O Acordo

Capítulo 2 - Conhecendo o Inimigo

Miguel

Quando soube que teria que me casar eu achei que era piada.Juro que até procurei as câmeras escondidas,mas não era.Agora eu me pergunto o que diabos meu pai estava pensando com essa ideia de casamento.Se ele acha que eu vou sossegar e parar com as minhas farras ele está muito enganado. Casar em duas semanas e com alguém que eu só vi algumas vezes quando era adolescente.Bem,de qualquer forma vou procurar fotos dela na internet.Ela deve ter um facebook,todo mundo tem e sendo filha de quem é aposto que tem algum podre.Vejamos,hum até que ela é bonitinha,dá pro gasto;achei também reportagens de alguns eventos,fotos dela com o pai,tem até uma foto dela com um gato.Odeio gatos;só espero que  ela não invente de levar esse pulguento com ela.

Ligo pro meu amigo Jonny e peço pra ele me encontrar no bar que tem em frente ao meu apartamento.Preciso de um wisky duplo pra digerir essa merda toda de casamento arranjado.

- Fala ae cara.Beleza?

- Tá tudo uma merda.Tu não sabe da última.Vou me casar.

- Hahaha tá brincando né? Não me diga que a Patrícia conseguiu colocar uma coleira no seu pescoço depois de tanto tempo.

-Que Patrícia o que.Conhece a Sarah Jones?

-Só de nome.Ela não é filha daquele industrial? Não sabia que você tava comendo ela.

-Yep ela mesma.Mas ainda não,não to comendo.

- Que merda você arrumou hein cara?

-Ah,é uma longa história.E você tá convidado pra esse circo no qual eu serei o palhaço e atração principal.

- E a Patrícia,contou pra ela?

- Ainda não,mas ela sabe ser discreta.

- Então vamos brindar aos golpes que a vida nos dá.- ele diz rindo.É claro que está rindo não é ele quem vai fazer papel de idiota na frente de todo mundo.

Chego ao meu apartamento às duas da manhã.Até que hoje eu cheguei cedo.A luz do abajur tá acesa,estranho. Não costumo deixar luz nenhuma acesa.Ando uns dois passos,mas acabo tropeçando no controle da TV, puta merda tem alguém aqui. Vou até a cozinha e pego uma faca,muito valente da minha parte usar uma faca pra me defender quando provavelmente tem um cara armado no meu apartamento.Ando devagar até chegar ao quarto,me aproximando da porta e abro tentando não fazer barulho.Acendo a luz rápido com meu coração a mil.

-Pai! Puta que pariu, que susto.

- Dá pra abaixar essa merda dessa faca?- parece preocupado.Claro né quase o esfaqueei.

Coloco a faca em cima da mesa.

- O que o senhor tá fazendo aqui a essa hora?Tá meio tarde né.Como conseguiu a chave?

- Não consegui falar contigo,queria saber se tá tudo bem.

Pego meu celular no bolso da calça.Descarregado.

-Meu celular descarregou.

-Tudo bem,eu já estou indo.Não se esqueça que amanhã,no caso hoje a noite, é o jantar na casa da sua noiva.

Reviro os olhos.- Não dá pra esquecer.

Ele passa por mim me dando um tapinha no braço e sai do apartamento.

Sarah

Hoje é o tal jantar com a família do Miguel,sinto que estou assinando minha sentença de morte.Não contei pra ninguém ainda. Sophie iria rir da minha cara e achar que sou louca;loucos são meus pais,me casar assim sem mais nem menos.Mas eu sempre posso dizer não.Sempre quis ir a um casamento em que a noiva virasse pro noivo e dissesse NÃO ao invés de sim.Um sonoro NÃO.Eu nunca vi isso acontecer,mas sempre posso revolucionar e ser a primeira né.

Estou deitada na minha cama com os fones no volume máximo;violeta está deitada na minha barriga.Amo essa gata,não sei o que faria se algo acontecesse com ela.

-SARAH! Por que ainda não está pronta ?O jantar é daqui a uma hora.

-Mãe,tanto faz eu estar presente ou não se vocês já decidiram por mim.

-Sim,querida,mas não é educado ficar trancada no quarto enquanto seu noivo está lá embaixo.

- Tá,quando chegar a hora eu desço.

-Nem pensar.Você vai se arrumar agora.Coloque um vestido e passe uma maquiagem.- ela me faz levantar da cama e me empurra em direção ao closet.

Fico sentada na poltrona de veludo encarando minhas roupas por um bom tempo até que desisto pego um vestido longo preto,faço uma trança frouxa,coloco um batom nude,completo com um scarpin preto.Quando desço as escadas minha mãe me olha de cima a baixo, mas não diz nada.Melhor assim.

-Eles vão chegar a qualquer minuto.- meu pai diz.-E Sarah,comporte-se,não pode perder essa oportunidade.

-Claro, papai- respondo com um sorriso amarelo.

A campainha toca e nosso mordomo,Fred vai atender a porta.

-Olá,sejam bem-vindos.Minha esposa Julliete e minha filha Sarah. – Olho por trás do ombro do senhor Hoffmann e vejo um homem moreno de olhos azuis e um sorriso debochado.

-Prazer. - digo estendendo a mão.Miguel a beija e dá um sorriso de lado.Puxo minha mão rapidamente.O senhor Hoffman limpa a garganta.

- Não precisa dessas formalidades,Richard.O jantar de hoje é só para os pombinhos se entenderem – diz o senhor Hoffmann pro meu pai.

-Claro,James.Vamos até meu escritório.Tenho um assunto urgente para tratar com você.

- Margareth,como foi sua viagem para Milão?- minha mãe começa.Será que ela poderia ser mais bajuladora ?

- Foi ótima,querida.Os desfiles da semana de moda são divinos.Venha,vamos dar um pouco de privacidade aos noivos.

- Então...você está linda. – ele diz. Apontando para o vestido.Vejo que está tão sem jeito quanto eu.

-Obrigada.

Elas saem da sala me deixando a sós com Miguel.  

- É uma pena que tem que ser desse jeito.O casamento,quero dizer.

- É sim...

- Você até que é bonitinha,talvez se a gente tivesse se conhecido em outra situação eu pudesse até gostar de você.

-Como é que é?

- Fique sabendo que eu só concordei com essa palhaçada porque meu pai me disse que ganharia um cargo de confiança na empresa.

-Sei...sabe você é um....

-Sarah,querida,traga seu noivo.O jantar será servido – minha mãe me interrompeu logo quando eu ia dizer umas verdades pra esse aí.Caminhamos em silêncio até a sala de jantar.Me sento ao lado da minha mãe e Miguel ao meu lado.Os empregados trazem a entrada: carpaccio de polvo.Geralmente eu adoro frutos do mar,mas hoje não desce nada,nem esse casamento.

Meu pai começa a conversar sobre o casamento com o senhor Hoffmann, mas eu não estou prestando a menor atenção.Só penso no quanto eu gostaria de sair daqui,estar em outro lugar,qualquer lugar menos aqui.

- O que você acha,Sarah? – minha mãe pergunta.

-Desculpe,não estava prestando atenção.

- Percebi.Estávamos falando sobre a festa de casamento.Sobre ser uma festa simples,já que essa união foi tão repentina.

-Escolha por mim, mamãe.Como se a senhora e o papai não tivessem feito isso antes.Com licença. – digo jogando meu guardanapo em cima da mesa e me levantando.

-Sarah!! – minha mãe me grita, mas já é tarde demais,já estou a caminho do jardim.Preciso de ar puro.