Presente

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    Acontecendo no futuro...

    Saí caminhando da casa, a noite, com uma garoa caindo do céu. Meu coração batia a mil por hora, meus pés iam por si só, dessa vez minha barriga doía, ansiedade e falta de ar. A área é enorme, tudo apenas grama, as luzes do jardim refletindo os pingos da chuva enquanto eu fugia de todos.

Escutei alguém correndo em minha direção, nas minhas costas, apressadamente tentando me acompanhar. Posso deduzir quem é, contudo, me recuso a encará-lo ainda.

— Jungkook! — Kyung-ho gritou, ofegante e cheio de abominação. Podia sentir sua aura, uma mistura de selvageria e enfurecimento ao me procurar tão desesperadamente.

Fechei os olhos e parei, meu peito subia e descia, preciso enfrentá-lo, são consequências eu não posso fugir delas.

Quando vim, sabia o que estaria por vir, mas Namjoon fez algo inesperado.

Girei para ver Kyung-ho, os fios do meu cabelo escorriam gotas de água por meu rosto, mas a água que escorria por toda a feição dele não eram apenas da chuva. Ficamos em silêncio, até que mesmo distante, ele voltou a gritar:

— Por que fez isso?! — Apontando para a enorme casa atrás de si, ainda podia ser ouvido a confusão que deixamos para trás. Kyung-ho rugia de raiva, seus olhos vermelhos, sua voz ainda mais forte ao me xingar: — Seu filho da puta traidor! Você trabalhava pra mim, era meu amigo! Você era meu amigo! Eu não consigo acreditar, não posso!

Passando as mãos no rosto, Kyung-ho ainda estava distante de mim. Minha respiração continuava acelerada, eu não me aproximaria dele, mas também não o deixaria me insultar. Entendo que seja um momento de fúria, seu único desejo é me deixar em pedaços, porém, eu sou humano e só lutei pela pessoa que amo.

— Eu nunca precisei de um emprego seu. Não era pra ser você, não era pra você passar por isso. — Aconteceu que isso foi tudo o que pensei em dizer, não é nada que vá acalmá-lo, não é um pedido de desculpas.

A chuva aumentava, nossas roupas encharcadas, as pessoas na casa discutiam, carros indo embora.

Kyung-ho voltou a me encarar, ainda sem acreditar no que ouvia, sinto que ele deseja entender tantas coisas mas ao mesmo tempo parece não querer descobrir nada delas.

— Você é um filho da puta! — Se aproximando de mim ele parecia ainda mais descontrolado, evitei que chegasse mais próximo e me afastei. — Se quiser brigar, vamos brigar. Mas eu não estou mentindo. — Respondi.

No começo ele sorria mas logo sua feição mudou gradativamente, Kyung-ho começou a chorar, tentando falar mas algo parecia impedir sua voz de sair.

— Eu sinto muito. — Fiquei sem rumo, fechei os olhos para não ver o que estava na minha frente.

— Por que você fez isso com ele?... Por que escolheu foder com ele por minhas costas e fingiu todo esse tempo! Dizendo ser meu amigo enquanto...

Reabrindo os olhos, Kyung-ho parou, me olhava com total frieza mas ainda sentindo o peso da traição. Essa noite era para ter sido uma noite de comemorações, ele iria pedi-lo em noivado. Toda a casa dos seus pais estava decorada para o momento, Kyung-ho convidou familiares e amigos para uma grande cerimônia. Mas não contávamos com Namjoon.

— Não escolhi foder com ele só porque vocês estavam juntos! — Gritei com raiva. — Ele não te ama porra, ele sempre fodeu comigo desde quando eu tinha 16 anos! Como eu poderia controlar essa merda? Eu não sabia que a porra do seu namorado era meu antigo...

Me cortando, Kyung-ho gritou ainda mais alto, indignado com tudo que ouvia:

— Ele não me ama!? — Calei assim que percebi que sua raiva retornava. — Ele é meu namorado! Seria meu noivo! Você me traiu e ainda quer dizer que ele te ama! Manipulador de merda, você é falso e nojento! Tenho vergonha de ter considerado você da família, ter ajudado você com um emprego! Eu te convidei pra minha festa de noivado enquanto vocês dois fodiam nas minhas costas! Riam de mim!

