Dia 5: Através da Janela

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Meu corpo parecia um balão, como se não existisse nenhum órgão dentro de mim. O meu cérebro não funcionava, era como se fosse um vácuo de ideias, nada fazia sentido, não existia conclusão, não existia começo, meio e fim. Meu coração não bombardeava emoções e se estava bombardeando sangue eu só sabia por que permanecia viva. Meu peito subia e descia devagar e essa era a única coisa que fazia eu acreditar que ainda conseguia respirar sozinha. As vezes sentia o meu corpo necessitando de movimentos, virava para o outro lado da cama e permanecia daquela forma até que ele precisasse que eu virasse para o outro lado.

Às vezes eu não sabia se estava ouvindo sons vindo da rua ou se a minha cabeça os criava para eu me sentir menos sozinha. Eu não sentia mais o cheiro das coisas, não sentia o gosto das coisas, não sentia a textura das coisas. Comer virou necessidade, não vontade.

Quanto mais o tempo passava mais imersa aos meus pensamentos eu ficava, aqueles que não tinham começo, meio e fim. Como poderia pensar em tantas coisas e não chegar a nenhuma conclusão em nenhum dos meus pensamentos? Eles só estavam lá para fazer com que eu fosse engolida por mim mesma.

Pensei em criar situações hipotéticas do cotidiano, coisas que eu já havia vivido antes de acabar comigo mesma, mas pegar um copo de água não fazia mais sentido. Quando Zé Ramalho disse que sinônimo de amar é sofrer, não sabia que seria dessa forma. Ainda tinha na cabeça um amor bonito e confortável, mas amor também sabe ser cruel, ele consegue machucar partes de você que talvez você não conheça. Eu amei tantas vezes que não cabe em mim, mas essa foi a primeira vez que eu senti que a perda do amor me consumiu, me engoliu, me deixou sem saber quem era eu.

Se você olhasse para fora da janela e visse agora que o mundo está acabando, você não sentiria o desespero que eu estou sentindo por achar que não sinto mais nada. Eu queria lembrar a sensação do sol ardendo na minha pele, queria lembrar da sensação do vento bagunçando o meu cabelo, mas nem isso eu consigo sentir. É desesperador.

Eu sentei na minha cama a pouco para escrever esse texto, sem saber como ele iria terminar, porque eu não sei como finalizar uma linha de raciocínio depois disso, parece que as coisas são um breu sem fim, mas você pode me enxergar através de poucas palavras, estou aqui transparente e inteiramente frágil para dizer que o amor dói, mas não é porque dói que eu vou abandonar as possibilidades de amar cada vez mais daqui pra frente, ele pode ser cruel, mas ele é lindo da sua forma mais sublime e é nisso que eu vou me segurar para continuar escrevendo cada uma dessas linhas embaraçadas, que podem não fazer sentido nenhum, mas que significam amor pra mim. 

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