Tinie e o retiro de verão (LIVRO 1)

17 | Deus sempre vê você

Aquele domingo amanheceu banhado pelo sentimento de despedida e pré-saudade. Segui em direção ao banheiro sem muita pressa, quase abatida. O clima era o mesmo na fila, parecia que todo mundo já sentia o fim do retiro de verão e, consequentemente, o presságio da volta às aulas e à rotina monótona.

— Ai, gente! Vamos espantar essa tristeza — Leti disse alto, tentando animar o pessoal, porém não adiantou muito.

— É a realidade batendo na nossa porta, daqui a pouco as férias acabam e aí já viu, escola, cotidiano e tédio. — Brinquei com a escova de dentes em minhas mãos, vendo a fila diminuir.

— Bom, pra mim as aulas do colégio acabaram. — Sophia deu de ombros.

— Nem me fale nisso! — Fabi passou os braços pelos ombros da amiga. — Com quem eu vou trocar provocações agora?

— Disso eu não vou sentir falta — Leti cochichou para mim, que ri ao lembrar das discussões das duas.

— Animada pra conhecer a base, Soph?

Sophia tinha um chamado para as missões, aquele desejo era presente nela desde criança, pelo que as meninas me contaram. A garota sempre esteve inserida nesse ambiente graças aos pais, os quais serviram no ministério por vários anos e, mesmo depois do nascimento dos filhos, ainda trabalhavam, mas não mais viajando para pregar e sim na igreja local.

Enfim Sophia tinha acabado o ensino médio e poderia começar a estudar na base missionária, se preparando para iniciar seu ministério.

— Animada é pouco! — Só faltou dar pulinhos de alegria. — Mas estou um pouquinho nervosa com as mudanças, conviver com gente nova, rotina diferente e ainda numa cidade nova!

— Relaxa, vai dar tudo certo, Deus vai estar sempre com você, amiga — Leti encorajou.

— Isso mesmo — Fabi reforçou. — Deus chama e Ele mesmo capacita.

— Bem, já que vocês já disseram tudo — dei uma risadinha —, só tenho a acrescentar que Salvador é uma cidade linda, vai gostar, Soph.

Continuamos conversando sobre o futuro, até chegar nossa vez de usar o banheiro. Logo depois tomamos um café rápido já que voltaríamos para nossas casas em poucas horas e ainda tínhamos coisas para arrumar.

Estava no quarto, tão concentrada em terminar de guardar os poucos pertences ainda largados fora da mala, que só percebi o envelope sobre o travesseiro quando Leti me apontou, segurando um igualzinho em suas mãos. O abri e tirei o papel contido no seu interior. 

"Salmos 139: 7-10

"Para onde me ausentarei do teu Espírito?
Para onde fugirei da tua face?
Se subo aos céus, lá estás;
se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também;
se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares,
ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá."

{Lembre-se: Deus sempre vê você.}"

Sorri, os olhos ardendo pelas lágrimas e o coração quente pela lembrança de que Deus estava sempre com Seus olhos em mim, me guiando, aonde quer que eu andasse. Não importava quantas mudanças ocorressem na minha vida, ou a que lugar o Senhor me levasse, eu O tinha comigo e isso era tudo que precisava.