Comecei a rir, gargalhar alto, impossível. Dessa vez Kyung-ho me deixou mais irritado que antes, eu sinto pena dele mas não vou deixá-lo se vitimizar tanto.

— Você é um idiota mesmo, quer ouvir isso? Quer escutar que é um idiotinha apaixonado, que não sabe foder ninguém direito e acabou traído?! — Me aproximei dele, não muito, não posso machucá-lo já que ainda resta o mínimo de respeito dentro de mim. — Eu sou mais rico que você, tinha consideração por você, não estava nos planos que você namorasse a única pessoa que eu amei! E Jin nunca riu de você pelas costas, ele te respeita, não ouse jamais falar dele! A única pessoa que não merece ser odiada aqui é ele!

Em choque, Kyung-ho não tinha expressões. Também dei uma pausa, fiquei em silêncio depois de tanto gritar, apenas olhando nos olhos dele. Porra, não posso perder a razão.

— Eu o amo também. Mas você não pensou nisso. — Quebrando minha raiva, Kyung-ho me deixou sem fala. — Nunca faria isso com você.

Poderia muito bem, mil vezes, ser a pessoa mais fria desse mundo, entretanto, quando tudo está acontecendo na sua frente, é mil vezes diferente. Não consigo odia-lo, mas sei que ele pode me odiar.

— Você ainda conspirou com Namjoon para me humilhar, me destruir. — Chorando, Kyung-ho voltou a desmoronar. — Me humilharam na minha casa, na frente da minha família e das pessoas mais importantes pra mim! Fica falando que Jin não merece ouvir nada disso mas foi você quem o expôs na frente de todos!

Nesse momento eu quis me defender, dizer que não sabia o que Namjoon planejava para essa festa e que eu, igual a ele, éramos duas vítimas. Como Namjoon descobriu sobre Jin e como ele conseguiu provas tão concretas para usar no dia desse noivado? Porém, quem sou eu para me vitimizar? Pude somente tombar a cabeça e aceitar. Jin deve pensar o mesmo, que tive algo a ver com toda essa porcaria.

Depois de alguns instantes ele não disse mais nada, então virei as costas e voltei a caminhar para onde estava indo.

— Onde pensa que vai?! — Voltando a gritar, respirei fundo e não parei de caminhar. Não vou escutar nada mais, estou tão farto quanto ele. — Vou embora, não tenho nada para dizer.

Assim que disse isso, escutei uma movimentação estranha vindo de trás. Quando virei, vi rapidamente algo na mão de Kyung-ho e uma luz brilhar seguido de um ruído alto. Não percebi no primeiro momento, mas assim que senti que um líquido quente escorria por minha barriga, diferente da água gelada da chuva, passei a mão por cima e vi meus dedos vermelhos. Minha única reação foi de olhar para frente, vendo os sapatos pretos de Kyung-ho, subindo o olhar lentamente para vê-lo com uma arma na mão.

Fui baleado? Senti algo parando dentro do meu corpo, o furo no terno e o sangue escorrendo cada segundo mais rápido. Só então veio a dor, a realidade. Boquiaberto o encarei, nada além de puro ódio naqueles olhos escuros.

Kyung-ho vai mesmo me matar?

De repente já não tinha voz para sair, meu sangue escorrendo rapidamente e minhas pernas começando a enfraquecer quando caí de joelhos. Só consegui deitar com o rosto na grama e terra molhada, meu corpo paralisando, o ar faltando. Minha visão ficou turva, quando avistei de longe Namjoon correndo na nossa direção, podia ver sua boca se mover como se gritasse, mas não escutava nada. Eu quero gritar, me ajuda, me ajuda, me ajuda...

Mesmo me vendo no chão, Kyung-ho não se desarmou, ele estava pronto para me acertar uma segunda vez. Só podia assistir suas pernas se aproximarem de mim, Namjoon não vai chegar a tempo, vou morrer. Não consigo correr, meus braços não se movem, ele acertou algo muito sério, a terra gelada no meu rosto não me deixava apagar. Se ele acertar minha cabeça eu vou morrer.

Fechei os olhos e comecei a chorar, ele está cego demais para parar.

𝚈𝙾𝚄 𝙰𝚁𝙴 - 𝙺𝙾𝙾𝙺𝙹𝙸𝙽 {𝙺𝚂𝙹, 𝙹𝙹𝙺}Onde histórias criam vida. Descubra agora