Sufoco

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Demasiados pensamentos percorrem a minha mente à medida que encaro o teto do meu quarto. Deitado na minha macia cama, confidente de todos os meus pesadelos, sinto como se o meu cérebro fosse explodir e eu não pudesse fazer nada para o impedir. Lá fora já está de noite, mas eu não consigo adormecer. A minha cabeça não para de gerar pensamentos inesperados. Quase nunca me acontece, mas hoje não é de estranhar. Para piorar a situação, acho que esses pensamentos todos (de quantia certamente exagerada) acabaram por me provocar uma tremenda dor de cabeça.

Eventualmente acabo por adormecer, proeza que não dura muito, no entanto. Acordo desconfortável, devido aos suores frios que deslizam pela minha face abaixo. Quase tenho um ataque ao reparar no que se está a passar neste preciso momento. O Arsénio está abraçado a mim, a dormir profundamente. Não me lembro de ficar bêbado a noite passada, nem me lembro de o ter convidado para minha casa. Muito menos me lembro de lhe ter dado permissão para se agarrar a mim desta maneira. Parte de mim acha fofo mas a parte mais correta acha completamente creepy o facto de ele ter entrado no meu quarto, a meio da noite, e pôr-se nesta posição sem eu sequer me dar por isso. Eu não faço ideia do que se está a passar pela cabeça dele, mas se isto é algum tipo de pedido de desculpas, eu não vou aceitar. O que ele me fez foi demasiado grave e ainda tenho feridas nos braços por causa daquelas amargas correntes.

Como ele está adormecido, e eu não quero enfrentar esta situação agora (por serem apenas 7 da manhã) eu tento adormecer novamente, esperando que ele eventualmente saia por si, para aí o poder confrontar. Não é como se eu tivesse planos de ir à escola hoje de qualquer das formas, por isso não estou preocupado com as horas. Provavelmente  o meu corpo nem iria aguentar deslocar-se até àquele estabelecimento tortuoso.

Os minutos passam, e eu fico ali, estável, encarando tudo o que nos rodeia. Achei, a princípio, que a energia dele fosse me incomodar mais do que realmente está a fazer neste momento. Entretanto, eu sinto uns movimentos da parte dele, e tento tornar a situação confortável para os dois (não sabendo, no entanto, o motivo para tal). Eu deixo sair um suspiro longo e Arsénio parece sentir isso, acordando. Lança-me um olhar ainda sonolento e aproxima lentamente a sua face da minha. O meu corpo não é capaz de se mexer, apesar do meu cérebro estar a ferver de vontade de o fazer. Este simplesmente desliga e todos os pensamentos caem por terra quando Arsénio junta os seus lábios aos meus. A minha mente nega totalmente a ação, mas não consigo me afastar. Quero empurrá-lo, com toda a força que tenho, esquecê-lo, apagá-lo da minha existência. Atirá-lo para o grande abismo que habita no lado esquerdo do meu cérebro, aquele em que tudo o que entra não regressa, nunca mais. No entanto, aqui estou eu, sem poder negar a ligação entre nós, nem o quanto os meus eletrões o desejam. A atração é demasiada para que a repulsa possa sequer ter uma palavra no assunto. Eu fecho os meus olhos. Sei que pensar nas consequências agora não vale de nada.

A Ciência Aproximou-nos [2]Onde histórias criam vida. Descubra agora