Acordei com o barulho de várias vozes femininas no quarto e despertei do sono a muito custo, sentando na cama enquanto coçava os olhos e encarava o nada, tentando me situar em órbita.
— Bom dia, bela adormecida. — Minha companheira de beliche apoiou os braços no meu colchão. — Teu rosto tá bem amassado.
— Não me surpreende, tô morrendo de sono ainda! — resmunguei descendo da cama preguiçosamente. — Cadê as outras?
Acabamos descobrindo na noite anterior que as duas garotas que estavam no quarto conosco eram irmãs, Talia, de dezessete anos, e Juliane, de quatorze. As meninas eram bem simpáticas, o que me fez assumir que mainha estava certa, não era tão ruim assim.
— Já foram pra fila do banheiro, eu disse que ia ficar te esperando e aproveitei pra ligar pro meu pai — informou.
Um fato sobre a Letícia: Ela era uma companheira das boas. Aquele tipo de pessoa que seria bom ter por perto, sabe? Parecia sempre pronta a ser amigável e isso, de certa forma, me constrangia.
Peguei minha escova e pasta de dentes e a segui. Quando chegamos ao banheiro feminino já havia bastante gente na fila, o que foi bem frustrante.
— O culto de abertura ontem foi maravilhoso, não é? — Letícia puxou assunto enquanto esperávamos na fila.
— É, foi sim — concordei, pensando se lhe contava o que havia aprendido.
Na noite anterior o assunto da pregação foi estar atento às oportunidades que Deus nos dá de crescer e eu senti realmente que Ele estava falando comigo. Toda aquela situação de mudança, gente nova e possibilidades desconhecidas vinha me assombrando e meio que paralisando também.
E se Deus quisesse que eu estivesse ali? Bom, ele governava minha vida e o mundo. Era eu que precisava me adequar aos planos dEle e os ver como o melhor. Mas havia uma distância de muitos metros entre saber e viver isso.
— Vou te confessar que apanhei que só! — Letícia disse num tom engraçado, ganhando minha atenção outra vez. — Apesar de doer, essas repreensões do Pai são uma benção.
Refleti nas palavras dela e no modo natural com que compartilhava seus pensamentos comigo. Eu era tão resistente, já Leti — e as outras meninas — tinham me acolhido sem reservas. A moça falou bastante sobre si durante uma conversa que tivemos com as nossas colegas de quarto na noite anterior, do mesmo modo que Talia e Juliane também se abriram. Todas com leveza e dispostas a ser elas mesmas. Enquanto eu fugia para a segurança do silêncio.
Aproveitar as oportunidades para crescer — remoí, encarando meus chinelos.
Tomei uma dose de coragem bem grande e levantei o rosto.
— Nessas últimas semanas eu tenho estado meio inconstante, entende? — Suspirei e o olhar atento da moça foi encorajador. — Tenho me sentido tão longe de Deus, tão frustrada com as mudanças repentinas.
— Mudanças são complicadas mesmo, Tinie, mas essa pode ser muito boa, não acha? Lembra que Deus está com você por onde for e que quer cumprir o plano dEle na sua vida.
— É, acho que o Senhor puxou minha orelha durante a pregação de ontem, me dizendo exatamente para glorificá-Lo onde estiver. — Abri um pequeno sorriso.
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Tinie e o retiro de verão (LIVRO 1)
SpiritualVocê já teve medo? Clementine tem 15 anos e sente isso com frequência, principalmente depois de se mudar com os pais para Serra Brilhante - BA. Tudo piora quando sua mãe faz o favor de mandá-la ao retiro de verão da nova igreja - onde ela não conh...