Levantei cedo, vi o sol se abrindo através das nuvens, peguei um copo de café forte, sem açúcar e fui a rua para mais um dia. Até que vi você. Seu rosto refletia no amarelo dos raios de sol, sua boca vermelha, serena, fez com que eu perdesse tudo que eu achava que tinha. Sanidade.
Quando senti sua pele horas depois sobre a minha, tudo explodiu, incluindo nós dois. Meu cabelo enroscava em você, sua mão enroscava na minha, tudo fazia sentido. Os dois corpos se encaixavam com perfeição. E quando tudo acabou, cai do seu lado com a respiração pesada.
Você levantou, completamente nu, foi buscar uma garrafa de água gelada. O quarto era pequeno, cabia uma cama de casal, um mini guarda-roupa e talvez três pessoas e um gato. As paredes repletas de pôsteres e desenhos. Você era artista. Quando voltou com a água segurava um gato preto na mão.
"Quem é essa?" minha voz estava rouca. Acendi um cigarro.
"Kiara" foi a primeira vez que eu ouvi sua voz longe do meu pescoço.
Coloquei qualquer camiseta largada pelo chão e fui até o banheiro. Minha testa estava oleosa, como se eu tivesse corrido uma maratona, o rosto vermelho, os cabelos bagunçados e a maquiagem preta dos meus olhos, escorrida. Eu estava linda. Fiz tudo o que tinha que fazer, lavei o rosto e voltei para o quarto.
Tocava "too drunk to fuck", você bolava um beck e eu deitei do seu lado mexendo no celular. Depois de uns tragos senti meu coração pulsando, queria mais e mais de você. Quando vi, já estava sem camisa de novo, o gato não estava mais no quarto, e eu sentia que ia perdendo o folego aos poucos. O punk tocando no fundo era muito confortante, sentia adrenalina correndo pelo meu corpo, era bom, era incrível, era novo.
Dessa vez acabei com a testa pingando suor, você respirava tão alto do meu lado que por um momento eu me questionei se você poderia ter asma, mas não disse nada. A gente se olhou e começou a dar risada, quem diria que nós dois estaríamos aqui, desse jeito?
"ta com fome?" ele perguntou, sentando na cama.
"acho que sim" peguei outro cigarro.
"vou pedir um baratinho pra gente comer então" e foi até o celular.
Ele desligou a música, não demorou muito tempo para pedir qualquer coisa para a gente comer. Fiquei no celular enquanto esperávamos, Kiara subiu na cama e ficou entre nós dois. Era um silencio confortável, fazia sentido não dizer nada naquele momento, a gente não precisava dizer nada. A comida chegou, nós comemos e eu comecei a vestir a minha roupa.
"Que horas são? Meu celular acabou a bateria" perguntei enquanto colocava o meu shorts.
"São quase dez horas, da tempo de você chegar em casa? Não quer ficar aqui?" ele acendeu um cigarro.
"Lógico que da. Eu pego a linha vermelha, em quarenta minutos eu to em casa"
"Fecho então gatona"
Ele me levou até o portão, antes de sair do seu prédio me virei e dei um sorriso pra ele. Ele me deu um beijo demorado e sorriu para mim com o rosto quase colado no meu. Senti suas mãos descendo até a minha cintura, os cabelos bagunçados por causa de tudo deixava ele mais bonito do que antes.
"Vou descobrir seu nome quando?" ele deu risada.
"Só depois que eu descobrir o seu." Dei um beijo rápido nele e fui embora.
Antes de chegar em casa, dessa vez com a luz da lua iluminando todo o centro de São Paulo, fui andando até um boteco mais próximo. Peguei um café forte e sem açúcar e tomei de uma vez. Caminhava na rua para o fim de mais um dia, até que vi outro alguém, dessa vez com os cabelos loiros e com os olhos escuros e senti outra onda de adrenalina no meu corpo. Sorri e ele retribuiu, fui para casa e dormi.
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Linha Vermelha
Kurgu OlmayanColetânea de textos, contos, cronicas e poesia. O titulo do livro vem da linha vermelha de São Paulo, onde eu moro tem 19 anos. Amo essa cidade e não sei o que faria sem ela, resolvi trazer uma pequena homenagem. Quero falar sobre essa cidade caótic...