Bêbado

107 6 0
                                    

#Nick#

O sorriso que a mulher me dera e sua empolgação a proposta me fizeram esquentar. Tão linda, os olhos grandes tão puros que me peguei imaginando mil formas de corrompe-la.
Como se isso não bastasse era inteligente, atenta e excepcional. Após sua declaração e possível denúncia decidi averiguar o que significam as discrepâncias das quais Lyra falou.
Fiquei surpreso ao descobrir a traição de Sônia, a mulher de meia idade estava ali a muitos anos, era tratada da melhor forma e tinha privilégios e acesso que poucos tinham na empresa. Ingrata, era a melhor palavra pra descrever tal humana.

_ Há uma questão a ser tratada, temos um vazamento._ falei ao telefone com o advogado/ faz tudo naquela manhã._ Uma funciona está desviando dinheiro da empresa, preciso que seja resolvido.

_ Legalmente ou no velho estilo sangue suga, senhor?_ perguntou o homem, era leal mas a linguagem era medíocre.

_ Legalmente Frakle, por isso você está no clã, não te aceitei por ser divertido.

_ É uma pena, mas ordem é ordem. Será feito.

_ Obrigado._ disse encerrando a ligação.
Aquela mulher lá fora, encarando "discretamente " era extraordinária.
Passei o resto da manhã e parte da tarde dividido entre o trabalho, assuntos do clã e o cheiro dela que parecia tentar-me a cometer algum atentado ao pudor.
Quando o problema com Sônia foi resolvido e ela foi demitida e processada a vaga de secretaria ficou vaga, mas em minha mente havia um letreiro gigante piscando com as palavras "Contrate Lyra".
Não havia motivo real para não fazer, era capacitada, competente, deliciosa. Bom, esse último era uma opinião pessoal. Não tendo mais dúvidas mandei que a papelada fosse providenciada pra que ela tomasse a posição.

Após a reunião em que ela havia sido elegantemente implacável e envergonhado meu associado, estava orgulhoso em como ela conduziu a situação. Minha mulher era perfeita.
Vi ela caminhar para fora do escritório, os sapatos de salto a deixavam mais alta mas ainda estava muito a baixo de mim. Feliz por ela ter aceitado o cargo, não que realmente houvesse forma de recusar, com o lugar em que ela morava precisava daquilo. Pensei em comprar uma casa de verdade na cidade, com segurança para que não houvesse riscos de ser atacada novamente mas sabia que ela não aceitaria.
Observei a moça transferir suas coisas para a outra mesa, não havia muito, algumas fotos de um homem na faixa dos 40 anos segurando instrumentos, algumas delas com uma menininha grudada a ele com sorrisos gigantes, o homem tinha os mesmos olhos que sua metade, "o pai da moça" pensei. Também tinha sobre a mesa uma miniatura de harpa, um adorno, fazia sentido, Lyra.
Não era a coisa certa a se fazer mas precisava de mais detalhes sobre ela, peguei o celular e liguei  para um membro do clã, um relativamente jovem e com talento inacreditável pra computadores.

_ Rick, preciso que faça uma coisa pra mim. _ disse me sentando atrás da mesa.

_ Claro, pode falar. _ disse o rapaz, só tinha 20 anos, e fora transformado a pouco mais de dois anos, um hacker habilidoso.

_ Preciso que encontre informações de uma humana, tudo que conseguir, família, dívidas, fichas criminais, qualquer coisa._ falei autoritário. _ Em quanto tempo consegue juntar tudo?

_ Umas duas horas, sabe que eu sou bom chefe._ disse o garoto.

_ Não me chame de chefe, é irritante Richard._ disse rindo._ Me retorne quando terminar, vou estar esperando.

_ Pode deixar._ disse o rapaz encerrando a ligação.
Apesar da juventude exagerada, gostava do rapaz, era tão diferente de mim, nos meus 307 anos já havia visto muita coisa, lutado muitas batalhas, tirado muitas vidas.
Sentei-me na poltrona do escritório e encarei a vista la fora, com uma garrafa de whisky sobre a mesa e um copo que eu esvaziava rápido demais.
Um dos poucos fatos que gostava no vampirismo era a impossibilidade de ficar bêbado, enquanto bebia e via o anoitecer pelo vidro minha mente vagou pelo passado, minha infância, juventude, minha morte durante uma viagem em um navio infestado de varíola. Muitas vezes desejei ter morrido como aqueles homens e mulheres que agonizaram e depois descansaram eternamente nas águas frias do oceano Atlântico. Mas não foi assim, um dos homens no navio, que depois de semanas não havia adoecido me ofereceu uma saída.
Quando o telefone tocou atendi rápido.

