Capítulo 2:Sir.Camacho,com prazer

20 4 0
                                    


POV RICHARD
3 de março, ás 16:30.
A chuva insistia em cair fortemente. Estava parado em frente a uma loja de roupa aguardando ela cessar um pouco para poder pedir os tradicionais táxis que enchiam a cidade e a fazia com que surgissem os caóticos trânsitos nova iorquinos. Por mais louco que pudesse parecer eu já havia me acostumado com isso, afinal dali a sete meses completaria 10 anos que eu morava em Nova York.
Depois que mudei pra cá e entrei na ADDF foram longos cinco anos de estudos teóricos e práticos para finalmente ser reconhecido como dançarino. Me apresentei em diversas ocasiões, ganhei prêmios e fui reconhecido como um dos melhores dançarinos dos últimos tempos.
Nos últimos três anos decidi abrir minha própria academia de dança, além de ter alunos mensalistas, tinha uma parte dos alunos que eram bolsistas. E além disso a parte que mais me orgulhava era a parte filantrópica, onde eu ensinava dança sem custo nenhum a crianças de 6 a 15 anos. Dona Susanna me ajudou muito com isso.
Meu celular tocou, peguei ele do bolso e verifiquei quem era. Erick.
Richard: Eai magrelo, já chegou?
Erick: Infelizmente não. A chuva está muito forte e não quero me arriscar na pista. Paramos em um hotel e seguimos viagem amanhã cedo.
Richard: Ótimo. Vão ficar hospedados lá em casa, certo?
Erick: Sim. Isa se recusa a ir para outro lugar. Cara, sua casa tem mil e um cômodos.
Richard: Aposto que foi a Isa que te contou isso, continua sendo a mesma exagerada de sempre.
Erick: Você não viu nada. — riu Erick. — Enfim, te ligo antes de sair do hotel.
Richard: Ok. Até amanhã magrelo.
Eu, Isa e Erick continuamos muito amigos mesmo depois do internato. Eles vieram morar em Los Angeles, um ano depois que eu vim pra cá. Fui visita-los diversas vezes assim como eles também viam pra cá com frequência. Os dois haviam se casado há quatro anos atrás, foi uma cerimônia pessoal sem muitos convidados. Foi lindo de ver.
Por mais doida que Isa fosse, o instinto materno bateu nela e os dois almejavam muito ter um filho e recentemente ela descobriu que estava grávida, com isso Erick decidiu que trazer ela para Nova York seria o melhor a se fazer. Eu fiquei muito feliz, principalmente quando eles me chamaram para ser padrinho do bebê, o que já era esperado, é claro, mas mesmo assim não deixou de ser emocionante. Eles me enviaram por correio uma caixa que ao abrir saiu um balão com gás hélio e estava escrito 'aceita ser meu padrinho?', no mesmo instante liguei meu notebook e fiz uma chamada via Skype. Ao atenderem, eles estavam eufóricos e eu cheguei até a chorar junto com eles.
Percebi que sorria e balancei a cabeça, daqui a pouco o povo ia me chamar de louco por estar sorrindo a toa.
Avistei um táxi e sai correndo acenando. Ele parou e eu entrei, cumprimentei o motorista e passei meu endereço.
Por mais que minha academia, a New York Dance, ou NYD, ficasse localizada na quinta avenida, em um dos prédios comerciais, eu morava do outro lado, na Upper West Side na 163 WEST 80TH STREET, o que dava mais ou menos uns oito minutos de carro. Eu até tinha meu carro, mas preferia não usá-lo já que não tinha paciência alguma para o transito e as vezes o clima piorava tudo, a chuva dava lugar a neve.
Passo em frente a um prédio que estava sendo reformado, o motorista também olha e faz uma careta.
Motorista: Qualquer hora vão reformar até a cidade ... Esses estrangeiros.
Richard: O senhor sabe o que vai ser ai? — pergunto ainda olhando para a grande fachada.
Motorista: Sei lá meu jovem, deve ser mais uma loja de roupa. — o homem resmunga.
Assinto com a cabeça e olho para o outro lado.
Minutos depois, o táxi parada na frente ao edifício aonde ficava meu apartamento, pago o motorista e desço. Ao contrário do que Isa falava minha casa apenas tinha seis cômodos, divididos entre uma cozinha, uma sala de estar e quatro quartos, sendo o principal com suíte. E graças a Deus, agora que eu teria mais dois hospedes, mais dois banheiros.
