4 | Um clube promissor

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A manhã foi agitada. Acordamos um pouco mais tarde, dado o cansaço da viagem, e após tomarmos café — o qual eu desfrutei, obviamente de modo intencional, na cozinha, já que tive a sorte de esbarrar com Soraia e pude me oferecer para ajudar com a organização das comidas —, passamos para o devocional e depois a gincana.

Tentei dar meu máximo para não parecer um bicho do mato e interagir pelo menos um pouco. Diria que tive sucesso, mas não sou uma narradora confiável quando se diz respeito aos perrengues de estar rodeada de desconhecidos. Era tão estranho! Parecia que eu era uma intrusa, todo mundo tinha seus grupos formados e me sentia sobrando.

Essa sensação de solidão já havia feito morada em meu coração, tanto que quando as brincadeiras terminaram a única coisa que desejava era minha cama e um livro. Isso sim era um bom plano!

Com o humor um pouco melhor, graças à expectativa de mergulhar em universos paralelos, cruzei o jardim e cheguei a área dos dormitórios. 

Me afundei no colchão e abri o livro, sentindo o acalento que as histórias sempre me davam. Meu pai havia me inserido naquele mundo. Quando pequena, a hora de dormir ganhava um brilho único pela esperança de ouvir meu narrador favorito — vocês o conhecem como Seu Ricardo — ler até que o sono me levasse para terras de princesas, fadas e bichinhos falantes. 

Quando cresci, papai não deixou meu hábito de leitura morrer e sempre me presenteava com mais livros, até se tornar meu pedido em cada data comemorativa. Ficção científica, distopia e fantasia tinham um espaço no meu coração, e se os princípios cristãos estivessem neles, as chances de virarem meus queridinhos iam até a lua.

Sorri meio boba quando cheguei bem na parte que o casal deu as mãos pela primeira vez, no meio de uma floresta repleta de cristais fluorescentes. É, o toque de romance também me fisgava. 

Estava imersa na história que nem percebi a entrada das meninas, só quando dois olhos claros se esbugalharam ao lado do colchão, me fazendo derrubar o livro sobre o piso de tanto susto.

— Era uma história de terror? — Letícia brincou enquanto as três riam da minha cena.

— Não — respondi seca, chateada por estarem rindo de mim.

A garota se abaixou e pegou o exemplar, examinando a capa e abrindo um sorriso de orelha a orelha.

— Uau! Eu amo esse livro! — Deu alguns pulinhos.

Okay, abrindo espaço para a Tinie-leitora entrar.

— Você já leu? — Era uma pergunta idiota, mas fiz mesmo assim.

— Se ela leu? A Leti simplesmente é doida por essa história, ninguém aguentou essa criatura na época que leu, e ainda fez a gente ler na marra. — Sophia se sentou na cama da frente.

— O que eu posso fazer? — Ela deu de ombros, as bochechas rosadas pela empolgação. — O enredo é lindo e os personagens apaixonantes, especialmente o mocinho. Ai, minha lista de crushs literários está no teto, mas ele ganhou um espacinho só dele.

Eu ri com gosto daquela informação, me pegando de surpresa por me sentir a vontade com as garotas, pela primeira vez.

— Enfim, quando tu terminar de ler me fala, viu? Vamos papear muito sobre ele. Ele, o livro, no caso. — Um meio sorriso repuxou seus lábios. 

— Pode deixar!

— A gente tava indo pra um cantinho super fofo que achamos por aqui — Fabiana comentou, ganhando minha atenção. — É aquela parte cheia de árvores que vimos nas fotos, lembra? 

— Sim, era muito bonito. 

— Quer vir?

Pensei um pouco. A leitura estava tão boa e era tão mais segura do que sair com três garotas que mal conhecia. Antes que eu pudesse ceder à fuga, a voz do meu pai encheu meus pensamentos. 

Tinie e o retiro de verão (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora