Doce Juventude - [Em Andamento]

10 - Supera!

Após perceber que o brigadeiro estava frio o bastante, começo a montar os bolos. Uma camada de bolo triturado, molhar com leite, uma camada de brigadeiro, outra camada de bolo, molhe com leite. Isso se repete até que o pote esteja cheio, mas não até a tampa, para que na hora de fechar o conteúdo não transbordasse.

Já estava pronta para a escola desde um pouco mais cedo, e resolvi vir terminar os bolos. Após mais algum tempo repetindo esse processo embalando com plástico, adicionando uma colher e uma etiqueta com validade de três dias estavam prontos. Vinte unidades, foi o que consegui comprar de material e produzir com o dinheiro que ganhei.

Quando algo ruim acontece, você tem a sua capacidade física, emocional e cognitiva abalada em apenas 1%. Está nas suas mãos a escolha de saber o que fazer com aquilo: sofrer e chorar escondida debaixo de uma coberta, ou usar aquilo como uma alavanca para vencer na vida?

Eu escolhi vencer, e já tava adiando muito o meu sonho. Foram tantas interferências, tantas coisas ruins e boas que aconteceram comigo ao mesmo tempo. Em menos de um mês eu descobri ter crises de ansiedade, que minha mãe não era minha mãe e que minha irmã era uma vaca.

Não posso mentir, tudo isso me magoa quando eu paro pra pensar na vida, e então eis a solução, não parar! Eu não vou parar até conseguir chegar no meu objetivo final.

Antes que pudesse terminar o meu monólogo escuro alguns passos vindo direto da do lado de fora da cozinha. Karen havia acordado e estava visivelmente chateada com alguma coisa.

Sentou na bancada pegando uma xícara d servindo café preto que eu mesma havia feito para despertar.

— Bom dia, flor do dia. — Termino de colocar os bolos na bolsa térmica e me lembro de como havia comprado uma bolsa nova.

— Bom dia, Ma. — Soa como grossa e eu prefiro não estender. — Deixa um bolo pra mim por favor, te pago quando a gente voltar da escola.

— Você também tá de TPM? — Faço uma careta de dor encarando minha amiga.

— Sim, e ainda por cima triste e xoxa. Me sinto sobrecarregada às vezes. Tem as coisas aqui pra fazer, a agência, o colégio. É como se eu não tivesse tempo pra me cuidar ou fazer alguma coisa que me deixa bem.

— Mas não era pra agência servir não só de trabalho pra você? Sempre falamos disso como lazer, o que rolou?

— A Isa é tudo pra mim, mas tem uma garota lá que me consome.

— A tal da Bianca? — Tento resgatar o nome e as memórias de seu rosto aparecem em minha mente.

— Sim, a que você fez questão de fumar…

— Bom dia meninas. — A mãe de Karen entra pelas cozinha e eu imediatamente engasgo com o café. — Respira! — Ela dá alguns tapas nas minhas costas.