Taetae, era assim que meu pai me chamava quando eu ainda nem sabia falar direito e também era desta forma que ele me chamava quando ainda estava vivo. No meu aniversário de 7 anos, enquanto eu, e minha mãe esperávamos meu pai chegar do trabalho, recebemos a notícia de que um carro havia caído de uma ladeira ao tentar fazer uma curva na estrada.
Naquela época, quando soube disso, os momentos bons que nós tivemos vieram a minha mente, o carinho que eu recebia toda vez que ele chegava em casa, mesmo estando cansado, fazia questão de olhar minhas tarefas da escola dizendo o quão inteligente eu era com um sorriso orgulhoso no rosto.
Me lembrei naquele momento também das caretas que eu fazia quando íamos tirar foto, me chamava de Taetae e dizia que eu ficava fofo em todas. Foi então que ele passou a ser mais presente na minha infância... Taetae foi a criança fofa e inteligente que todos os adultos gostavam e elogiavam nas reuniões dos responsáveis, mas também era aquela que mais provocava inveja nos coleguinhas da escola.
Mas isso não foi motivo para eu não deixar ele aparecer no meu lugar mais vezes, até porque manter um sorriso no rosto e parecer feliz para minha mãe era difícil, então o deixava agir sempre que queria, não via mal nenhum nisso.
Conseguia notas boas, elogios da professora, abraços da minha mãe, o que mais eu precisaria além disso? Talvez uma coisa que não tinha como conseguir neste mundo, o meu pai de volta.
Por isso, eu, o Taetae, sou o mais adequado para os momentos em que Taehyung quer ser elogiado e amado. Antes mesmo de eu ter mais presença, Taehyung já tinha uma vida boa, tinha alguns coleguinhas na escola e é claro, o seu melhor amigo Park Jimin. Eles se conheciam desde os cinco anos e sempre iam na casa um do outro para brincar, era uma mistura de bagunça e divertimento na certa.
Depois que Sr. Kim morreu, isso não mudou. Eu passei a ser o que acompanhava Jimin nas brincadeiras e também fui o que mais fez ele rir depois de Taehyung. Quando a gente chegava em casa, mal podia esperar pelo dia seguinte onde brincariamos mais do que o dia anterior, isso quando nós tínhamos 8 anos.
°•Há 15 anos°•
- Amanhã será mais um dia...
“Eu farei por você”
- Faria isso por mim, Taetae? Amanhã Jimin vem aqui 'pra casa de novo. Minha mãe acha que é bom para eu brincar, só que não estou me sentindo bem com isso. – era isso que dizia enquanto estava deitado completamente enrolado nos lençóis. Apesar de ter ainda sua mãe e amigos, se sentia sozinho.
“Claro! Eu gosto de brincar com o chimmy”.
- Que bom que posso contar com você Taetae, não quero que me vejam desse jeito. Mamãe provavelmente ficaria triste e o Jimin também. – e assim ele pegava no sono.
Taehyung não via mal algum nisso, afinal mesmo que Taetae fosse quem mais se divertia, as memórias ficavam gravadas e deste jeito acabava se sentindo menos pior. Havia alguém para lidar com a situação toda no fim. Porém, era ingênuo de achar que ter apenas ele fosse ser o suficiente para evitar de se machucar ainda mais.
No dia seguinte, pela noite depois de ter um dia repleto de brincadeiras recebeu a visita do tio. Taehyung fez questão de recebê-lo com abraços e beijos já que era bastante apegado a ele.
- Tio, faz muito tempo que não te vejo. Quer um pedaço de torta? Minha mamãe fez e está uma delícia!
- Mas é claro que quero! As habilidades culinárias da sua mãe são magníficas, uma verdadeira chefe de cozinha.
- Daeyon, não diga isso. É apenas uma torta. Veio apenas para visitar, ou é algo relacionado com a empresa?
- Na verdade, é sobre os dois.
Depois de comerem, a mais velha colocou o filho na cama e voltou para ter a conversa séria com Daeyon.
Após a morte de seu marido, foi o irmão quem ficou responsável por cuidar dos assuntos da empresa, sendo Hae-ri a conselheira. O que devia ser apenas uma boa conversa, acabou sendo o início para a verdadeira parte do pesadelo de Taehyung.
