#16# josh

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Acordei quando o sol mal havia raiado e segui para a destilaria, que ficava às margens de um lago, a dez minutos do castelo. Parei o carro na porta, mas não entrei no prédio, segui até um banco de ferro e fiquei olhando a água parada. Profunda e densa, era impossível de se saber quantos metros tinha ou o que havia embaixo.




Gostava de ser exatamente como aquele lago, parado, sério e impenetrável. Não gostava de contato, mas não sabia por que havia me deixado abraçar, permitindo a aproximação da Any. Provavelmente, devido ao calor do momento.



Havia deitado há pouco após conversar com o Wallace, que ainda não tinha o contato certo da pessoa no consulado brasileiro que pudesse ajudá-lo com a situação da Any. Não tinha pegado no sono, geralmente demorava, quando ouvi os gritos dela, ecoando como se estivesse sendo torturada. De fato, sonhar com o que havia passado deveria ser alguma espécie de tortura.





Eles abusaram dela, fizeram anal sem qualquer preparação, brutos o suficiente para machucá-la ao ponto de sangrar. Me enojava saber que havia compactuado com aqueles homens ao aceitar o convite para o clube maldito. Me lembrei da garçonete com quem eu havia transado, perguntando-me se havia passado por situação parecida ou talvez pior.




Já tinha me envolvido demais e não era problema meu... Tentei repetir quase como um mantra, mas não conseguia.



Any só precisava ir embora logo para que eu pudesse voltar a ter uma noite tranquila de sono.



— Senhor! — Um dos funcionários da destilaria me viu do lado de fora e acenou para mim.



Apenas acenei de volta, mas continuei sentado no banco. Entraria para falar do problema na caldeira depois. Precisava de mais tempo a sós comigo e com meus pensamentos.




Tinha me metido onde não deveria e iria me arrepender muito disso.


Quebra de tempo.....

Voltei para o castelo quando já era quase fim da tarde. O sol baixo tingia o céu de laranja, tornando ainda mais avermelhadas as folhas secas das árvores na propriedade.




Estacionei meu carro na garagem e segui diretamente para o meu escritório, sem me dar ao trabalho de perguntar onde ou como a Any estava.




Fechei a pesada porta escura e puxei meu celular do bolso. Aquele castelo era grande demais para que eu me desse ao trabalho de procurar onde o Wallace poderia estar.



— Alô, senhor? — Ele atendeu no segundo toque.



— Onde você está?


— Na biblioteca, os empregados me falaram que o jardineiro viu o senhor sair bem cedo. Fiquei sem saber se já tinha voltado.


— Cheguei há pouco. Vem aqui!



— Estou indo!



Desliguei o celular e o guardei de volta no bolso. Estava incomodado por me sentir quase um fugitivo dentro da minha própria casa, mas sabia que aquela situação era única e exclusivamente culpa minha.




Wallace abriu a porta e praticamente terminou de me empurrar para dentro do escritório. Ajeitei a postura e me virei para encará-lo.



— Está tudo bem, senhor?


— Por que não estaria? — Cruzei os braços e fechei a expressão.


— O senhor parece tenso. Algum problema na destilaria?




Fiz que sim e se Wallace percebeu que eu estava mentindo, preferiu não me questionar. Esse era um dos pontos que mais gostava nele.



— Como foi a ida ao consulado?


— Bom... — Colocou as mãos dentro dos bolsos e mordeu os lábios, deveria estar pensando por onde começaria. Isso me deixou tenso, pois era sinal claro de que não havia boas notícias. — Se ela não entrou com um passaporte e nem possui um visto, para turista, que seja, está no país ilegalmente e isso constitui um crime.




— Não pedi para você ir lá para descobrir se ela é ou não legal. Tudo que precisa é conseguir um passaporte para que ela volte para o Brasil.




— Conseguir um passaporte e torná-la legal pode ser complicado, mas podemos entregá-la para a imigração. A moça será detida e deportada quando o caso for processado.



— Deportada? — rosnei e ele se encolheu.



— É a alternativa mais fácil para você.




— Acione todos os advogados que precisar, dê um jeito! Depois de tudo o que ela passou, não vou entregá-la para imigração para que seja tratada como uma criminosa. Ela é só uma vítima! — Alterei o meu tom e, quando percebi que estava gritando, já era tarde demais.



Por que, desde o primeiro momento em que coloquei os olhos na Any, ela me deixava tão descontrolado?





— Compreendo e compactuo com a sua opinião, senhor. Não vamos entregar a garota para a imigração. Iriei encontrar o melhor advogado nessa área para que ele consiga um passaporte legal para ela.




— Ótimo!


— Avisarei a ela que, enquanto isso, permanecerá aqui.



— Okay!




Que escolha eu tinha? Não podia salvá-la dos traficantes para simplesmente entregá-la para a imigração. No melhor dos cenários, ela passaria dias ou meses presa, até voltar para casa; no pior, acabaria voltando para as mãos dos traficantes e cada centavo que gastei para tirá-la daquele leilão tinha sido por nada.




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Josh sentindo algo?

Comprada por JOSH ( ADAPTAÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora