(Dia 3) - Corra!

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Alguns segundos sem oxigênio foram o suficiente para desmaiá-lo, mas o sangue que escorria pelo seu corpo não o permitiria voltar a consciência novamente.





– O-onde você quer chegar com isso, Marimo?

– Se você realmente não gosta de mim e não me quer em sua vida, eu vou aceitar e não vou forçar a barra, mas eu quero que você seja sincero.

– Eu não quero ter essa conversa com você, sai da frente. - Resmungou tentando se soltar. Zoro segurou seus pulsos. – Para com isso e me solta.

– Não vou até você olhar nos meus olhos e dizer que não gosta de mim.

– Para com isso!

– Então diz!

– Eu não posso! - Sanji desviou o olhar constrangido. Ele não iria forçar a barra, mas estava fazendo isso, qual a diferença? – Mas eu também não posso seguir com isso. É errado.

– Você acha o relacionamento de Ace e Marco errado? Ou o de Luffy e Law? 

– Não, claro que não... M-mas é diferente.

– Por que seria diferente? - Sanji engoliu em seco sem saber o que responder. Nem ele sabia explicar os seus motivos, mas ele sabia que não deveria. Por toda sua vida ouviu o quanto aquilo não era certo, que isso o tornaria uma aberração.

Seu pai sempre desconfiou de sua possível sexualidade por ele se interessar por coisas que julgava ser atividades femininas, como cozinhar, cuidar dos animais ou escolher as roupas e pentear sua irmã mais velha. Judge nunca soube diferenciar a gentileza – considerada como modo afeminado por alguns – da sexualidade do garoto e não hesitou em coagi-lo a enxergar esse tipo de relacionamento como anormal e vergonhoso.

Ele aprendeu a conviver com seus amigos vivendo daquele modo, mas algo o impedia de fazer o mesmo. Algo insistia em dizer que era errado sentir um sentimento como aquele por outro homem, também lhe dizia que Zoro não gostava dele e aquilo não resultaria em nada. Ele sabia que esse algo era a voz de seu pai ainda o atormentando, o torturando e o fazendo pagar pelo seu pecado.

– E-eu só... - Sanji sentiu a voz embargar enquanto seus olhos lacrimejavam. 

As dúvidas o atormentavam e assolavam seu coração aflito. A dualidade entre o sentimento que havia em seu peito e a certeza de que aquele sentimento era horrível, fazia seu interior colapsar.

Mas se você realmente gosta dele e quer ficar com ele, precisa mostrar que não há nada de errado nisso, mostre que ele pode sentir

A voz de Luffy surgiu na mente de Zoro e ele soube o que deveria fazer. Aproximou seus lábios do loiro que travou por alguns segundos antes de retribuir o beijo terno. Zoro tentava transmitir todo o sentimento que Sanji havia aflorado em seu coração, queria fazê-lo sentir todo aquele sentimento que aquecia seu peito.

Se separaram ofegantes, com as testas coladas e os corações acelerados, mas conectados. Zoro pôs a mão sobre o peito de Sanji.
– Acha isso errado? Eu sei que você também sentiu, seu coração está batendo tão rápido quando o meu, acha que esse sentimento que guarda aqui é errado? - Zoro segurou o rosto de Sanji em suas mãos. – Aquele desgraçado ferrou sua vida por tanto tempo e você ainda dá ouvidos ao que ele diz? Acha que ele estava certo?

– Zoro, eu... Eu não sei... Eu...

– Sanji. - Zoro usou pela primeira vez o nome do loiro enquanto o olhava no fundo dos olhos. – O seu pai atormentou sua vida por muitos anos e ainda faz até hoje, mas dessa vez é você quem está permitindo que isso aconteça. Você é seu próprio carcereiro e tem a chave para se libertar, só precisa querer.

