8 | Mergulho

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Os cachos negros do cabelo de Gustavo cintilavam com a luz da lanterna que ele segurava, enquanto colocava os pequenos potes de tinta na mesa.

Era madrugada e estávamos reunidos no refeitório, prontos para colocar o plano em ação.

— Trouxeram a parte de vocês? — ele perguntou, apontando com a lanterna para as minhas amigas, para nossas companheiras de quarto, que acabaram entrando na bagunça também, e para mim.

— Tudo aqui. — Tirei os batons, especialmente vermelhos e rosas, dos bolsos da minha bermuda e coloquei na mesa, ao lado das tintas coloridas.

— Beleza! Passos silenciosos, entendido, pessoal? — Sophia pegou um tubo de batom aleatório na mesa e sorriu para nós. — Vamos lá.

Seguimos "armados" primeiro para os quartos dos meninos e fomos de cama em cama fazendo vários riscos aleatórios nos rostos das nossas vítimas.

— Pinta o nariz dele — Fabi sussurrou ao meu lado e eu obedeci fazendo um círculo vermelho no nariz do pobre coitado do Paulo, o líder dos jovens. Ele ficaria uma fera ao acordar? Provavelmente.

Depois que colorimos o rosto de todos os garotos, seguimos para os quartos das meninas.

— Me sinto como uma traidora — Leti disse, depois de fazer um bigode de batom rosa no rosto de uma das amigas.

— É só uma brincadeira saudável. — Completei a obra de arte com um cavanhaque vermelho na menina. Levei a mão à boca a fim de conter o riso ao observar os rostos das outras moças, que dormiam tranquilamente. — Talvez não tão saudável assim.

— Não quero nem ver elas acordando amanhã de manhã. — Leti deu uma risadinha abafada.

— Terminamos, gente. Vamos logo. — Sophia apareceu na porta do quarto em que estávamos.

Seguimos a passos lentos de volta para o refeitório.

— Amanhã de manhã vai ser uma bagunça! — Um dos garotos riu e o acompanhamos, imaginando a reação das meninas e meninos.

— Certo, é melhor irmos dormir antes que alguém acorde e nosso plano vá por água abaixo — Letícia nos apressou com o nervosismo falando mais alto.

— Podem ir, eu vou beber um copo de água e já encontro vocês. — Olhei para as garotas e elas concordaram, menos Sophia.

— Eu te acompanho. — Sorriu e enlaçou seu braço no meu.

— Também vou acompanhar as senhoritas, vai que apareça um bicho e vocês façam o maior escândalo. — Gustavo sorriu de lado e a irmã revirou os olhos na mesma hora.

— Eu sei me virar com os bichinhos. — Soph elevou o queixo como uma verdadeira aventureira.

— Bom, essa qualidade eu não tenho, então aceito a companhia — confessei e minha amiga riu.

— Então são dois votos contra um. Já encontro vocês — Gustavo se dirigiu aos meninos e depois passou o braço pelos ombros da irmã, a provocando.

Seguimos para a cozinha e nos servimos de água, a qual caiu super bem depois da nossa aventura noturna naquela noite quente.

Já estávamos de saída quando acabei esbarrando em uma vasilha de talheres, a qual caiu no chão, fazendo um estrondo. Engoli em seco e os irmãos viraram para mim em sincronia.

— Estamos fritos — Sophia foi a primeira a falar.

— Calma, podem ir embora, eu arrumo isso e levo a bronca, a culpa foi minha mesmo. — Abaixei para recolher os talheres e enquanto fazia isso levantei os olhos para a dupla ainda parada. — Vão logo!

— Não vamos te deixar aqui — Gustavo afirmou o que os dois pareciam concordar. — Estamos juntos até quando o plano dá errado.

Os dois se abaixaram e começaram a me ajudar, acabei sorrindo com aquele pequeno gesto de amizade.

Logo ouvimos passos se aproximando, era Paulo e parecia bastante bravo. Levantei com a vasilha em mãos e nós três nos entreolhamos. Pude ver por cima do ombro do homem que acabamos acordando a casa inteira, nossos amigos e cúmplices estavam lá atrás, indecisos se riam ou ficavam preocupados, enquanto as vítimas balançavam a cabeça em reprovação ao mesmo tempo que limpavam os rostos manchados.

— Eu nem vou perguntar o que vocês estão fazendo aqui. — Paulo cruzou os braços e nos encarou. — Acredito que os rostos limpos e mãos sujas respondem por vocês.

Rimos fracamente, envergonhados por termos sido descobertos.

— Desculpa — pedimos, abaixando a cabeça, mas eu estava achando aquilo muito engraçado. Por dentro, é claro.

— Acho que vou ter que puni-los, o que acham, pessoal? — Ele virou para o bando de jovens com os rostos manchados de batom e tinta.

— Sim! — a multidão bradou e eu me senti em um tribunal recebendo uma sentença.

— Já até imagino o que seja… — Gustavo cochichou para nós duas. — Mergulho.

— Aqui não tem piscina — constatei o óbvio.

— Mas tem lago — Sophia rebateu.

É, eles estavam certos.

Nós três nos encontrávamos na beira do pequeno lago nas redondezas da casa, a lua brilhava alta no céu, mas não fazia frio, era uma perfeita noite de verão.

— Algum de vocês tem imunidade baixa? Mesmo com o calor, essa água deve estar bem geladinha — uma das meninas comentou e Paulo deixou a sensatez falar mais alto do que a vontade de nos punir, reforçando a pergunta.

— Eu e o Gusta estamos bem — Soph respondeu.

Eu acabei ficando meio distraída, enquanto encarava a água quieta, o reflexo da lua era simplesmente lindo.

— E você, Tinie, tudo bem?

Me virei para Gusta. Eu tinha escutado direito ou estava hipnotizada pela lua? Ele havia mesmo me chamado de Tinie? Não lembrava de ter dito meu apelido a ele.

— Hunrum, vamos lá. — Dei de ombros, sentindo um frio extra na barriga.

Gustavo foi primeiro e, dando alguns passos para ultrapassar a margem escorregadia, estendeu a mão, ajudando a irmã a entrar e em seguida a mim. Senti um leve calafrio quando nossos dedos se tocaram, e um formigamento continuou lá quando ficamos em pé no meio do lago, observando nossa platéia comemorar.

— Ai meu Deus. — Senti uma coisa passar pelo meu tornozelo. — Tem bichos aqui?

— Só peixinhos inofensivos — Paulo me tranquilizou.

"Menos mal."

— Mergulhem! — a platéia gritou em coro.

A água batia apenas até a minha cintura, mas já me fazia tremer.

— No três — Gustavo disse olhando para nós duas. — Um, dois, três!

Fomos submersos pela água por apenas alguns segundos, porém eu senti uma sensação de paz instantânea, como se pudesse ouvir apenas as batidas do meu coração acelerado e a alegria proporcionada por aquela noite memorável. Doida, contudo memorável.

— Uou! — exclamei ao voltar à superfície. 

Acabei dando de cara com um Gustavo cheio de mechas negras espalhadas pela testa e que sorria para mim.

— Não imaginava que o plano dar errado fosse tão legal — sua irmã se juntou a nós e comentou rindo, enquanto jogava o cabelo molhado para trás, fiz o mesmo com meus cachos soltos.

— Nem eu! — concordei animada.

Nos últimos tempos, fugir dos planos iniciais estava sendo surpreendentemente bom.

❁❥❁

Deu tudo errado, mas deu tudo certo hehe

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Tinie e o retiro de verão (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora