Ficamos em silêncio por alguns instantes.
-Ele ia dopar você. - ele fala, olhando para a janela.
-O que? Como assim? - não estou conseguindo entender.
-Eu estava olhando para vocês quando ele jogou um comprimido na sua bebida!
-Mas como? Eu não vi nada!
-Você estava olhando para o teto da boate. Você deveria prestar mais atenção no seu copo quando vai a uma festa, até parece que tem quatorze anos de idade!
-Eu não pedi sua ajuda!
-Da próxima vez, eu deixo você nas mãos de qualquer cara por aí Alina! - Descemos do carro.
-Eu vou entrar com você, para te ajudar a limpar todo esse sangue. - digo
-Não precisa, eu me viro. - ele passa a mão no lábio cortado, aparentemente tentando aliviar a dor.
-Você está destruído, me deixa te ajudar e não seja um idiota!
-Você oferece ajuda de uma maneira muito agradável sabia? - ele diz, enquanto tira uma chave do bolso da calça - Entra logo.
O interior da casa de Lucas é lindo, em tons monocromáticos de cinza, com algumas outras cores nos locais certos.
-Não se preocupe em fazer barulho, meus pais não acordam tão facilmente - ele me explica, enquanto vai até um armário pegar o kit de primeiros socorros. Ele coloca a caixa em cima da mesa da cozinha, e se senta em uma cadeira branca.
Pego um lenço umedecido e limpo suas feridas, começando pelo supercílio. Seu maxilar também está machucado. Meu rosto está próximo ao dele, consigo ver o quanto ele é atraente. Não posso negar, ele é lindo. Um desperdício de beleza em um corpo com tão pouco caráter.
-Ai, toma cuidado!
-Então fica quieto!
-Por que você está fazendo isso?
-Isso o que?
-Me ajudando, você poderia estar em casa agora, são quase uma hora da manhã.
-Lucas, você não é minha pessoa favorita no mundo, mas tenho que admitir, você me salvou hoje. Eu nem quero imaginar o que poderia ter acontecido se você não estivesse lá. Obrigada, sério.
-Não precisa agradecer, eu nunca deixaria alguém encostar uma mão em você, nunca.
-Ah... Ok. - não sei como responder a isso - Fica quieto pra mim terminar aqui. - assim ele faz. Enquanto continuo limpando suas feridas, o sinto me analisando. Ele olha minha boca, meu nariz, meu cabelo, e por fim, meus olhos.
-Seus olhos são verdes!
-Sim, porque o espanto?
-Jurava que eram castanhos, são lindos. Nunca tinha os olhado de tão perto, é uma visão privilegiada... - ele está paquerando comigo?
-Bom Lucas, acho que já terminei, se tiver faltado alguma coisa, sei que você consegue se virar. Vou indo.
-Ei! - ele se levanta, ficando frente a frente comigo - O que você tem? Estávamos bem agora mesmo!
-O que eu tenho? Eu tenho que ir pra minha casa!
-Alina! O que eu fiz de errado? - ele não perguntou isso.
-Você tem muita coragem não é, porque noção... Está me perguntando o que você fez? Sério mesmo?! Deixa eu refrescar sua memória. Sábado, festa dos Carpe!
-Ah, isso...
-Que bonitinho, você lembrou! Agora já posso ir! - eu realmente estou irritada agora.
-Você não vai esquecer nunca?
-Você brincou com os meus sentimentos, e acha que vai ficar tudo bem? Você só pode ser louco. Mas quer saber, você está certo, nem nos beijamos, não tivemos nada demais! - evito gritar.
-Alina...
-Aliás, esquece que eu já estive aqui, esquece que eu existo! - procuro pela minha bolsa, mas não a encontro.
-Alina você pode parar de falar só por um segundo e me deixar falar?
-Anda logo, mas não acho que seja nada que valha o meu tempo.
-Me... Me desculpa! - ok, por essa eu não esperava. Solto uma risada - Por que você está rindo?
-Para de palhaçada, acha mesmo que eu vou acreditar nesse teatrinho?
-Alina, me perdoa, eu não devia ter feito aquilo com você... Você não merecia.
-Disso eu sei, mas por que você pensa assim agora? - me acalmo.
-Por que eu não devia ter feito aquilo com você? Por que é você, Alina - ele se aproxima de mim, meu corpo se sente atraído pelo dele, não posso negar - Só por favor, apaga da sua mente o que eu fiz.
-Por que você está me pedindo desculpas Lucas?
-Está achando ruim Alina?
-De forma alguma - seguro a risada - Por favor, continue.
-Olha, eu fui um babaca.
-Correção, você é um babaca!
-Ok Alina, eu sou um babaca.
-Agora sim!
-Então, o que me diz, eu tenho o seu perdão? - eu posso passar o resto da minha vida com raiva dele, ou eu posso perdoa-lo. A primeira opção me parece muito atraente, mas sei que vou escolher a segunda.
-Ok... Tudo bem, eu esqueço as merdas que você fez! - nos abraçamos, em sinal de paz. Gosto da sensação dos nossos corpos colados.
-Mas então, você vai pra casa mesmo? - nos soltamos e ele pergunta.
-Sim, vou chamar um táxi.
-Sério? Fica aqui, o quarto de hóspedes está vazio, chamar um táxi a essas horas pode ser muito perigoso Alina. E se você ficar, eu te levo em casa bem cedo, pra você tomar um banho e ir pra escola - avalio bem a situação, acho que não fará mal passar a noite aqui.
-Tudo bem, eu fico.
Subimos as escadas, e ele me leva até o quarto que iriei dormir. Ele arruma a cama para que eu me deite.
-Espera só um minuto, eu já volto - ele sai, mas logo está de volta com uma camisa cinza e short branco em mãos - Veste isso, seu vestido ainda está úmido. São roupas minhas, espero que não se importe.
-Muito obrigada, e não tem problema. Já pode ir, não se preocupe.
-Bom, se precisar de algo, pode me chamar, o meu quarto fica no final do corredor - ele se retira, e fecha a porta.
Agora sozinha, tiro meu vestido, e visto as roupas que Lucas me deu. Ficam bonitas? Não, mas ao menos estou seca e confortável, mesmo que seja com as roupas dele. Lavo meu rosto na pia do banheiro e me deito. Hoje foi uma loucura. Quase fui dopada e perdoei Lucas. Desde que minha mãe morreu, as coisas tem sido bem diferentes. Adormeço pensando nela, mas sem dor, sem sofrimento, apenas saudade.
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Não tão doce liberdade
Teen FictionAlina Beyond é uma garota cheia de personalidade e uma visão um tanto atípica do mundo. Sua vida vira do avesso quando sua mãe morre, e ela fica as custas de seu padrasto, David. Como a relação deles não era das melhores, e seu pai está desaparecido...