Abri a porta principal e vejo o sir. Thompson, o porteiro do prédio. Ele era muito simpático e aceitou por uma quantia de 177 dólares cuidar do meu beagle chamado Perseu. Eu sei um nome forte pra uma raça tão dócil.
Thompson: Boa tarde Sir. Camacho. Já deixei o Perseu a sua espera.
Richard: Obrigada Thompson. Alguma carta pra mim?
Thompson: Nenhuma.
Richard: Como sou amado. — ironizei levando a mão ao peito.
Thompson: Aliás senhor... aquela sua amiga — o homem piscou. — Está ai.
Faço um joia pra ele e caminho até o elevador, aperto o botão e fico aguardando ele chegar. Ao parar no térreo, eu entro e subo até o segundo andar, que era onde ficava meu apê.
Abro a porta de casa e sou recebido por latidos animados de Perseu.
Richard: Sentiu minha falta garoto? Tenho sido um pai ausente né? — brinco com ele.
Camilla: Não é só ele que vem sendo negligenciado.
Camilla Smith, também era ex-aluna do ADDF, entrou na academia, dois anos depois que eu. Além disso, era filha de um dos maiores magnatas de Manhattan. Ela tinha cabelos pretos, os olhos verde e a pele bronzeada. A mãe dela era brasileira.
Me aproximo dela e lhe dou um beijo rápido, ela sorri e se afasta voltando para a cozinha, eu a acompanho juntamente com Perseu.
Richard: Não esperava você aqui em dia de semana. — digo me sentando em um dos bancos da bancada. — Pensei que tivesse ensaios.
Camilla: Consegui uma folguinha. — ela tivesse se virando para pegar o azeite que estava dentro do armário. — Aproveitei para te mimar um pouco.
Richard: E o que faz de gostoso pra gente?
Camilla: Filés de peixes com alecrim. Preparei um arroz branco também. — disse jogando um pouco de azeite nos filés.
Richard: Pode comer arroz branco? Pensei que o seu agente tivesse a proibido. — indago abrindo a panela e sentindo o cheiro delicioso.
Camilla estava participando de um espetáculo da Broadway e seu empresário e agente era extremante rígido com ela.
Camilla: Não conte pra ele Camacho e eu te recompensarei pra sempre.
Richard: Agora a conversa ficou interessante. — digo com um sorriso malicioso.
Camilla: Bobo! — ela ri. — E seus amigos? Eles não iam chegar hoje?
Richard: Eles resolveram parar um pouco, mas amanhã já estarão aqui.
Camilla: Posso vir fazer um almoço pra eles? Eu queria muito conhece-los. — ela diz fazendo um biquinho.
Richard: Acha que consegue outra folguinha?
Ela se aproxima de mim e coloca seus braços entre meu pescoço, abre um sorriso e diz.
Camilla: Até duas se quiser.
Richard: Eu ia adorar.
~~~~~~~~~~~~
04 de março ás 1:41.
Acordo assustado ao ouvir uma sirene na rua. Sinto um carinho de leve no meu peito nu, Camilla mesmo sonolenta me acariciava. Acendo o abajur e levanto o lençol cobrindo ela melhor, já que estava nua e o fazia frio de madrugada. Tiro seu braço devagar e vou até banheiro. Depois de usá-lo, volto a me aconchegar na cama e pego meu celular, tinha uma mensagem de voz da Elisabeth. Sim, Elisabeth Frey.
'Bonjour Camacho, quer dizer ai deve ser de madrugada, esses fusos horários... Enfim! Tenho novidades! A companhia internacional de Ballet vai fazer uma tour e adivinha o primeiro lugar que iremos passar... Sim! Nova York! Estou ansiosa para revê-lo. Espero que esteja tudo bem como você, com o Perseu e com a Camilla. Beijos.'
Fico extremamente feliz com a mensagem da Elisabeth, respondo com três corações e gravo um áudio.
'Que bom que me avisou, assim posso comprar mais roupas de camas. Também estou com saudades Lisa. Venha logo! Estamos todos bem, aliás estamos todos juntos nesse momento.'
Nesse mesmo instante vejo Perseu entrar no quarto e subir na cama se deitando em meus pés, desligo o celular e me preparo para voltar a dormir, amanhã teria muitas outras emoções.


Meu Vício-CNCOOnde histórias criam vida. Descubra agora