Definitivamente, se fosse possível morrer de felicidade, eu deveria me controlar, porque eu estaria tendo um infarto agora mesmo. Estou dirigindo para casa, dando gritinhos histéricos durante o trajeto, sei que geralmente sou uma pessoa um pouco mais contida. No rádio, está tocando High Hopes, da banda Panic! At The Disco. Bem adequada não?
Eu estou tão feliz que facilmente jogaria o meu carro de uma ponte, e ficaria bem com isso. Ok Alina, controle-se. Agora eu ganho pouco mais do que o dobro do meu salário antigo e tenho um plano de saúde e odontológico excelente. Paro em um semáforo e meu telefone vibra, é uma mensagem de Liam.
@Liam: Ei! Eu, Laila e as crianças vamos fazer um jantar hoje à noite para comemorar, o que acha de vir? Já que você também ganhou...
@Alina: Que legal! Tem certeza, não quero estragar o seu jantar em família.
@Liam: Como você poderia estragar um jantar em família, se você faz parte dessa família?
@Alina: Ai ai... Só você mesmo, que horas eu chego?
@Liam: Esteja aqui as vinte horas. Traga um bom vinho. Eu sei que você é menor de idade, mas eu não falo pra ninguém que você bebeu, relaxa.
Ele fica off-line daí em diante. Escuto um carro buzinar atrás de mim. O sinal já estava aberto, e eu não percebi. Ele me ultrapassa e faz um gesto obsceno com a mão. Quanta falta de respeito. Eu retribuo o gesto, não me julgue, ele mereceu. Sei que era eu que estava parada, mas ele não podia simplesmente ter parado na buzina?
Enquanto continuo meu trajeto para casa, penso, que estou totalmente ferrada, como eu vou conseguir comprar vinho tendo apenas dezenove anos, sendo que aqui no estado de Nova York, a maioridade só é atingida aos vinte e um? Vou ter que dar um jeito. Passo em um caixa eletrônico, saco parte do meu salário, e procuro por uma distribuidora. Encontro uma ao lado de um posto de gasolina.
Estou torcendo para que o atendente não peça minha identidade, se ele acreditar que sou maior de idade, posso seguir com a minha vida normalmente. Entro no estabelecimento, e sou recebida pelo ar frio — ou melhor, congelante — do local, quase como um aviso de que isso não vai dar certo. Vou até os fundos, nos freezers, procurando pelo vinho, mas não o encontro. Não tem como isso dar certo, eu não sei nem onde eles guardam vinho — ainda estou surpresa que não era em um freezer. Ando mais um pouco, e chego a algo parecido com uma mini adega, encontro o tão precioso vinho, e vou até o caixa. Se ele desconfiar que tenho apenas dezenove anos, já era. Ele passa a garrafa verde pela caixa registradora, e o valor de quarenta dólares aparece na tela de seu monitor.
-Débito, crédito, ou dinheiro? - ele pergunta. Até aqui tudo bem.
-Dinheiro — digo enquanto pego as notas dobradas no meu bolso e as entrego — Aqui.
Ele me encara por um tempo.
-Você tem quantos anos? — não costumo mentir, mas fazer isso não é a coisa mais difícil do mundo.
-Vinte e três — digo com naturalidade — Por que a pergunta?
-Você parece ter menos — ele diz, enquanto coloca a garrafa em uma sacola.
-Muito obrigada, todos dizem isso — sorrio, deixando a mentira mais com convincente —Tenha uma boa noite — saio pela porta.
Caminho normalmente, mas o meu corpo poderia derreter de alívio, assim eu seria apenas uma poça de Alina, se arrastando pelo chão. Entro no carro e vou para casa, me preparar para o jantar.
Destranco a porta de casa, coloco a garrafa na geladeira. Tomo um banho, penteio meu cabelo, visto uma calça skinny preta, uma regata branca e uma jaqueta xadrez cinza, já que está fazendo um pouco de frio. Calço coturnos pretos e estou pronta para ir, bem na hora, visto que faltam pouco minutos para dar vinte horas.
Chegando na casa de Liam, bato na porta e aguardo uma resposta, com o vinho em mãos. Logo, Nancye Brandon, os gêmeos, abrem a porta.