_ O que descobriu?

_ Lyra Joane Jones, 26 anos, sem multas ou ficha criminal. Filha de Laurent Jones e Jules Adams Jones. O pai era músico, dos bons mas morreu a 9 anos num acidente e a mãe ainda está no Arizona e tem várias passagens por furtos e embriaguez. A moça tem várias formações mas também muitos processos contra ex patrões por assédio sexual. _ disse o rapaz.

_ Obrigado Richard, isso é tudo.

_ As ordens. _ disse e eu finalizei a ligação.

Ódio queimava em mim, mas ainda havia alívio, ela não havia cedido a nenhuma investida antes, e não se deixava ser injustiçada. Minha mulher era valente.
Fui arrancado dos pensamentos quando a garrafa ficou vazia e me levantei  para buscar outra, não precisava acender as luzes.
O cheiro dela ainda estava lá, ainda pairava por todo o andar, intoxicante, maravilhoso.
Os olhos captaram quando ela se levantou e examinou ao longe o escritório escuro, depois caminhou e abriu a porta. Atento a todos os movimentos tive uma ideia, ruim mas ainda era uma ideia, antes que anunciasse minha presença olhei fascinado ela soltar os longos cabelos negros que caíram pelas costas como uma cascata. O cheiro dela mudou, uma mistura de paz com talvez alívio. Caminhei por entre as sombras devagar, silencioso.

_ Esqueceu alguma coisa senhorita Jones? _ perguntei, a voz arrastada. Ela se virou rápido, assustada, lamentei por isso.

Caminhei até ficar frente a ela, encarei seu rosto por alguns segundos e passando por ela sentei-me novamente na poltrona.

_ Me desculpe, eu passei dos limites. Vim ver se precisava de algo antes que eu vá embora. Eu me distraí com o trabalho e perdi a noção do tempo. _ disse ela com um sorriso tímido. Estava animada, era adorável.
Coloquei mais whisky no copo, atento as reações no corpo dela pelo reflexo do vidro a minha frente, ela precisava achar que eu estava bêbado.

_ Creio que não senhorita Jones, pode ir._ disse com dificuldade, o cheiro dela começava a mudar, pra luxúria.

_ Não precisa que eu chame um taxi ? Sem querer faltar com respeito mas pode ser perigoso dirigir assim._ falou a moça, virei o rosto para olha-la, devia se importar comigo, ou não iria sugerir isso.

_ Se preocupa comigo senhorita? _ perguntei a ela, vi ela corar.

_ Enquanto pagar o meu salário eu te livro da morte se precisar._ brincou ela. Quis sorrir pela audácia da moça mas o cheiro que agora tomava conta da sala não me permitiu pensar em outra coisa além de levanta-la nos braços e provar o líquido que escorria dela.
Fiquei em silêncio, ofegante, beirando a loucura pela vontade insuportável de toma-la e fazê-la minha.

_ Melhor ir senhorita Jones, o seu cheiro está me enlouquecendo._ disse voltando a olhar através do vidro.
A queria com todas as forças, mais do que precisava de sangue.

_ Meu cheiro ?_ a moça questionou.

_ O cheiro da sua excitação, esta tão forte que se espalhou pela sala toda._ disse devagar, quase podia sentir o calor do rosto dela._ Aposto tudo que eu tenho que está molhada agora, não está Lyra ?_ falei com um sorriso. A reação da moça diria muito sobre ela, sobre sua decência, ambição.

_ Prometeu não ser esse tipo de chefe senhor Northson._ disse ela vacilante mas com determinação que me fez sorrir de canto.

_ Realmente, eu peço desculpas, pode ir Lyra. _ disse por fim. Orgulhoso. A moça saiu do escritório batendo os saltos no piso e foi embora. Pensei em segui-la e ter certeza de que chegaria em casa mas parei quando ela entrou num táxi.
" talvez eu faça uma visita mais tarde" pensei.

#continua#

O Clã Northson- NICK    Onde histórias criam vida. Descubra agora