ᴅᴜsᴋ ☾ ᴊᴇɴʟɪsᴀ

23. "jogo inverso"

24 horas antes...

LALISA

Preto. É tudo o que eu vejo diante dos meus olhos, se é que eu estou realmente vendo algo. Sinto que estou desse jeito há algum tempo, mas não consigo ter noção do quanto. Por vezes, consigo escutar sons e vozes, mas não consigo identificar nenhuma palavra, nem a quem as vozes pertencem. Também não consigo lembrar o que aconteceu, nem porque estou aqui. Não quando nem como perdi minha consciência, embora sinta que preciso voltar a encontrá-la.

E mais uma vez, silêncio. As vozes que eu escutava em algum momento já não são mais audíveis, e eu me sinto de novo mergulhada em um grande nada. Não consigo mover nenhuma parte do meu corpo, porque não consigo sentir ele. Parece que estou simplesmente bloqueada do mundo.

Porém, apesar de não conseguir sentir nada do lado de fora, sinto que não estou sozinha nesse lugar, aonde quer que ele seja. Não consigo ver nem escutar nada, mas de alguma forma, eu consigo sentir que tem algo aqui comigo.

Está atrás de mim. Embora eu não tenha noção de espaço, eu sei que esse tempo todo, isso está atrás de mim.

"Você é entediante..."

Mais uma vez uma voz soa. Mas não é como antes. Ela não vem do lado de fora, ela vem desse lugar, vem de perto. E ela vem de trás.

Quem é você? Onde estamos? O que está acontecendo?

"Estamos em você." Ela soa de novo, como se pudesse ouvir meus pensamentos. Talvez possa.

"Como você se chama?" A voz pergunta. Sinto que isso não é algo que ela queira saber, mas sim algo que ela quer verificar se eu sei. Como se estivesse testando meus sentidos.

Lalisa. Meu nome é Lalisa.

O silêncio volta a tomar aquele lugar escuro mais uma vez. Não sei quanto tempo passou desde que ela falou pela última vez, mas em algum momento, o cenário não é mais totalmente preto.

No meio da escuridão, um silhueta branca surge. Não consigo identificar se é uma silhueta masculina ou feminina, é apenas a forma de um corpo, sem nenhum detalhe, sem uma face, sem nada.

Quem é você? Pode me dizer?

"Taika."

Taika? Esse é seu nome?

"Depende. Por vezes meu nome é Lalisa." O som de sua risada soa. Um som arrepiante e assustador.

Como assim? Lalisa é meu nome.

"Exatamente. Por vezes eu sou você."

Eu não compreendo...

"Eu fui você nos momentos em que você não lembra de ser você."

Suas palavras parecem desencadear as informações do meu cérebro, e do nada tudo faz sentido. Minhas memórias começam a voltar para mim lentamente, tornando tudo mais claro.

Ela foi eu em momentos que eu não tenho memória. Ela foi eu no momento em que aquele homem foi morto por mim...

"Não foi apenas aí." Mais uma vez, sua risada soa.

Como não?

"Você não lembra como veio parar aqui?"

Não. Eu simplesmente não lembro quando foi meu último momento consciente.

"Eu fui você, quando você tentou se enforcar e acabar com a sua vida." Não tenho certeza se suas palavras me assustam mais do que sua gargalhada alta.