Promovida

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#Lyra#

Acordei confusa naquela manhã, sem ter idéia de como havia chegado em casa, em minha cama, levantei-me devagar.

_ Oi garoto. _ disse atônita._ Vou colocar comida no potinho pra você.
Balancei o pote pra checar a quantidade, o barulho trouxe lembranças.
Meu estômago roncou em protesto.

_ Eu saí ontem pra comprar comida._ disse surpresa. _ O que aconteceu depois Lyra. Não pode apagar uma noite inteira. As memórias voltaram como o acender de uma lâmpada.

_ O beco._ disse baixo. _ Eu estava passando por lá quando aquele cara me empurrou._ sussurrei. lembrei-me de tentar correr, sem sucesso, meu pé enrroscou em algo no chão e caí o que permitiu que ele me alcançasse.
Lembrei-me de gritar, do desespero, dos palavrões que ele me chamou, sabia que iria morrer e por ironia a idéia não me assustou.
Mas de repente a mão que segurava meu pescoço se foi e eu tentei firmar os pés no chão.
Também lembrei do som que ouvi, o rosnado furioso, a voz implorando para não morrer e então tudo ficou escuro.

_ Alguém me salvou Linus. _ disse olhando o cachorro que comia tranquilamente. Olhei para a cama e vi o pequeno pedaço de papel repousando no travesseiro, peguei e li.
"Chega de passeios noturnos Lyra"

_ Mas quem foi, eu não conheço ninguém aqui. Você viu quem me trouxe pra casa Linus?_ perguntei novamente, o cachorro me olhava curioso._ Eu tenho que fazer alguns amigos ou te ensinar a falar garotão._ disse sorrindo, virei-me para o celular e ligou.

_ Porra. _ gritei antes de correr, já passava das 7 da manhã e me atrasaria para o trabalho.
Enquanto a água caía nas minhas costas a imagem do homem veio a cabeça, senhor Nicholai Northson.
Quando me inscrevi para a vaga de assistente não sabia que seria pra trabalhar pra um homem como aquele. Pensei com humor amargo em como minha vida estava um caos.
Meu pai estava morto, e minha mãe, a pessoa que deveria me apoiar e torcer por mim era uma alcoólatra degenerada. Como se o pensamento a invocasse o telefone tocou.

_ Oi, como você está?_ perguntou a mulher.

_ Atrasada, está sóbria dessa vez, que ótimo.

_ Não devia me julgar Lyra, não sente o mesmo que eu senti, nem sabe pelo que eu tenho passado.

_ Eu também perdi ele, e você podia ter segurado as pontas por mim, éramos tudo que a outra tinha e ainda sim você se afundou em bebida e dívidas._ disse alterada. Nunca a perdoaria por isso, só tinha 17 anos quando o meu pai foi morto por um motorista bêbado. Ele era o único da família que me oferecia compreensão, apoio, amor. Ele era o motivo pra ter feito o possível e o impossível pra me formar na faculdade, eu daria orgulho a Laurent Jones nem que seja a última coisa que eu faça na vida._ O que você quer? Eu não tenho dinheiro.

_ Eu preciso, pra comprar comida Lyra. Você tem a obrigação de me ajudar.

_ Arrume um emprego Jules._ falei encerrando a ligação. Estava farta de bancar a bêbada que a mãe se tornou.

Me vesti apressada e prendi os cabelos, passei pouca maquiagem e saí trancando a porta em seguida.
Desci as escadas rápido, torcendo para não tropeçar nos saltos, nunca fui bem coordenada, já tinha perdido as contas de todos os tombos que já levei.
Precisava do emprego, era qualificada demais para o cargo mas não havia mais como escolher. Passei o ano anterior me esquivando de investidas sexuais de patrões e me demitindo em seguida. Entrei no ônibus e sentei-me, dei uma olhada nos papéis que peguei para revisar a pedido da secretária de Nicholai e notei as discrepâncias nos valores dos lucros.
Entrei apressada no prédio e subi pelo elevador, passava 15 minutos do horário e estava desapontada comigo mesma.

O Clã Northson- NICK    Onde histórias criam vida. Descubra agora