14 | Dor no coração

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A manhã seguinte à minha discussão com as meninas chegou, mas a reconciliação não veio junto com ela.

Tinha acordado cedo, já que o sono resolveu me abandonar nas primeiras horas do dia e nem o mundo da inconsciência queria minha pessoa por perto. Sem opção, deixei o quarto e fui para a cozinha na esperança de encontrar alguma coisa pra me distrair, normalmente o café da manhã estaria sendo preparado e quem sabe pudesse ajudar.

— Acordada à essa hora, Clementine? — Soraia quis saber quando coloquei a cabeça para dentro do cômodo e dei um bom dia sem jeito para as mulheres ali presentes.

— Meio que caí da cama — brinquei, agora entrando de fato na cozinha. — Vocês precisam de ajuda?

— Está tudo sob controle — Soraia respondeu, porém pareceu mudar de ideia ao ver o desapontamento em meu rosto —, mas se quiser pode cortar esses pães e colocar as bolachas nas vasilhas.

— Pode deixar — assenti, agradecida por ter algo a fazer.

Me sentei em uma cadeira em volta da mesa e comecei meu serviço. Enquanto o fazia, remoí o que as meninas disseram, não conseguia acreditar na forma como me trataram, como se eu fosse uma criança imatura.

Estava brava, magoada e com um aperto chato no peito que não me deixava em paz.

Elas que estão erradas, não eu, mas porque estou sentindo essa sensação tão ruim? — estava começando a ficar aborrecida até comigo mesma. — Senhor, o que é isso? Por que parece que do nada tudo começou a dar errado?

Era nosso último dia de retiro, na manhã seguinte pegaríamos a estrada de volta para casa. Não queria terminar aquelas férias de mal com minhas novas amigas, deveria ser o começo de uma coisa especial. Bom, estava sendo, até tudo ruir.

Terminei meu trabalho e decidi fazer o que sempre fazia quando tinha alguma coisa latejando dentro de mim: Escrever.

Peguei um pãozinho para servir de café da manhã e fui para a área dos dormitórios. Minha intenção era passar no quarto a fim de buscar meu caderno e minha Bíblia e seguir para debaixo da sombra de uma das árvores.

Entretanto, vozes conhecidas vindas do quarto da Sophia e da Fabiana me fizeram parar no meio do caminho.

— Que papo estranho, Sophia. — Pela porta entreaberta eu pude ver Gustavo cruzar os braços.

— Só me responde. — A voz da garota demonstrava impaciência.

— Eu não gosto da sua amiga, não desse jeito que você está insinuando.

Levei a mão à boca, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Eu não insinuei nada, só quis tirar uma dúvida boba.

— Por acaso eu dei a entender isso? — Gustavo pareceu preocupado com a possibilidade.

— Te conheço o suficiente para saber que não, só foi uma impressão, vocês passaram um bom tempo juntos nesses dias. Ficou martelando na minha mente e quis ter certeza que era maluquice.

— Olha, a Clementine é uma menina legal, mas ela tem quinze anos, é tipo uma criança.

Certo, queria não ter escutado aquilo. Apertei as mãos no rosto sentindo as bochechas esquentarem.

— Além de que um relacionamento está longe de ser meu objetivo por bastante tempo — o rapaz continuou a falar, meus pés não obedeceram a razão e permaneceram inertes. — Meu foco agora é entrar no seminário e passar os próximos anos me preparando para o ministério.

— É, isso foi uma das razões que me fizeram descartar a ideia — Soph respondeu. — Bom, era só isso.

Me mexi para ir embora, mas a voz do rapaz voltou a preencher o ambiente.

Tinie e o retiro de verão (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora