, minha mãe e meu padrasto sempre vamos até o o campo comemorar com toda a cidade. Nunca entendi muito bem o motivo da celebração, e eu também não me importo. Ela é uma mulher incrível e a única coisa que sei, é que só de estar ali com ela, já torna tudo isso ainda mais suportável. Desde que meu pai decidiu viajar para fora do país por, nas palavras dele, "curtos 5 meses", e esqueceu de voltar, tudo começou a dar errado. Quando digo "tudo" me refiro a minha vida em casa. 4 anos após a "fugidinha" do meu pai, minha mãe se casou com David, um homem no mínimo, miseravelmente detestável. Aquele ser humano simplesmente não desce pela minha garganta. Mas se minha mãe está feliz com ele, quem sou eu para falar alguma coisa?

-Ei!- diz Lana- Podemos dar uma passada na minha casa? Esqueci de pegar meu notebook.

-Ok. Mas e aí? Me diz, como vão as coisas com o Jorge, já se reconciliaram da última briga?- pergunto enquanto giro o volante para virar na rotatória, indo até a casa de Lana.

-Eu não sei dizer, já faz uma semana que não nos falamos...

-Por quê vocês brigaram mesmo? Realmente não me lembro.

-Não me surpreendo - ela solta uma risada - Ele surtou quando eu contei pra ele que iria fazer o trabalho de filosofia com a Diana, disse que ela era uma sem vergonha, e que iria me influenciar e logo eu estaria traindo ele.

-Uau, ele realmente não se enxerga não é? Acha que por ser mais velho pode mandar em você. Você sabe que eu nunca gostei dele.

-Sei disso Ali, mas eu amo ele, eu só queria que você entendesse isso. Ele me ajudou demais.

-No que exatamente Lana, em quê aquele palerma já conseguiu te ajudar?

-Não chama ele assim Alina! Aquele "palerma" se chama Jorge e você sabe disso! - ela franze as sobrancelhas, mas logo se suaviza - Quando meus pais ameaçaram se divorciar, ele foi meu apoio, meu único sustento.

-Eu também estava lá para você Lana! Eu sempre estou...

-Sei disso Alina, e serei imensamente grata, mas ele é um ponto de força pra mim, nós somos.... Ah, acho que a palavra "nós", já é inadequada. A briga foi feia, não sei o que vai acontecer agora.

Paramos em um semáforo, então quando olho para ela, vejo seus olhos mais brilhantes devido às lágrimas prestes a cair.

-Mas enfim, aconteça o que acontecer, eu vou ficar bem. - ela diz enquanto enxuga os olhos com as costas da mão direita.

Apenas sorrio e confirmo com a cabeça, me destrói ver ela tão dependente de alguém como Jorge. Ele tem 25 anos, é policial, enquanto Lana tem 19, e é apenas uma estudante. Os dois vivem em pé de guerra. Os motivos podem ser bem variados, as vezes uma ligação não atendida, ou um sumiço de 4 dias sem motivo aparente.

Após alguns minutos, estaciono o carro em frente à casa de Lana, é uma típica casa azul de cercas brancas e um jardim estranhamente muito bem aparado. Desde que os pais de Lana se resolveram, a casa anda cada vez mais bem cuidada.

-Já volto! - Lana diz enquanto desce do carro e entra correndo em casa.

Menos de três minutos depois, ela já está de volta no banco do passageiro com o notebook em mãos.

-Como você foi tão rápida?

-Não me pergunte, mas pode ter sido o fato de que eu tropecei ao descer as escadas e rolei o resto do caminho até a porta, isso deve ter deixado tudo muito mais rápido!

Rimos juntas enquanto ligo o carro para irmos para minha casa.

Lana não mora muito longe de mim, apenas alguns quarteirões de distância. Chegando em casa, percebemos um movimento estranho na minha rua. Tem carros demais, tem gente demais... O que aconteceu?

-Ali... o que houve aqui?

-Lana, a única coisa que reúne tantas pessoas assim num bairro tão calmo... É um acidente!

Acelero um pouco mais até chegar em casa. Rapidamente destravamos os cintos e descemos na calçada. Vejo uma ambulância, uma viatura da polícia, meus vizinhos todos estão em frente a minha casa, eu poderia dizer que a cidade toda está em frente a minha casa. Um sentimento de medo começa a tomar conta de mim. Corro para a porta de casa mas um policial me segura bruscamente, era Jorge.

-Me solta agora! O que está acontecendo? Cadê a minha mãe, ela estava em casa quando eu saí. Onde ela está?!

Jorge olha nos meus olhos, e então olha para a esquerda, sigo seu olhar e então o meu mundo desabou...

Não tão doce liberdade Onde histórias criam vida. Descubra agora