Capítulo 16

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Ficamos em silêncio por alguns instantes.

-Ele ia dopar você. - ele fala, olhando para a janela.

-O que? Como assim? - não estou conseguindo entender.

-Eu estava olhando para vocês quando ele jogou um comprimido na sua bebida!

-Mas como? Eu não vi nada!

-Você estava olhando para o teto da boate. Você deveria prestar mais atenção no seu copo quando vai a uma festa, até parece que tem quatorze anos de idade!

-Eu não pedi sua ajuda!

-Da próxima vez, eu deixo você nas mãos de qualquer cara por aí Alina! - Descemos do carro.

-Eu vou entrar com você, para te ajudar a limpar todo esse sangue. - digo

-Não precisa, eu me viro. - ele passa a mão no lábio cortado, aparentemente tentando aliviar a dor.

-Você está destruído, me deixa te ajudar e não seja um idiota!

-Você oferece ajuda de uma maneira muito agradável sabia? - ele diz, enquanto tira uma chave do bolso da calça - Entra logo.

O interior da casa de Lucas é lindo, em tons monocromáticos de cinza, com algumas outras cores nos locais certos.

-Não se preocupe em fazer barulho, meus pais não acordam tão facilmente - ele me explica, enquanto vai até um armário pegar o kit de primeiros socorros. Ele coloca a caixa em cima da mesa da cozinha, e se senta em uma cadeira branca.

Pego um lenço umedecido e limpo suas feridas, começando pelo supercílio. Seu maxilar também está machucado. Meu rosto está próximo ao dele, consigo ver o quanto ele é atraente. Não posso negar, ele é lindo. Um desperdício de beleza em um corpo com tão pouco caráter.

-Ai, toma cuidado!

-Então fica quieto!

-Por que você está fazendo isso?

-Isso o que?

-Me ajudando, você poderia estar em casa agora, são quase uma hora da manhã.

-Lucas, você não é minha pessoa favorita no mundo, mas tenho que admitir, você me salvou hoje. Eu nem quero imaginar o que poderia ter acontecido se você não estivesse lá. Obrigada, sério.

-Não precisa agradecer, eu nunca deixaria alguém encostar uma mão em você, nunca.

-Ah... Ok. - não sei como responder a isso - Fica quieto pra mim terminar aqui. - assim ele faz. Enquanto continuo limpando suas feridas, o sinto me analisando. Ele olha minha boca, meu nariz, meu cabelo, e por fim, meus olhos.

-Seus olhos são verdes!

-Sim, porque o espanto?

-Jurava que eram castanhos, são lindos. Nunca tinha os olhado de tão perto, é uma visão privilegiada... - ele está paquerando comigo?

-Bom Lucas, acho que já terminei, se tiver faltado alguma coisa, sei que você consegue se virar. Vou indo.

-Ei! - ele se levanta, ficando frente a frente comigo - O que você tem? Estávamos bem agora mesmo!

-O que eu tenho? Eu tenho que ir pra minha casa!

-Alina! O que eu fiz de errado? - ele não perguntou isso.

-Você tem muita coragem não é, porque noção... Está me perguntando o que você fez? Sério mesmo?! Deixa eu refrescar sua memória. Sábado, festa dos Carpe!

-Ah, isso...

-Que bonitinho, você lembrou! Agora já posso ir! - eu realmente estou irritada agora.

-Você não vai esquecer nunca?

-Você brincou com os meus sentimentos, e acha que vai ficar tudo bem? Você só pode ser louco. Mas quer saber, você está certo, nem nos beijamos, não tivemos nada demais! - evito gritar.

-Alina...

-Aliás, esquece que eu já estive aqui, esquece que eu existo! - procuro pela minha bolsa, mas não a encontro.

-Alina você pode parar de falar só por um segundo e me deixar falar?

-Anda logo, mas não acho que seja nada que valha o meu tempo.

-Me... Me desculpa! - ok, por essa eu não esperava. Solto uma risada - Por que você está rindo?

-Para de palhaçada, acha mesmo que eu vou acreditar nesse teatrinho?

-Alina, me perdoa, eu não devia ter feito aquilo com você... Você não merecia.

-Disso eu sei, mas por que você pensa assim agora? - me acalmo.

-Por que eu não devia ter feito aquilo com você? Por que é você, Alina - ele se aproxima de mim, meu corpo se sente atraído pelo dele, não posso negar - Só por favor, apaga da sua mente o que eu fiz.

-Por que você está me pedindo desculpas Lucas?

-Está achando ruim Alina?

-De forma alguma - seguro a risada - Por favor, continue.

-Olha, eu fui um babaca.

-Correção, você é um babaca!

-Ok Alina, eu sou um babaca.

-Agora sim!

-Então, o que me diz, eu tenho o seu perdão? - eu posso passar o resto da minha vida com raiva dele, ou eu posso perdoa-lo. A primeira opção me parece muito atraente, mas sei que vou escolher a segunda.

-Ok... Tudo bem, eu esqueço as merdas que você fez! - nos abraçamos, em sinal de paz. Gosto da sensação dos nossos corpos colados.

-Mas então, você vai pra casa mesmo? - nos soltamos e ele pergunta.

-Sim, vou chamar um táxi.

-Sério? Fica aqui, o quarto de hóspedes está vazio, chamar um táxi a essas horas pode ser muito perigoso Alina. E se você ficar, eu te levo em casa bem cedo, pra você tomar um banho e ir pra escola - avalio bem a situação, acho que não fará mal passar a noite aqui.

-Tudo bem, eu fico.

Subimos as escadas, e ele me leva até o quarto que iriei dormir. Ele arruma a cama para que eu me deite.

-Espera só um minuto, eu já volto - ele sai, mas logo está de volta com uma camisa cinza e short branco em mãos - Veste isso, seu vestido ainda está úmido. São roupas minhas, espero que não se importe.

-Muito obrigada, e não tem problema. Já pode ir, não se preocupe.

-Bom, se precisar de algo, pode me chamar, o meu quarto fica no final do corredor - ele se retira, e fecha a porta.

Agora sozinha, tiro meu vestido, e visto as roupas que Lucas me deu. Ficam bonitas? Não, mas ao menos estou seca e confortável, mesmo que seja com as roupas dele. Lavo meu rosto na pia do banheiro e me deito. Hoje foi uma loucura. Quase fui dopada e perdoei Lucas. Desde que minha mãe morreu, as coisas tem sido bem diferentes. Adormeço pensando nela, mas sem dor, sem sofrimento, apenas saudade.

Não tão doce liberdade Onde histórias criam vida. Descubra agora