Os dias se passaram e as visitas do tio foram ficando frequentes e durante a madrugada de um desses dias, Taehyung acordou com alguns barulhos estranhos vindo do andar de baixo, ainda meio sonolento viu algo que pensou de início que não devia ter visto.
Talvez não entendesse bem o que via naquele momento, mas ao ver lágrimas descendo pelo rosto de sua mãe entendeu mais ou menos a situação.
- Mamãe...? Por que está sem roupa? E por que está em cima do tio Dae?
- Sua mamãe está deixando o seu tio mais alegre, Taetae.
Foi a primeira vez que Taehyung teve um desmaio e no dia seguinte não se lembrava do que havia acontecido.
Sim, naquela noite e nas outras que vieram, toda vez que Taehyung se deparava com a mesma situação, Taetae tomava o seu lugar para fazê-lo se esquecer completamente de tudo.
Hae-ri sabia que tinha alguma coisa acontecendo para que seu filho não comentasse nada com ela, e quando tentava, vinha um sorriso e logo “Do que está falando mamãe?”, era impossível para mais velha segurar as lágrimas.
- Me desculpa filho, sua mãe quer o seu melhor. Estou fazendo isso para que tenha tudo o que precisa! – dizia abraçando fortemente seu filho – Eu te amo. – essas foram as últimas palavras ditas para Taehyung antes de vê-lo sair para ir a escola.
Horas mais tarde, ao chegar em casa escutou barulhos vindo do segundo andar e foi ver o que era.
- FIQUE LONGE!
Taehyung ao ouvir isso, deduziu ser sua mãe. Correu até onde veio o grito e viu a cena, Hae-ri estava segurando uma faca e apontava ela para ninguém mais e ninguém menos que Daeyon.
- Mamãe, porque está segurando isso?
Ao ver que o filho havia chegado e a pegou naquela situação, foi no automático quando soltou o objeto e se ajoelhou rapidamente na frente de Taehyung quase em desespero.
- Isso, não é nada meu amor, a mamãe só estava fazendo uma brincadeira com o seu tio, está bem? Não precisa se preocupar Taetae.
E as coisas em sua volta pararam, Taehyung se desligou daquele mundo.
•
Quando voltou, estava caído no chão do quarto e havia sangue em suas mãos. Olhou a sua volta e não viu ninguém, mas escutou algumas sirenes. Foi até a sacada do quarto e algumas luzes atrapalharam um pouco sua visão, olhou para baixo e viu um corpo caído no gramado, seus olhos identificaram de imediato quem era.
- O que aconteceu...? Mamãe!! – gritou. Tentou então subir a sacada, pensando em se jogar dali de cima para chegar de uma vez até o corpo, mas foi impedido por alguns paramédicos. Se debateu por um tempo, gritando que queria sua mãe, precisava ir até ela, e assim que conseguiu se soltar, quase rolou escada a baixo.
Foi empurrando todos que via pela frente, haviam várias pessoas em volta curiosos para saber o que havia acontecido. Tiravam fotos, ou ao menos tentavam já que os policiais faziam de tudo para tentar impedi-los. Taehyung com esforço chegou ao corpo.
- Ei, mamãe levanta! – dizia sacudindo o corpo – Não é um lugar bom pra dormir. – as lágrimas já rolavam o rosto do pequeno Taehyung. – Por favor... Levanta...
“Ela morreu, aceita isso Taehyung!”
- Quem é? Taetae?
“Taetae está dormindo agora.”
- Então quem é?
“Não precisa saber. Você deve fazer a mesma coisa que Taetae e dormir também”.
- Taehyung!! – escutou a voz de alguém familiar, aquela que se assemelhava a de sua mãe – A vovó, está aqui, vai ficar tudo bem!
- Ele está dormindo, vovó...
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Espero que tenham tido uma boa leitura, até o próximo! 💜
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The four selves - Taekook (vkook)
FanfictionTaehyung sofria de TDI - transtorno dissociativo de identidade. Isto por conta dos traumas que sofreu durante a sua infância. Agora com seus 23 anos, achando que não teria mais problemas, suas outras personalidades vem a tona novamente quando se de...