Com um aperto no peito Zoro viu Sanji desmoronar em sua frente, chorando compulsivamente. Judge havia causado muitas feridas em Sanji e elas ainda sangravam, mas ele era forte. Seria um trabalho longo e árduo, mas ele conseguiria se desconstituir. E Zoro estaria ali para ajudar em todo o processo, como estava fazendo naquele momento enquanto, jogados no chão, o abraçava apertado contra seu peito, tentava transmitir conforto e segurança, além dos seus mais sinceros sentimentos.

*Algumas horas atrás*

Sabo corria pela trilha. Estava feliz por ter uma boa memória e conseguir lembrar do caminho. A sua preocupação com o irmão fez com que dobrasse a velocidade de seus passos, quanto mais rápido buscasse ajuda, mais rápido encontraria Ace.

Sentiu o aperto em seu coração se dissipar ao se deparar com a silhueta de seu irmão de costas na saída da trilha ao lado de Marco. Com certeza o idiota havia feito eles se perderem e tinham se atrasado, ao menos estavam bem e era isso que importava.

– Ace! - Gritou com um sorriso largo no rosto, mas seus movimentos foram impedidos quando uma mão segurou seu pulso.

Virou assustado ao ver o que parecia ser uma pessoa com o rosto desfigurado e o corpo coberto de sangue. Tentou se soltar espantado com a figura, mas sentiu uma mão atrofiada agarrar seu outro pulso. Gritou pelo irmão, mas seu coração se encheu de pavor quando o viu virar o rosto. Haviam buracos no lugar dos olhos e insetos começaram a sair deles andando por toda a face enquanto a boca em uma tonalidade arroxeada vomitava um líquido preto com uma mistura de sangue, pregos e minhocas.

O corpo estava coberto de sangue misturado à terra por toda a pele, como se ele houvesse sido enterrado. Viu o corpo do loiro ao seu lado virar para si estando na mesma situação que o outro.

– Você não vai a lugar algum, irmãozinho... – Ouviu a voz de Ace dizer enquanto se aproximava com um sorriso sádico nos lábios maltratados. Não, não era seu irmão ali.

A constatação de que algo terrível acontecera com Ace e Marco não tardou a chegar enquanto lágrimas escorriam em seu rosto. Voltou a ter ciência do que acontecia consigo quando outras mãos agarraram seus tornozelos. O desespero começou a tomar conta de seu corpo enquanto se debatia para se soltar, em vão.

Sentiu uma dor lancinante em sua cabeça e seus olhos começaram a sangrar. Gritou de dor quando as mãos começaram a puxar seus pulsos e tornozelos para lados contrários. Toda a dor que sentia o fazia gritar inconscientemente, seu cérebro parecia fritar. Só queria que toda aquela dor fosse embora e tudo acabasse de vez.
Todo o corpo do loiro era puxado enquanto o tecido de sua pele era rasgado. Os gritos e o som da pele sendo rompida ecoavam pela floresta, tornando todo o cenário assombroso. Risadas ecoavam em sua mente e viu olhos por todos os lados, como se estivessem apreciando com prazer um show, um show de horrores. Seus gritos cessaram quando seus membros foram arrancados por completo de seu corpo espalhando, como uma explosão, o sangue e pedaços do corpo por todos os lados.

*Atualmente*

Luffy se espreguiçou sobre a cama e sorriu com a visão adormecida do Trafalgar. Ele era adorável enquanto dormia serenamente. Depositou um beijo na bochecha de Law e se levantou indo ao banheiro sem se dar conta de que já estava de noite. Se aliviou e após lavar as mãos saiu do banheiro, mas levou um susto quando viu a criança novamente a sua frente.

– Vocês precisam sair daqui agora... Ela está vindo. Corram!

Luffy sentiu um amargor na boca ao ouvir aquilo. Seus instintos se alarmaram, eles precisavam sair dali.

– Luffy-ya? - A voz sonolenta de Law preencheu o quarto e a imagem da criança desapareceu. O rosto do tatuado ficou sério vendo a feição do mais novo, mas antes que pudesse perguntar algo, o grito horrorizado de Nami ecoou pela casa fazendo com que todos fossem assustados ao seu encontro.

A casa no lagoOnde histórias criam vida. Descubra agora