A Tinie de dois dias atrás diria sim sem hesitar, mas eu não era mais a mesma, queria agradar a Deus inteiramente e para isso contrariaria meus desejos sempre que precisasse.
— Não, obrigada — abri um pequeno sorriso —, posso dar um jeito nisso sozinha.
Ele concordou comigo sem tentar me convencer, senti uma mistura de decepção e alívio, a última em maior quantidade.
Virei as costas e saí em direção ao banheiro. Fechei a porta atrás de mim ao chegar e após lavar meu dedo, procurei um curativo adesivo na caixinha de primeiros socorros. Não tinha nenhum.
Suspirei, enrolando um pedaço de papel higiênico para estancar o sangue. Sem outra opção, deixei o banheiro e caminhei enquanto tentava prender aquele curativo improvisado de alguma forma.
Eu era a Clementine e quando ficava distraída já sabem o que acontece.
— Ai! — reclamei ao esbarrar em alguém quando virei o corredor.
— Desculpa. — O garoto me olhou com preocupação. — Se machucou?
— Sim, mas não agora — brinquei, levantando meu dedo indicador a fim de tranquilizá-lo.
— Que engraçado, acho que nós dois temos um problema em comum. — Riu, erguendo seu dedo com um band-aid.
Coloquei as mãos na cintura, rindo da coincidência.
— Só que tu teve mais sucesso em achar um curativo.
Ele pareceu se dar conta de algo e enfiou a mão em um bolso da calça e depois no outro, até achar um curativo extra.
— Prontinho, moça. — Entregou-o pra mim.
— Obrigada! — Sorri com gratidão e acenei para ele, correndo de volta ao banheiro para me livrar do papel e colar o adesivo.
Estiquei a mão em frente ao corpo e observei meu "trabalho", de repente dei risada, achando graça ao pensar que aquela coisinha tão pequena significava bastante para mim.
No fim, aquele machucado e seu tratamento me ensinaram que fazer o que agradava a Deus era muito mais satisfatório que seguir minha carne e que Ele provia mesmo escapes para tentações.
Era engraçado como situações cotidianas podiam nos ensinar, bastava que estivéssemos atentos e a vida comum se mostrava uma ótima professora.
Saí do cômodo e fui atingida pelos acordes de alguma música sendo dedilhada no violão, era o sinal de que o culto estava prestes a começar. Apressei os passos para terminar a tarefa que Soraia havia me dado. Com cuidado extra, terminei de cortar os papéis e me acomodei ao lado das minhas amigas.
— O que aconteceu com teu dedo? — Leti indagou, fazendo as outras notarem.
— Ah, só um acidente com a tesoura. — Dei de ombros e não tive tempo de dar mais explicações, pois a liturgia teve início.
Enchi algumas folhas do meu caderninho depois daquela pregação. O tema da vez foi como Jesus mudava a vida das pessoas por quem passava e o glorioso fato de que, ainda hoje, Ele muda as nossas também. É claro que atualizei meu "blog", assim que o culto chegou ao fim. Estava distraída com o celular, nem percebendo quando Soraia se aproximou.
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Tinie e o retiro de verão (LIVRO 1)
SpiritualVocê já teve medo? Clementine tem 15 anos e sente isso com frequência, principalmente depois de se mudar com os pais para Serra Brilhante - BA. Tudo piora quando sua mãe faz o favor de mandá-la ao retiro de verão da nova igreja - onde ela não conh...