Algo diz-me que é meu dever seguir este elemento, suspeito e misterioso, que teima em esconder a sua identidade por detrás de uma capa negra. Não desejo ficar por aqui, quero ir além: e algo diz-me que ele também. Quero descobrir que histórias ele esconde por detrás daquela máscara.
Ele parece perceber que eu o persigo, mas em vez de abrandar, ele começa a correr mais rápido. Aquela atitude faz-me soltar um riso. Se ele pensa que eu vou desistir, é melhor ele pensar novamente...
Cada vez mais a minha habitação afasta-se de nós e começo a questionar-me onde é que ele tenciona ir. Será que ele irá levar-me à sua morada? Isso seria meio sem inteligência, e duvido que seja o caso. Mas o mais curioso é que tenho a sensação de que ele sabe exatamente onde está a ir. Facto curioso e suspeito, mas nada neste momento consegue tirar-me a vontade de seguir este estranho elemento. Cada segundo que passa faz o meu núcleo palpitar mais e mais. Pergunto-me até quando é que ele irá continuar com este joguinho.
Finalmente ele começa a abrandar, e eu acompanho o ritmo dele, reparando no lugar a que chegamos. Eu não faço ideia onde estamos, e o edifício à nossa frente é surpreendente: pintado de um cinza escuro e metálico, apresenta janelas opacas igualmente escuras. Apenas possui uma porta enorme frontal, bastante convidativa quanto discreta, eu diria. Como é que eu não sabia da existência de um edifício destes na própria cidade em que habito? O elemento que tenho perseguido durante este tempo todo vira o rosto para mim, talvez para observar a minha reação. Mas eu não consigo tirar o olhar daquele "monumento" enquanto me aproximo do mesmo. Mas o elemento coloca o seu braço à minha frente, esbarrando-me o caminho. Eu desvio o olhar para ele.
- O que é isto afinal?... Onde estamos? - eu questiono, a minha curiosidade a palpitar. Ele olha para mim e lança-me um sorriso, mas nenhuma palavra é pronunciada através dos seus lábios. Eu engulo em seco e recuo um passo atrás. O que é que faço? Nem sei bem ao certo porque vim até aqui em primeiro lugar. Onde está a minha razão neste momento?
Os meus pensamentos evaporam quando o estranho segura-me pelo antebraço e puxa-me, fazendo com que os nossos corpos se aproximem. O olhar dele está fixo no meu, e eu fico fico sem reação. Ele não me larga, o que me põe nervoso. E acho que ele percebe, pois infelizmente as minhas emoções são bastante claras, se calhar por causa dele e da sua figura enigmática... os meus pensamentos estão certamente a divagar.
- Ouve-me... Eu não queria ter de fazer isto. Espero que me perdoes, e um dia com certeza entenderás o porquê de eu ter feito tal coisa. Sei que vais entender. - ele anuncia e aquelas palavras deixam-me sobressaltado. A quê que ele se refere?
Antes de ter tempo para elaborar uma resposta, sinto um choque a se alastrar por todos os átomos do meu corpo, algo muito mais forte daquilo que eu poderia suportar sem perder os sentidos. No segundo seguinte sinto-me a embater contra o frio chão, sem poder fazer nada, como se o meu corpo estivesse paralisado, em total curto-circuito. Perdendo o controlo, acabo por ficar inconsciente.
O tempo passa-se sem eu perceber isso. Quando acordo novamente, os meus pulsos encontram-se amarrados por um material estranhamente irritante para os meus átomos. Eu identifico que aquele material é constituído por uma mistura de Cobre e Zinco, que tendem a roubar-me os iões e a sugarem-me a energia. Quem preparou isto tinha tudo planeado, tenho de admitir. Quando recupero os sentidos totalmente, observo mais detalhadamente o espaço que me rodeia. É aí que reparo que não estou sozinho. O Cromo está na mesma situação que eu, mesmo à minha esquerda. Será que ele já estava aqui antes de mim? Quanto tempo é que eu estive apagado? O que é que se passa aqui afinal?...
- Níquel, finalmente estás acordado. - Cromo murmura, com o olhar fitado na parede à nossa frente. Antes de responder seja o que for, eu acabo de analisar o espaço à nossa volta. Duas câmaras de vigilância se encontram connosco naquela sala, e provavelmente têm microfone incorporado também, então deveríamos ter cuidado com as palavras que lançamos. Para além disso a sala é fechada, sem janela alguma, apenas duas portas iguais, uma à nossa direita e outra à nossa esquerda, respetivamente, que tornam o ambiente ainda mais sombrio. Também se encontra uma cómoda à nossa frente, com uns documentos em cima da mesma, os quais não consigo observar a partir desta distância. Para além dos documentos, existe um compasso, tesoura e uma fita adesiva, que me fazem sentir calafrios ao olhar para os mesmos. Confirmo as minhas suspeitas ao reparar que as correntes que prendem Cromo foram elaboradas com um material diferente das minhas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Ciência Aproximou-nos [2]
General FictionEm continuação do primeiro volume, nesta nova jornada continuaremos a acompanhar Níquel durante a sua jornada de auto-descobrimento e aceitação, assim bem como a sua consciência e aprendizagem acerca do meio e daqueles que o rodeiam. Neste livro, Ní...