Capítulo 05

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TRÊS SEMANAS DEPOIS

Já faz um tempo que moro com David. As coisas entre nós deveriam ter melhorado, mas eu não o suporto, e ele pensa o mesmo sobre mim. Agora, mais do que nunca, sei que ele apenas me aturava por ser filha da esposa dele, e tenho ciência de que ele só mora comigo porque está confortável nesta casa, no entanto, hoje sou só uma garota com quem ele divide a morada. Mal nos falamos durante o dia, e quando nos falamos, sempre é pra brigar. Brigamos sobre quem vai fazer as compras, quem vai pagar as contas, quem vai pagar o jardineiro, entre outras coisas. Está cada vez mais cansativo viver aqui.

Hoje é a primeira vez que volto para a escola depois da morte da minha mãe, demorei superar, mas consegui, me livrei de todo o sofrimento, ainda sinto sua falta, é claro, mas estou bem, ainda tenho toda a minha vida para viver. Estou indo para a escola andando hoje, meu carro está na oficina desde ontem, para consertarem o estrago do acidente de algumas semanas atrás, além disso, o mecânico encontrou mais alguns defeitos, então decidi deixá-lo por lá mesmo. Olho para cima, para as folhas das árvores, elas estão cada vez mais secas, o verão já está acabando e o outono, minha estação preferida, vai chegar com tudo, com suas fortes ventanias e seu tom alaranjado, simplesmente perfeito.

-Merda! -estava tão distraída admirando as folhas, que tropecei em uma lajota, e fui de encontro ao chão.

-Ei garota, tá tudo bem? -ouço uma voz feminina, vindo de cima, me perguntar. É uma garota, ela estende a mão para me ajudar. Sua aparência me espanta por um momento, sua beleza é etérea, ela tem um cabelo curto divino. Uau, quem é essa garota?

Aceito sua mão como apoio para me levantar. Agora, de pé, digo:

-Muito obrigada -passo as mãos pela minha roupa, limpando e conferindo, quando termino, estico a minha mão para cumprimenta-la- prazer, me chamo Alina.

-Prazer Alina, sou Carpe, Selene Carpe -por um momento, ao observar seu rosto, reparo que ela se parece com alguém que conheço- As árvores são realmente lindas, mas você deveria parar de olhar pra elas enquanto anda.

-Como sabe que eu estava olhando para as árvores?

-Eu estava te assistindo enquanto dirigia, imaginei que tropeçaria, então apenas esperei o desastre. -ela deu uma risada. Sua ousadia também me lembra outra pessoa, mas ainda não sei quem.

Observo ao redor e há um Porsche preto parado na rua, com uma porta entreaberta. Um Porsche! Quem é essa garota?

-Aproveitando o super casual encontro, -diz, com ironia- quer uma carona?

Penso na oferta, quais são as chances de, se por acaso eu entrar no carro de uma estranha, ser assassinada, sequestrada?
Está na cara que ela é rica, mas e se ela ganhar o dinheiro traficando órgãos, e se eu for a próxima vítima?

-Alina? Ei, vamos ou não?

-Ah, claro, o que pode dar errado? -eu realmente deveria participar das aulas de teatro, consegui esconder todo o meu medo por trás de um sorriso.

Entramos no carro. Ao chegar na escola, descemos do carro; todos estão me olhando, por que? Logo me recordo, eu fiquei duas semanas sem vir a escola, e quando volto, apareço em um carro de luxo de uma total estranha, talvez um pouco inesperado.

-Tá todo mundo te olhando, posso saber o porquê?

-Resumindo, minha mãe morreu e eu fiquei duas semanas sem vir a escola.

-Sinto muito, mas que bom que você está de volta!

A atenção popular dura cerca de 15 minutos, apenas; logo, todos já estão concentrados em outras coisas. Agradeci Selene pela ajuda e pela carona, e então nos despedimos. Caminho até meu armário para encontrar Lana, combinamos de nos encontrar aqui; mas não a vejo. Ela deve ter ido direto para a sala de aula, suponho. Noto uma movimentação atrás da porta do meu armário, então a fecho. É um garoto.

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