9 | Livre do medo

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O dia de domingo começou com um som irritante tocando alto no meu ouvido. Rolei na cama tateando o celular para o desligar e voltar ao mundo dos sonhos, mas não encontrei o bendito aparelho.

Abri os olhos com dificuldade e, apoiando o peso do corpo nos cotovelos, examinei o quarto vazio. Parecia que minhas colegas tinham acordado bem cedo naquele dia.

O despertador continuou seu barulho lembrando que ainda não havia o encontrado. Já mais desperta, consegui identificar que o som vinha de debaixo do travesseiro.

Segurei o celular e meu dedo estava pronto para deslizar sobre a tela quando vi o horário que brilhava ali.

— Oito e quarenta?! — Não consegui evitar o grito ao perceber que estava muito atrasada. — Mas como eu...

A frase morreu nos meus lábios quando me lembrei vagamente de um barulhinho chato perturbando meu doce sonho e de uma versão sonolenta de mim deslizando o botão de soneca algumas — muitas — vezes.

Pulei da cama sem o auxílio dos degraus da beliche, troquei de roupa rápido e dei uma olhada nos meus cabelos bagunçados tomando um leve susto. Peguei uma xuxinha qualquer e amarrei o que parecia uma juba.

Ao sair do quarto pude ouvir ao longe o barulho de vozes denunciando que os outros já estavam tomando café.

Corri ao banheiro para fazer minhas necessidades matinais e depois iniciei o percurso até o refeitório na cara e na coragem.

Meus olhos correram o lugar e logo encontraram Letícia e minhas outras amigas sentadas em uma das mesas junto com algumas pessoas. Cumprimentei o pessoal com um bom dia envergonhado e em seguida me direcionei a uma pessoa em específico.

— Obrigada por me acordar, Leti. — Apoiei os braços na cadeira, fazendo a menina se assustar.

— Ei — virou o corpo para me ver —, não tive culpa! Tentei te acordar, mas depois dos murmúrios e dos chutes que precisei me desviar, achei melhor desistir.

— Chutes? Que exagero! — Estreitei os olhos e ela arqueou uma sobrancelha, dando a entender que falava sério. — Bom, não tenho muito controle quando estou dormindo, foi mal.

— Acho bom a bela-adormecida-ninja ir tomar café antes que o culto comece. — Piscou, me fazendo revirar os olhos enquanto ouvia as risadas dos integrantes da mesa.

Deixei o grupo de lado e fui me servir. A primeira refeição do dia não era o meu forte, então peguei apenas um pedaço de bolo e uma boa xícara de café e fui para a única mesa vazia, já que não haviam mais lugares na das meninas e a última coisa que desejava era sentar com desconhecidos quando estava lindamente atrasada.

Levantei da cama tão apressada que esqueci até de orar. Aproveitando que estava só, fechei meus olhos e agradeci a Deus pela refeição e pelo novo dia.

Ainda quando me encontrava concentrada em falar com o Senhor, ouvi o som de alguém sentando ao meu lado, mas só quando terminei a oração que descobri quem era.

— Gustavo? — Seu nome escapou da minha boca em um tom surpreso.

— Eu. — Sorriu, me deixando meio embasbacada. — As meninas te abandonaram?

— Ah, é que não tem lugar na mesa delas, aí vim pra cá. — Recobrei o foco.

— Eu já terminei meu café, mas posso ficar por aqui. Sabe, não é muito legal ficar isolada, ainda mais sendo a novata. Tudo bem pra você?

— Claro, obrigada. — Esbocei um sorriso, desviando os olhos para a xícara em minhas mãos.

Queria entender porque ficava tão esquisita perto dele, uma sensação estranha percorria minha barriga e meu cérebro ficava totalmente alerta, esperando por alguma coisa desconhecida por mim.

Tinie e o retiro de verão (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora