13 | O roteiro de um clichê

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Minha boca faz um "O" perfeito assim que me afasto. Peter está vermelho, e desvia o olhar.

- O que foi isso? - Sabina questiona, tão espantada quanto eu, atrás de mim.

Olho de novo para a quadra, mas os jogadores já se foram. Com sorte talvez Josh não tenha visto nada, o que evitaria muitos problemas.

- Peter você ficou louco?! - grito.

- Relaxa Any, foi só um beijo - dá de ombros. - Não é como se você e Josh tivessem um namoro assumido.

Peter estava certo, não assumimos nenhum namoro. Nenhum de nós sabe muito bem como abordar o assunto, ao que parece, mas achei que tivesse ficado bem claro que estávamos tendo alguma coisa.

Chegando a conclusão de que discutir com Peter não vai adiantar de nada, decido correr para o vestiário, procurando por Josh.

O vestiário masculino fede. E quando eu digo que fede quero dizer que fede muito muito mesmo.

Alguns caras me olham como se eu fosse louca, mas ninguém está se trocando por onde eu passo - ainda bem.

Nossos vestiários na escola tem uma parte específica para trocar de roupa, que fica separada. Atualmente estou na parte dos armários.

Cutuco alguns caras perguntando por
Josh, mas eles apenas respondem que ele passou rapidamente pelo vestiário e saiu com pressa.

suspiro. Ele deve ter ido embora. O que significa que ele viu o beijo. Merda.

Demoro uns 5 minutos até atravessar a escola toda, chegando finalmente no estacionamento. Para minha surpresa, a moto de Josh ainda está estacionada, e ele está encostado na moto.

Ando na sua direção, e suas pupilas pousam em mim na mesma hora.

Josh já trocou de roupa, ficando apenas com uma blusa preta de alguma banda de rock, um jeans rasgado e segurando um cigarro na mão direita.

Quando paro na sua frente ele tira o cigarro da boca e solta a fumaça do meu lado. Torço o nariz com o cheiro desagradável, tentando manter uma expressão severa.

Ele me ignora, dando mais uma tragada, até que eu cruze os braços e comece a falar:

- Sair desse jeito foi ridículo e infantil, sabia?

- Você também foi ridícula e infantil depois que beijou Peter na minha frente.

- EU NÃO BEIJEI
PETER! Ele me beijou! Ele!

- E você retribuiu o beijo? - ergue a sobrancelha.

- Não, claro que não! Eu não sei porque ele fez isso...


Josh me interrompe e joga o cigarro no asfalto antes de continuar:

- Eu disse que ele estava afim de você, mas você disse que era apenas amizade. Viu só? Ou você devia confiar mais em mim, ou rever seus conceitos de amizade.

- Josh, eu achei que tivesse ficado claro para Peter que estávamos namorando, eu sinto muito, mas não pode esperar que eu previsse aquilo.

Josh fica pálido, Ele põe as mãos nos bolsos - gesto que já conheço bem demais - e ajeita a postura.

- Namorando? Quem disse que estamos namorando?

- Depois de tudo que rolou eu assumi que estivéssemos. Você não? - digo, franzindo as sobrancelhas.

Ele suspira antes de continuar:

- Docinho, eu gosto de ficar com você, e gosto de beijar você, e com certeza não quero que a idiota da Emma chegue perto de você - Josh se aproxima, acariciando a minha bochecha. - Mas eu não estou pronto pra assumir um compromisso agora. Nós temos um lance, seja lá o que for, eu também sei que ele existe, mas você não acha que é cedo demais pra decidir algo?

- E-eu pensei...

- Quando eu disse que iria te magoar Any, era disso que eu estava falando. Merda, você não vê? - ele se afasta, e passa as mãos pelo próprio cabelo, inquieto.

- Vê o que? Que a ideia de namorar comigo seria tão ruim assim? - sibilo, frustrada.

- Não Any - sussurra. - Que eu vou quebrar seu coração.

Já sei onde ele quer chegar com essa porcaria clichê.

Junto toda a minha paciência e tento formular uma frase sincera e convincente:

- Isso é ridículo, eu gosto de passar as tardes com você, você é sempre tão legal comigo e...

- Legal? É disso que eu tenho medo, Any, eu não sou o tipo de pessoa legal, e assim que você perceber do que eu realmente sou capaz, vai entender.

As palavras ecoam na minha cabeça, como uma música chiclete. De que merda ele está falando?

- Ótimo. Ótimo isso é definitivamente ótimo - reviro os olhos. - Você se arrependeu de tudo certo? E deixa eu adivinhar, acha que não é bom o suficiente pra mim? - pergunto, ironicamente. Josh continua me fitando com um olhar que provavelmente significa que sim. - Eu deveria ter imaginado - rio com escárnio. - Ok fuckboy. Se não está pronto pra um compromisso, então me deixe em paz. Vai poupar nós dois.

Estou tentando parecer fria e ignorante, mas na realidade, estou agindo assim apenas porque sinto como se fosse cair de um precipício a qualquer momento.

Isso é injusto, nunca pareceu tão ruim assim nos livros clichê!

Josh tinha razão quando falou sobre Peter e também tinha razão quando disse que iria me magoar... O que me faz acreditar que o que diz agora deve ser verdade também.

Não me leve a mal, eu não vejo nada de errado em beijar algum desconhecido de vez em quando, mas não sou o tipo de garota que se aproxima tanto assim de alguém e não assume nada. Simplesmente não consigo. E além do mais, já nos aproximamos o bastante pra isso ser ruim o suficiente.

- Posso te levar pra casa? - ele questiona, quase inaudível.

Por quê diabos ele faz com que tudo tenha que ser ainda mais difícil?

Eu sei que Josh gosta de mim. De verdade, não duvido disso. Mas se nem ele acredita em si mesmo, como podemos ficar juntos?

- Só porque estou a pé. Sim - respondo.

Um dos cantos da sua boca se ergue, e ele sobe na moto. Vou logo atrás.

Não sei como vamos nos tratar assim que nos vermos no meu trabalho. Eu não tenho dúvidas de que o clima vai ficar estranho.

Respiro fundo e deixo a brisa guiar meus pensamentos para longe. Que seja, as coisas vão ser como devem ser. Um passo de cada vez.

Josh estaciona na frente da minha casa, e nos fitamos por um tempo grande demais antes que eu desça da moto.

- Nos vemos amanhã fuckboy - murmuro.

Ele segura meu braço antes que eu possa me afastar:

- Any... Eu quero que saiba que mesmo que talvez não tenhamos "namorado" oficialmente, tudo que eu falei pra você foi verdade. Quando te fiz gozar na piscina...

- Tá, tá, tudo bem. Não estrague o momento - interrompo, antes que eu fique constrangida. - Eu lembro do dia na piscina. Não precisa descrever com detalhes.

- Cada palavra foi verdade - ele continua.

Me solto de seu toque e me apresso para entrar em casa. Mesmo assim, ouço Josh murmurar distante atrás de mim:

- Até amanhã, docinho - mas diferente de todas as vezes em que usa esse apelido ridículo, não há nenhum tom de sarcasmo ou divertimento nele dessa vez. Só há um vazio.

Fim do capítulo!
Espero do fundo do coração que tenham gostado!
Se a resposta for sim, por favor podem deixar uma estrelinha? Ajudaria muito minha motivação, obrigadaaa ;)

BABÁ DE UM BAD BOY - ADAPTAÇÃO BEAUANYOnde histórias criam vida. Descubra agora