-Ah, Alina, você veio! — eles me recebe com um abraço caloroso — Papai, mamãe, a Alina chegou! — Nancy grita.
-Estamos na cozinha Alina, pode chegar — escuto Laila.
Entro pela casa, e vou de encontro a eles. Escuto as crianças fecharem a porta.
-Que bom que você veio! — Laila me abraça — Fazia um tempo que eu não te via, estava com saudades.
-Eu também, a última vez que nos vimos foi no velório da minha mãe.
-Não tive a oportunidade de dizer, então... Meus pêsames.
-Tudo bem, não se preocupe. Mas então, o que temos para hoje? — digo, esfregando as mãos uma na outra. Liam está no fogão, e o que quer que ele esteja preparando, cheira muito bem.
-Para o cardápio de hoje teremos filé de peixe grelhado, purê de batatas e verduras assadas.
-Eca! — Brandon sussurra, quando ouve o pai falar sobre as verduras.
Me aproximo dele e sussurro:
-Eu ouvi você garotinho! — ele leva as mãos boca, em um gesto exagerado. Rio de sua reação.
Nos nos apoiamos no balcão, enquanto tomamos vinho, jogando conversa fora, e logo o jantar está pronto. Sentamos na mesa, e nos servimos. Enquanto comemos e bebemos, Nancy diz:
-Eu também quero beber vinho papai! — rimos de seu pedido.
-Você não pode beber querida!
-Por que não? — ela diz, com uma voz fofa.
-Por que você é menor de idade filhinha! — Laila responde.
-Mas a Alina também é! — ela refuta o argumento da mãe. Todos na mesa olham para mim e dou mais um gole na taça. Gargalhamos juntos da situação.
-Se você for uma boa garota, quando for mais velha, deixaremos você tomar — Liam diz. Nancy parece concordar com a condição, e continua comendo.
-Como está David? Ainda um completo sem noção? — Laila pergunta, iniciando um novo assunto.
-Eu não sei te dizer, não moramos mais juntos a algumas semanas.
-Como assim? — agora me lembro, eles não sabiam da minha emancipação. Explico tudo o que aconteceu a eles.
-Uau Alina, você passou por tudo isso? Uau... — aceno a cabeça, em movimento de confirmação para Liam
-Saiba que sempre que precisar de algo, pode contar conosco, você faz parte dessa família — Laila coloca a mão sobre a minha — Sempre...
Conversamos e rimos mais um pouco, brinco com as crianças, lavo as louças e chega a hora de eu ir.
-Muito obrigada por hoje — digo para os dois, já na porta da casa, eles estão abraçados, Liam está com o queixo apoiado na cabeça ruiva da esposa, que por sua vez está com as mãos no peito do marido, adoráveis — Foi incrível, só a comida que não estava tão boa assim! — tiro sarro da cara de Liam, ele ri — Mas sério mesmo, estava tudo perfeito!
-Volte sempre que puder Alina, gostamos de te ter por perto...
Nos despedimos, dou um beijo nas crianças, e vou embora.
Enquanto dirijo, penso, que a única palavra adequada para essa noite é "magnífico". Eu amo aquela família, e me conforta saber que amam também, me conforta saber que alguém além de Lana me ama. Eu não tenho o amor da minha mãe, eu poderia mentir para mim mesma, dizendo que eu vou carregar o amor dela pra sempre comigo, e que ela está me acompanhando, mas eu prefiro me contentar com a realidade, mesmo que ela seja a mais dolorosa possível.
Meus pensamentos me levam até meu pai, onde será que ele está? Será que ele ao menos está vivo? Será que ele pensa em mim? Será que ele sente minha falta? Será? Será? Será.... São tantas dúvidas. Antes que eu perceba, estou em lágrimas. Por mim tudo bem, estou sem meus pais, sem uma família, sem ninguém que seja sangue do meu sangue.
No prédio, subo as escadas, ainda chorando. Quando chego no corredor do meu apartamento, vejo David, parado em frente a minha porta.
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Não tão doce liberdade
Teen FictionAlina Beyond é uma garota cheia de personalidade e uma visão um tanto atípica do mundo. Sua vida vira do avesso quando sua mãe morre, e ela fica as custas de seu padrasto, David. Como a relação deles não era das melhores, e seu pai está desaparecido...