Finalmente chegamos à quase-cachoeira, foi assim que minha mente a descreveu, já que parecia pequena demais para ganhar o título de cachoeira. Logo todos estavam se refrescando no lago que ficava represado embaixo da queda d'água.
Eu preferi ficar sentada à sombra de uma árvore, escrevendo alguns pensamentos no pequeno caderno que havia trazido na mochila. Entretanto, alguém se sentou ao meu lado do nada. Pulei de susto.
— Misericórdia, Sophia! — Fechei o caderno rapidamente.
— Não gosta de água? — Apertou o comprimento do cabelo, fazendo uma poça no chão.
— Gosto, mas preferi descansar um pouco, acho que não estou em dia com o exercício físico — brinquei.
— Tu estava escrevendo alguma coisa aí… É um diário? — Sophia espiou o caderno que eu segurava firme.
— Não é nada demais. — Dei de ombros.
— Ah, qual é? Deixa eu ver. — Ela juntou as mãos debaixo do rosto e tentou fazer uma carinha fofa.
— Nem tenta essa cara de cachorro pidão. — Dei risada e ela deixou o corpo cair para trás, se esticando sobre a grama de forma dramática. — Tu tem dezessete anos mesmo? Parece uma criança fazendo birra.
— É curiosidade! Você é meio misteriosa. — Se reergueu.
— Misteriosa? Só que não. — Balancei a cabeça sem dar crédito à sua afirmação.
— Tudo bem, estou exagerando, mas eu ainda quero saber o que fez tu trocar um banho nesse calor de verão baiano pela escrita. Se não é um diário, bem, poesia talvez?
— Não mesmo. — Sorri fingindo superioridade. — Nem tenta adivinhar.
— Que menina má, vai deixar sua amiga aqui se roendo de curiosidade? — Arqueou uma sobrancelha.
— Já deixei. — Levantei irredutível e guardei o caderno na minha mochila. — Vou confiar que não vai espiar minhas coisas.
— Minha curiosidade não é do nível de fazer loucuras. Não tem outro jeito, vou esperar você me contar. — Elevou os ombros.
— Esquece isso e vamos nos juntar ao pessoal, minha cota de descanso e resistência ao calor acabou. — Agarrei seu pulso e a puxei para cima, fazendo a garota se levantar.
Cedendo, Soph me seguiu até onde os outros estavam. Passamos o resto da manhã nos refrescando na água, até o horário do almoço chegar e a fome nos fazer voltar para o refúgio — o que poderia ser o nome de qualquer lugar que tivesse comida, dado o nada sutil ronco misturado aos sons da mata.
***
— Me passa a escova de cabelo, Soph! — Fabi pediu enquanto fechava os botões da blusa.
— Toma! — Sophia terminou de pentear o cabelo e jogou a escova para a amiga, que por pouco não a deixava cair no chão.
Estávamos no quarto das duas, o qual se encontrava uma bagunça, nos arrumando para visitar a cidade — bom, parecia mais um vilarejo pelo que falaram.
Como eu já tinha terminado, estava sentada na cama de Soph lendo um livro que a própria havia me emprestado. Ela disse que a leitura foi uma bênção para sua vida e já havia feito todas as amigas lerem, então era minha vez.
— Tinie, tu viu minha saia jeans? — Letícia perguntou, se materializando na minha frente.
Olhei rapidamente pelo caos do quarto e apontei para uma peça caída embaixo da cama. A garota me agradeceu e recolheu a saía se perguntando como ela podia ter ido parar ali. Se minha mãe visse o estado daquele lugar teria um treco.
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Tinie e o retiro de verão (LIVRO 1)
SpiritualVocê já teve medo? Clementine tem 15 anos e sente isso com frequência, principalmente depois de se mudar com os pais para Serra Brilhante - BA. Tudo piora quando sua mãe faz o favor de mandá-la ao retiro de verão da nova igreja - onde ela não conh...