Tu escolheste: Ouvir o que Arsénio tem para te dizer.
Eu recuo um pouco antes de continuar. Não me mexo, nem pego no telemóvel. Antes de tomar qualquer decisão, seria mais pertinente ouvir o que ele tem para me dizer. Não quero acreditar nas coisas más que o meu cérebro continua a lançar acerca dele. Tem de haver alguma explicação decente sobre tudo isto, certo? Ele não pode ser um elemento tão cruel assim... espero eu. Ele era meu amigo, apesar de tudo.
Com o movimento dele, os meus olhos desviam-se rapidamente do chão para o poder encarar novamente. Ele olha-me nos olhos e segura as minhas mãos, calmamente, enquanto sussurra um simples "obrigado". Eu suspiro, à medida que a minha ansiedade vai gradualmente diminuindo. Não sei como, mas só o simples gesto dele consegue fazer com que eu me acalme, mesmo apesar de tudo o que nós dois passamos juntos.
Arsénio inclina-se então para mim, após algum silêncio reconfortante. Ele sussurra-me no ouvido, dando-me arrepios instantaneamente. Eu nem sequer o consigo observar direito nesta posição, mas também ele não me iria injuriar neste momento... acho eu.
- Como é muita coisa para te explicar, vou tentar ser o mais breve possível. Não sou bom com palavras, e apesar disso quero me fazer claro aqui. O que se passou ontem, não foi nada pessoal. Como sabes, eu tenho poderes. Já te mostrei isso. Ainda hoje.- ele pronuncia e eu aceno silenciosamente com a cabeça, concordando, não o querendo interromper.
- Então, isso é porque eu controlo o poder da física. Sim, isso mesmo que ouviste. Existem as quatro forças elementais, das quais poucos neste planeta sabem acerca. Química, Física, Biologia e Matemática. - Arsénio declara, virando o rosto para ver a minha reação. Eu estou curioso para ver como é que as situações se interligam aqui. Espero que não me esteja a enganar.
- Por favor, conta-me mais sobre o assunto. E já agora, o quê que isso tem a ver com... ontem?- questiono-lhe. Ele ri sinceramente perante a minha impaciência mas eu permaneço sério.
- Bem, calma Níquel, já vais perceber tudo. Então, cada uma dessas "forças" tem um representante central, um líder de todos aqueles que possuem poderes desse mesmo elemento. Alguém capaz de os guiar, assim como representar. É uma espécie de governante, se pensares bem no assunto. - ele declara, fazendo de seguida uma breve pausa, deixando-me indignado. Será que...?
Ele senta-se então na cama e gesticula para eu fazer o mesmo. Sento-me ao lado dele, pondo a mão em cima da dele, que se encontra em repouso na sua perna. Ele sorri com o meu ato reconfortante e suspira brevemente antes de prosseguir.
- Então, eu... fui o designado para o cargo de representante da Física. Esta força tem um passado sombrio, já houveram bastantes guerras em que nós fomos os instigadores das mesmas. Apesar disso, não somos os piores. - ele revira os olhos de forma dramática - No entanto, assim sendo, era difícil arranjar alguém para nos liderar: todos queriam continuar a seguir e a evoluir os seus poderes, mas ninguém queria ter a enorme responsabilidade de nos guiar. Bem, isto é o que ouvi, pelo menos. Nessa altura eu era um elemento "normal": tudo o que tinha feito na altura foi causar alguns incidentes devido aos meus poderes quando era mais novo. Não os sabia controlar, nem sabia o que eram. Os outros criavam rumores sobre mim e desprezavam-me com teorias falsas. Punham-me de lado porque eu era perigoso. Eu sentia-me sozinho e excluído, o que fez com que eu começasse a sentir um sentimento negativo contra todos: ódio. Foi assim por alguns anos, e isso fez com que a raiva que sentia começasse a crescer. - ele admite, levemente frustrado devido às recordações.
Eu abraço-o de lado, simplesmente não tendo muitas palavras perante o descrito. Deve ter sido horrível para ele, ter passado por toda esta situação sozinho. Quem me dera ter estado lá e poder tê-lo ajudado antes, mais cedo. Antes de tudo. Onde estava eu? Porquê que eu não o conheci antes?
Ele olha para mim e eu aceno-lhe, consentindo-o para continuar. Ele sorri devido ao meu afeto, e devolve-me o abraço durante uns instantes, antes de continuar. Eu sinto-o nervoso, então faço-lhe umas simples carícias no braço para que ele possa relaxar um bocado.
- Então, eles vieram atrás de mim.
- Quem? - eu interrompo-o.
- Eles. Os elementos seguidores da física. Nessa altura as quatro forças andavam a recrutar elementos, mesmo aqueles que não possuíssem poderes, mas apenas estranhos interesses, para depois lhe ensinarem a magia. Sim, é possível aprender a controlar uma das forças, assim como evoluíres os teus poderes. Embora só possas pertencer a um dos quatro elementos. - ele suspira e olha para o vazio. - Enfim, continuando. Como tive os poderes desde muito pequeno, eu meio que já os tinha explorado minimamente, por isso estava num nível acima dos demais, para a minha idade tenra. Sendo assim, num ano de treino os meus poderes eram comparáveis aos mais velhos e experientes de lá. Este rumor surpreendeu todos e espalhou-se rapidamente. Eu nunca gostei de ter atenção, mas aprendi a lidar com ela. Ou pelo menos achei que tivesse aprendido. - Arsénio murmura a parte final, deixando-me confuso por momentos. É muita informação para o meu cérebro processar corretamente.
- Sendo assim, quando o líder da altura desapareceu sinistramente, houve uma crise no império. Entre os mais sábios, todos estavam demasiado cansados, velhos ou ocupados para ser o novo líder. Mas lá estava eu: um jovem capaz de controlar minimamente os seus poderes, uma figura esperançosa para todos. Ainda por cima instável devido ao seu passado ligeiramente traumatizante. E eles sabiam disso. Por isso é que me elegeram. - ele ri fleumaticamente.
- Mas porquê que eles fariam isso? Gostam de caos? - eu pergunto.
- Mais ou menos, em poucas palavras. Sendo como for, os de Matemática são piores, acredita. São loucos. Para meu infortúnio, os de Física sempre tiveram um contrato de lealdade com eles, desde os primeiros tempos. Assim, como fui eleito para o cargo, tive de cooperar com os de Matemática nos seus planos diabólicos, para evitar uma guerra ainda maior, que seria um desastre, capaz de destruir todo o universo. Muita pressão, certo? Resumindo, o que aconteceu ontem era um dos planos deles: recrutar-vos para se tornarem como deles.
- Mas os meus poderes... não me parecem matemáticos... Quer dizer... não sinto como se aquilo fosse o meu lugar. Não estou a dizer que não sou louco o suficiente, mas penso que os meus poderes é que não se enquadram corretamente nas expetativas deles. Mais depressa Cromo. - eu declaro afirmativamente, enquanto olho para baixo pensativo.
Continua no próximo capítulo...
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A Ciência Aproximou-nos [2]
Ficção GeralEm continuação do primeiro volume, nesta nova jornada continuaremos a acompanhar Níquel durante a sua jornada de auto-descobrimento e aceitação, assim bem como a sua consciência e aprendizagem acerca do meio e daqueles que o rodeiam. Neste livro, Ní...